Diário da Manhã

quinta, 18 de abril de 2024

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DANÇA AFRO: Apresentação do espetáculo “Rio de Sangue”

20 novembro
17:55 2014

Nesta sexta-feira às 19h, Cia. de Dança Afro Daniel Amaro no auditório do bloco 2 do Centro de Artes da UFPel

Por Carlos Cogoy

Dança afro integra programação comemorativa aos 45 anos da UFPel CRÉDITO: Arquivo

Dança afro integra programação comemorativa aos 45 anos da UFPel
CRÉDITO:
Arquivo

Nesta semana houve apresentações na Fundação Cultural de Curitiba. No domingo às 20h30min, grupo pelotense estará exibindo o espetáculo na Casa Cultural Tony Petzhold em Porto Alegre. Na agenda que valoriza a dança pelotense, nesta sexta acontecerá apresentação comemorativa aos 45 anos da UFPel. E a Cia. de Dança Afro Daniel Amaro estará na nova unidade do Centro de Artes, inaugurada neste semestre à rua Álvaro Chaves  65.

SABERES – Além do calendário de apresentações, coreógrafo Daniel Amaro também tem compartilhado sua experiência através de workshops. Assim, saberes da dança afro contemporânea, foram ministrados em Curitiba e também serão proporcionados domingo em programação às 16h na capital gaúcha. Amaro ainda menciona que, no início deste mês, foi realizado ensaio aberto no auditório do IFSul. O exercício integrou a “Semana do Lixo Zero” na cidade.

EQUIPE de intérpretes e bailarinos: Michael Duarte; Jéssica Figueira; Jaúna Mattos; Mirela Fernandes; Patrick G. SiLvah; Lúh Nogueira e Ayel Beles. A percussão é de Cleber Uilson Vieira. Na trilha sonora do espetáculo: “Homenagem ao índio”, gravação de Djalma Corrêa; “Lamento” com Cyro Baptista; “Agô” – Cantos Sagrados do Brasil e Cuba; “Dança” com Chico César; “African Donkey” com Afro Anatolian Tales; “Ritmos da Bahia”, Baiafro e Dave Pike Set. Figurino de Vania Viana, confecção de figurino a cargo de Patrícia Garcez. Fotos de divulgação são autoria de Neco Tavares. Edição de imagens a cargo de Roger Terres. Na contra-regragem, Elvis Beles. Como coreógrafos, além de Daniel, “Rio de Sangue” também conta com Mano Amaro, talento pelotense radicado na Bélgica. A direção artística é de Daniel Amaro.

MEMÓRIA – “Rio de Sangue baseia-se na história do negro no Rio Grande do Sul, à época denominada Província de São Pedro, e mais precisamente em Pelotas, local onde foi próspera a cultura do charque, construída de forma extraordinária por escravos trazidos ao final do século 18. Os negros contribuíram de forma decisiva para o enriquecimento histórico da região. No espetáculo, oferecemos uma análise da alma da cidade, enfocando o simbolismo do sal e do enxofre presentes na história da indústria do charque e nos tradicionais doces pelotenses. Sob o olhar negro daqueles que aqui nasceram e, através do movimento da dança afro, é que o grupo pretende recontar a história de uma Pelotas negra, feita não só do doce, mas também do sal”, informa Amaro.

PESQUISA do espetáculo tem como referências os autores: Mário Osório Magalhães; Roger Costa da Silva; Rose Mary Kerr de Barros. A montagem está dividida em quatro partes. Na primeira, os indígenas, primeiros habitantes. E o espetáculo abrange desde o cotidiano direcionado à caça e pesca, até o empenho dos jesuítas para a doutrinação. A catequese e os primeiros rebanhos alteraram a cultura nativa. Surgiram habitações do homem branco e as “Missões”.  Na segunda parte, primeiras charqueadas e Pelotas despontando como polo do segmento econômico. Para isso, porém, a mão-de-obra do trabalhador escravizado. A indústria saladeril foi a base para o crescimento urbano e demográfico.

MATANÇA – Tornou-se antológica a afirmação de Nicolau Dreys: “Uma charqueada bem administrada é uma penitenciária”. E Amaro acrescenta: “Sendo o sal a base estável da vida, encontramos nas charqueadas o princípio que fez com que a cidade começasse. Tudo inicia no sal, utilizando a salga para dar a partida. Com o sal vamos começar na terra, no chão, no corpo. Tão essencial quanto o sal para o nosso corpo físico, a cidade incorpora o sal à sua alma como a base estável de seu início. Sangue, suor e lágrimas são as grandes fontes de sal. A charqueada foi lugar de matança, de escravidão, onde havia sangue derramado na terra e nas águas do Arroio Pelotas. A charqueada não era um lugar agradável, mas foi a partir disso que toda a riqueza da cidade foi gerada. Nos intervalos da jornada diária, entre meia-noite e meio-dia, os negros encontravam nos batuques a sua identidade e desabafo”.

PADEIRO – Ainda na segunda parte, os “farroupilhas” e a traição que provocou o morticínio dos valentes “Lanceiros Negros”.  Outra referência do século 19, destacando-se como exemplo de luta por liberdade é Manoel Padeiro. O líder negro, cuja história dispõe de parcos registros, manteve-se itinerante pela região. Peleando para não ser capturado e humilhado pelo poder branco, muitas vezes tem sido comparado a Zumbi dos Palmares.

FRENTE NEGRA Pelotense nos anos trinta do século 20, destaca-se na terceira parte do espetáculo. Trata-se da mobilização social dos negros, integrando-se através de instituições como associações e os clubes: Depois da Chuva; Chove não molha; Fica Ahí pra ir dizendo; Está tudo certo; Quem ri de nós tem paixão.

ENXOFRE é metáfora para a quarta parte da montagem. Trata-se de questionamento à “cidade do doce”, que procura seu lugar na contemporaneidade mas reincide numa louvação saudosista e amarga. “Enxofre também está ligado à rápida combustão, aquilo que se incendeia de maneira intensa, aquilo que é quente e gorduroso. É o desejo pela vida presente nos quindins, pasteis de Santa Clara, queijadinhas e ninhos, representando a libido da alma pelotense que direciona para tudo aquilo que é esnobe importante, superior. Enxofre é Cristo e o diabo ao mesmo tempo, doador de calor e vida. O enxofre está diretamente ligado à compulsividade. A compulsividade, nesse caso, faz com que as iniciativas voltem ao passado. Parece que estamos mudando mas, compulsivamente, a alma da cidade continua ligada ao sal, voltamos ao período das charqueadas. Isso ocorre numa eterna repetição do tema, quando as iniciativas para efetuar a mudança, lançam-se na direção do período inicial. Pode-se pensar no doce também como aquilo que ficava na cozinha do sobrado, que era feito pelos escravos e que só ia à festa para a finalização. E a sobremesa era proporcionada pela riqueza decorrente do sal”, divulga a Cia. de Dança Afro.

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