FEIRA DA CARA PRETA: Debate afro-brasileiro questiona “farroupilhas”
Por Carlos Cogoy
Entre os dias 19 e 22 de setembro nas imediações do Mercado Público, Cooperarte e Bibliotheca Pública estarão promovendo a terceira edição da Feira da Cara Preta. Trata-se de contraponto à histeria “farroupilha”. O artista visual Jonas Fernando, idealizador e coordenador da iniciativa, divulga a programação. Na sexta, grafite com o talento de Beethoven Mendonça, sonoridade do DJ Vagner Borges – preside a Associação Hip Hop de Pelotas, e a música popular de Daniela Brizolara. No sábado às 15h, roda de conversa “Manuel Padeiro” com Cris Ávila. Às 15h30min, “Religiosidade e saúde da população negra” com Nara Louro. Com Régis, oficina “O drama como método de ensino”. Também acontecerá basquete de rua com Luan e Miguel, MPB com Rochele, e apresentação de “Terra de muitos chegares” com Tatá Núcleo de Dança/Teatro da UFPel. No domingo às 15h, roda de conversa “África/diáspora africana, Islan e negritude” com Nurein Haddad, Sher Jamal e Ali Jamal. Às 15h30min, “Desfragmentando a umbanda para a construção de saberes” com o pesquisador Rogério Nascimento. Show do Mister Pelé, dança e cover. Também Juliana DMX e Mr. Diones (Rio Grande). Na segunda às 15h, roda de conversa “A criança negra e a educação infantil” com Antonio Ricardo Correa Candiota. Arte com Kaffú e Mano Rick. Durante a Feira, participações dos Griôs Dilermando e Sirley Amaro.
HISTÓRIA – Organizadores divulgam: “O 20 de setembro é uma data controversa para o movimento negro. Se por um lado representou a possibilidade de construção de uma sociedade livre, por outro, seu desfecho foi concluído pelo conluio que levou ao massacre de Porongos. As comemorações que tomam lugar na Semana Farroupilha exaltam o heroísmo e bravura do povo gaúcho, mas reforçam os mecanismos que insistem em manter no esquecimento a participação da enorme população negra que tomou partido durante o conflito, pegou em armas, foi massacrada e jogada de volta ao sistema escravista sem respeito e dignidade alguma. Há uma fronteira bastante delimitada no que diz respeito a esse tema que privilegia e exalta a imagem do homem branco, tipicamente indumentarizado e identificado com os símbolos do Estado do Rio Grande do Sul. Está claro que o negro não tem espaço nesse cenário imaginário e construído. Ele permanece no lado marginal, lembrado, nesse episódio, apenas como personagem mítico, ‘O Lanceiro Negro’, e não o real, deixando de lado a discussão sobre sua participação e situação durante o período”.
ATIVIDADES
A 3ª Feira da Cara Preta está planejada para acontecer em dois espaços: a céu aberto, no beco entre a Bibliotheca e o HSBC; e interno, nas dependências da própria BPP. Nesses locais, bancas, oficinas, exposições e atividades culturais e esportivas estarão organizadas:
AÇÃO CULTURAL – promoção de espetáculos musicais, teatrais e de dança.
ARTESANATO – espaço destinado a exposição e comercialização de artigos manufaturados, como colares, bonecas, tapetes, brincos, colares, tiaras e pulseiras.
ARTISTAS NEGROS – exposição de artes visuais, esculturas, instalações e outras obras artísticas produzidas por artistas locais com temáticas diversas e em diferentes formatos.
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS – espaço destinado à contação de histórias, lendas e relatos memoriais, especialmente dedicado ao público infanto-juvenil.
ESCAMBO – atividades de trocas de bens poderão ser desenvolvidas dentro da Feira com a condução e supervisão dos organizadores.
ESPORTE – organização de práticas esportivas, como basquete de rua.
GASTRONOMIA – espaço para apresentação, introdução e comercialização de comidas típicas da cozinha africana, além de exposição de pilões e outros utensílios gastronômicos.
GRIÔS – mestre da comunidade negra que preservam a transmissão saberes de geração para geração através da tradição oral.
LITERATURA NEGRA – espaço com livros publicados sobre a temática afro e afro-brasileira, oferecidos e comercializados por livrarias, distribuidoras e editoras locais ou regionais.
MEMÓRIA NEGRA DE PELOTAS – exposição de documentos, jornais antigos (Alvorada), materiais sobre compra e venda de escravos, fundação de clubes sociais negros e outros que se mostrarem relevantes para a divulgação, debate e reavivamento da memória negra de Pelotas e região.
OFICINAS – atividades organizadas e sistematizadas que reúnem a promoção de algum saber de origem afro.
RELIGIOSIDADE – a Feira reserva espaço para a religiosidade de matriz africana.
VESTUÁRIO – espaço para apresentação, introdução e comercialização de têxteis influenciados pela moda africana, como roupas, calçados, batas e calças.