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quarta, 24 de abril de 2024

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ARTE CONTEMPORÂNEA : Pelotense selecionada para projeto no México

15 março
09:01 2018

Entre 12 e 22 de abril, pelotense estará realizando residência artística no México. Ela divulga “vaquinha” para recursos

Por Carlos Cogoy

Egressa da UFPel, Priscila Costa Oliveira é mestranda em artes visuais na Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC). Sua pesquisa é sobre as residências artísticas na América Latina, abordando as contribuições para o pensamento artístico contemporâneo, bem como a construção do conhecimento e seu papel social. Ano passado, ela participou da “Residência Multigrapahias”, vinculada à Universidade de Integração da América Latina. Em Lincoln na Argentina, participou de residência comunitária, onde desenvolveu práticas artísticas relacionadas à comunidade e processos sociais. Neste ano, já esteve numa “imersão” na ecovila Terra Una em Minas Gerais. Também está selecionada para a Residência Internacional de Arte Contemporânea “Afecto Societal”, que será em Guanajuato no México. O deslocamento está previsto para 10 de abril, mas a artista não dispõe de recursos suficientes para custos básicos. Ela então lançou “vaquinha”, para arrecadar apoio. Sua estimativa é que consiga reunir R$2.500,00. Para colaborar: Banco do Brasil, agência: 3185-2; conta corrente: 37636-1.

Priscila cria monumento durante residência na Argentina ano passado

Priscila cria monumento durante residência na Argentina ano passado

CAMPANHA – Priscila salienta: “Infelizmente, tempo e dinheiro são sempre questões limitadoras para os artistas que não vem de uma classe econômica privilegiada. Sou estudante, mãe, pago aluguel, fraldas, e muitas vezes pagamos para fazer arte. No Brasil, ainda é muito difícil viver de arte, e os financiamentos estão constantemente sendo reduzidos. O que dificulta o acesso da população pobre à cultura. Não querendo aceitar essa condição como limitante das minhas práticas artísticas, estou fazendo uma vaquinha ‘online’, onde busco fundos para meu deslocamento do Brasil ao México, assim como, para outras demandas como passaporte, alimentação, e instrumentos de trabalho etc. Pois, acredito nas redes de colaboração em todos os níveis da nossa vida. Como forma de retribuição a pessoas que ajudarem, e entrarem em contato comigo, vou eleger alguns trabalhos, tipo desenhos, fotos, objetos, rascunhos e escritos, realizados no México, que serão entregues a elas como agradecimento. Peço que ajudem com qualquer valor na conta”.

ARTE – Priscila explica: “A arte possibilita um diálogo com seu entorno, cria situações que podem se tornar desafiantes tanto para o artista quanto para o público e, algumas vezes, os materiais utilizados na própria composição propõem uma reflexão sobre seu significado. A investigação em arte contemporânea na minha cena local, pode se converter em possibilidades e outras maneiras de viver e habitar. Estar em contato com o ‘outro’ e propondo situações de interlocuções, autonomia e cuidado entre os envolvidos, gerando através da arte contemporânea relacionamentos sociais, amizades, e até decisões políticas. Podendo assim, contribuir com mudanças na organização social, utilizando a prática artística como ferramenta de conhecimento”.

       Moradores ajudaram a criar monumento em praça pública

Moradores ajudaram a criar monumento em praça pública

Fracasso do transporte ferroviário inspirou obra na Argentina

Selecionada para a localidade de Pasteur na Argentina, Priscila realizou residência de produção artística. Ela conta que se inseriu no cotidiano da comunidade, conhecendo a realidade das mães. A convivência gerou a série “Na Terra do Nunca”. Trata-se de “foto-colagens” com as mães das crianças em espaços cotidianos. Porém, as faces são trocadas por imagens masculinas de revistas antigas. Através de “ficção”, o trabalho questiona a mulher como serviçal. “Na Terra do Nunca tira os homens de uma posição de poder e opressão, colocando-os no trabalho de cuidado, problematizando a parentalidade no contexto contemporâneo”, diz ela. A série está em exposição em Florianópolis. Como local, Madre Pérola no Museu de Imagem e Som, e na “Coisas do Gênero” no Espaço Cultural Armazém.

MONUMENTO do povo de Pasteur foi criado por Priscila e moradores. Ela recorda: “Construí na praça pública um monumento de ferro, material abundante e escondido pela cidade, pois destacam os destroços do fracasso do transporte ferroviário. O ‘Monumento do povo de Pasteur’ foi construído por eles mesmos através de um convite, onde os vizinhos levaram seus pedaços de ferros descartados e, juntamente com as crianças, professoras e outros moradores, montamos o monumento de ferro do povo para o povo. Fizemos a inauguração do Monumento de Ferro do Povo de Pasteur, e foram vários vizinhos e a mídia da localidade. Projetamos o processo de construção do monumento na parede da Estação Férrea. O monumento foi doado pela Secretaria de Cultura e Educação de Lincoln para Pasteur, e hoje ele é um monumento permanente.

O povo pode continuar a acrescentar ferros, ou seja, o monumento  pode  estar  em  constante  mutação.  Há  também  uma  planta  com  flores  no monumento,  e  ela  precisa  ser  regada,  o  que  mantém  os  vizinhos  interagindo  com  o monumento.  Para  mim  foi  uma  experiência  incrível.  Provou  para  mim  mesma  que cooperatividade  é  o  mais  importante.  Que  quando  trabalhamos  juntos  temos  melhores resultados. E nada mais significativo do que um monumento construído pelo povo, com as mãos de muitas crianças. Espero que o monumento continue a lembrar ao povo de Pasteur, que beleza é uma questão de ponto de vista e que o trabalho coletivo traz bons resultados.  Foi uma experiência  incrível   participar dessa residência pois, ao retornar, estava completamente transformada”.

IR E VIR – A artista relata sobre experiência curiosa no interior da Argentina: “Também ajudei no controle da polícia ao instalar alarmes, que detectem todos os movimentos sociais, incluindo inofensivos. Foi um trabalho sonoro. Coloquei alarmes na rua da polícia para que, quando um morador passasse,  eles  ficassem  sabendo  que  havia  alguém  caminhando  ali. Isto, porque fui detida na localidade pelo simples fato de estar caminhando. Lá não se caminha sem a polícia saber o motivo pelo qual se está caminhando. Foi uma maneira irônica de responder aquela situação de controle e privação da liberdade do ir e vir”.

PELOTAS – Priscila anualmente tem apresentado projetos em Pelotas. Ano passado, ela trouxe o “Sentar à porta”, onde parava para conversar com moradores nos bairros. Em 2016, na Bibliotheca Pública, proporcionou a coletiva internacional “Contra Fogos: resistência à invasão neoliberal”. Em 2018, a ideia é promover encontros do “Programa La Grupa”, e realizar a exposição “Ordinárias Errantes”, da qual é curadora.

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