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quinta, 25 de abril de 2024

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CORINGA : O elogio à indiferença

CORINGA  : O elogio à indiferença
15 outubro
08:35 2019

Segue a exibição de “Coringa” em sessões no Cineflix

Por Carlos Cogoy

Jogo de espelhos cujas faces alternam-se entre o amargor do riso descontrolado, e a melancolia de uma fisionomia rejeitada. Imagens que contrapõem os maus tratos na infância, e a fagulha de esperança que emana da irrealidade dos programas de tevê. Contrastes entre a urgência do apelo por afeto, e o descaso com políticas públicas de atenção à saúde mental.  Reflexos de uma elite que menospreza e humilha, e a maioria que explode aos gritos de “somos palhaços, matem os ricos”. Alguns rastros deixados pelos pés ensanguentados de Arthur “Joker” Fleck, ou “Happy” como sugeria sua mãe Penny Fleck. Personagens do filme “Coringa” (2019), que tem direção de Todd Phillips, e pode ser assistido nas salas do Cineflix do Shopping Pelotas. Sessões dubladas às 14h30min, 19h30min e 22h15min. Já as sessões legendadas às 17h, 19h45min e 22h.

Atormentado Arthur Fleck é interpretado por Joaquin Phoenix

Atormentado Arthur Fleck é interpretado por Joaquin Phoenix

INDIFERENÇA – Teia complexa de circunstâncias e referências, tem provocado diferentes reações acerca de “Coringa” – ganhador do Leão de Ouro no Festival de Veneza. Distopia, fascista ou pós-moderno, são algumas das atribuições da crítica. Para ser considerado apenas distópico, teria de ser interpretado por conta de fragmentos, ou seja, considerando a violenta rebelião de palhaços como sentença inescapável. Para ser entendido como fascista, teria de ser reduzido ao clamor de uma inusitada liderança armada – o personagem Fleck ganha arma de um colega, o que será determinante na eclosão de violência -, movida pela personalidade arrasada. Para ser apenas pós-moderno, teria de ser visto como elogio à solidão, num contexto modelado pela grande mídia, impelindo ao narcisismo. Mas o “Coringa”, personagem magistralmente interpretado pelo ator Joaquin Phoenix, reitera que não é “político”. Acaba sendo, assim como acontece com todos que se arvoram pretensamente neutros ou indiferentes. E o filme, elogiando a indiferença, apresenta-se tanto ambíguo, como essencialmente provocador. Fleck sofre com a indiferença que remonta à memória infantil, com a superficialidade dos colegas num trabalho detestável, o desdém do chefe, a negligência do governo que opta por cortar o serviço público que o orienta, o sarcasmo do apresentador de tevê que o ridiculariza. Essa indiferença crescerá no seu tormento, e colocará uma nova face, uma máscara que apenas sorri, seja por conta do distúrbio neurológico que não domina, seja como reação ao corpo que cai em consequência de sua vingança enfurecida e insana.

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