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quarta, 24 de abril de 2024

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OPINIÃO : Heróis nunca foram tão necessários

OPINIÃO : Heróis nunca foram tão necessários
24 março
08:55 2014

Em que momento devemos ligar para a polícia? Qual o tipo de ocorrência nos indica tal procedimento? Como medir o risco? Como saber quando a suposição que carrega fortes indícios, já aponta a iminência de uma tragédia? A resposta é não sei para todas as perguntas, nós não sabemos, não fomos preparados para isso. Sabemos tomar a providência de correr, nos fechar em casa, pegar o telefone e discar para o 190.  O que ocorre a partir daí nós não sabemos, mas os criminosos sabem. Após sermos atendidos por alguém com o grau de interesse dos atendentes de telemarketing e registrar nossa queixa, recebemos a sugestão de fazer o que já tínhamos feito: fechar a casa e pedir socorro para algum vizinho. A polícia fragilizada, sucateada e sem viatura, também está sem homens para deslocar até o ponto do iminente crime. Justifica que, se deslocar os poucos que tem, deixa as áreas de maior risco desprotegidas. Quais são as áreas de maior risco? Alguém é capaz de dizer que atualmente existe alguma sem risco? Mesmo assim não deixem de ligar para o 190, nem que seja para ser estatística telefônica.

Meu texto até aqui pode parecer pessimista e paranóico, mas quem de vocês vê algum policial nas ruas após às 23 horas e que não seja em alguma festa ou evento da cidade? Meu texto parece paranóico, mas ele é desabafo, por não dormir à noite pelo excesso de barulho de arruaceiros, que em cada manhã nos surpreendem com mais um dano e depredação à rua.

Esse texto, mesmo em desabafo não dá conta da dor que certamente ainda sente um querido aluno espancado quase até a morte há poucos dias, quando voltava para casa após uma festa. Jovem brilhante, honesto, pacífico, tranquilo, foi vítima de desumanos em processo de animalidade, se bem que animais são menos cruéis quando se trata de seres de sua espécie.

Esse é um texto de quem semanalmente ouve um relato de assalto de seus alunos e que recebe a orientação para andar com um trocado no bolso e um celular velho para dar para o ladrão, do contrário nunca se sabe o que poderá acontecer. É um texto de quem já ouviu relatos dos vizinhos, que precisaram se deitar no chão no meio da madrugada com medo de bala perdida. Você policial talvez nem saiba disso, pois muitos de nós desistiram de ligar para o 190, e exatamente por isso, esse é um texto de quem ao entardecer precisa se trancar em casa e abdicar do chimarrão na calçada, da conversa com os amigos ou uma simples caminhada por estar em “estado de insegurança pública”. A cidade de Pelotas que sempre foi ótima para se andar a pé, sentar em frente de casa, está cada vez mais perigosa, cruel e desumana. Já que parece que estamos sozinhos, quem poderá fazer algo por nós?

Houve alguma mudança na forma de atuação ou estratégia da polícia militar para não os vermos mais pela rua? Os antigos postos de policiais que serviam como ilhas de segurança onde poderíamos pedir abrigo, ajuda, o que foi feito deles? O que vejo é que cortes bruscos ocorreram nessa área e novos investimentos não estão sendo feitos, mas ninguém fala disso, ninguém cobra isso. Por que você que está me lendo agora não fala nada? E o estado que tem a obrigação de oferecer segurança pública, o que faz sobre essa questão?

Já se comenta que parte do efetivo de Pelotas será deslocada para a capital para fortalecer a segurança dos turistas e dos jogos durante a Copa do Mundo. Como ficará o interior do estado durante um mês inteiro? Senhor governador, sua estratégia de segurança para inglês ver, talvez funcione na capital, mas tenha certeza que aqui no interior as estatísticas, desde já altas, garantirão que essa sua decisão entre na história como o governador para inglês ver, aquele que usa artifícios e crias falsas imagens. O governador que finge solucionar, mas que de fato não dá a mínima ao cidadão que o elegeu. Não foi assim também com a lei do piso salarial para os professores?

Não deveríamos ter policiais na frente de escolas, nas universidades e também viaturas circulando em áreas de bares onde é óbvio que toda a sorte de delitos e crimes ocorrerão? Caro policial sabemos que a situação é difícil e que a solução está longe de acontecer, mas sua presença junto a nós proporcionava tranquilidade.

Essa minha percepção sobre a insegurança pública, deve ter também – só que mais organizada – o criminoso, que além de saber que nada acontecerá devido ao grau de impunidade que paira no país, sabe que pode fazer o que bem entende que não encontrará dificuldades e muito menos policiais no caminho.

O que sei é que certamente uma inflação de novos heróis surgirão na ficção, para suprir nosso desejo de justiça na realidade ou talvez a impunidade e falta de segurança nos leve a justiça pelas nossas mãos, o que acarreta em aumento da violência e num problema ainda muito maior para a polícia. Isso infelizmente já ocorreu em vários momentos históricos onde o povo é vítima de um mau governo. Mas quem não deseja um super herói que prenda políticos corruptos? Acredito que esse seja o mais solicitado na imaginação. O mais requisitado nas ruas talvez seja o que pacificamente renda assaltantes ou então aquele mais ligado aos anjos, que permanece sempre vigilante numa torre alta enquanto nós, simples mortais, damos duro,  trabalhamos, estudamos, tentamos sobreviver. Heróis nunca foram tão necessários, mas como não existem, exerço hoje um pequeno gesto heróico, o de não me calar e gritar: por favor, façam o seu trabalho!!!!

 Helene Sacco

Professora Universitária da UFPel

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