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sexta, 26 de abril de 2024

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SUCESSÃO MUNICIPAL : “Um governaço para o povo” reúne PDT e PP

SUCESSÃO MUNICIPAL : “Um governaço para o povo” reúne PDT e PP
17 agosto
09:58 2016

Mirando o terceiro mandato como prefeito, o vereador Anselmo Rodrigues afirma que se sentiu desafiado e não foge da luta

Por Carlos Cogoy

Nos anos oitenta, o médico de Santa Vitória do Palmar, profissional com atividade no Hospital da FAU e docente de clínica médica na UFPel, apresentou ao PDT em Pelotas a possibilidade de mil novos filiados. Anselmo Rodrigues pretendia concorrer a prefeito, o que causou estranheza e resistência no diretório municipal. A orientação é para que disputasse uma vaga à Câmara Municipal. A pretensão gerou impasse, mas ele teve apoio de uma secretária do partido, que se dispôs a realizar a filiação dos apoiadores. Com os “meus pobres”, como salienta, mudança no diretório e o desafio da candidatura em 1988. Acomodado numa poltrona na sala do sobrado, onde reside há mais de trinta anos no Arco Íris, o “doutor Anselmo” coloca ao lado um dos vários livros que lê simultaneamente. O cigarro ainda o acompanha e, aos 69 anos, a saúde requer cuidados. Mas a memória pulsa, e são inúmeras as histórias, experiências, desabafos e provérbios. Assim, lembrando aquela primeira eleição à Prefeitura de Pelotas, frisa que inventou o “arrastão” em campanha eleitoral. “Foi a eleição da canela. Numa tarde cheguei a caminhar 25 quilômetros. Nenhum ‘santinho’ nem decalque.

ANSELMO: “Há salafrários em todos os partidos”

ANSELMO: “Há salafrários em todos os partidos”

Um amigo improvisou pôster, e fez cem cópias. No cartaz, porém, estava escrito Ancelmo com ‘c’. Foi o que tivemos, e mais cem cópias foram feitas. Foi a maior eleição da história”, empolga-se. Naquela disputa, em turno único, ele desbancou as candidaturas de Fetter Jr, Irajá Rodrigues, Flávio Coswig (PT), e José Luis Marasco Leite. Além da consagração com mais de sessenta mil votos, Anselmo também notabilizou-se como fenômeno de comunicação popular. Ele diz que confiava no bom desempenho, pois foi declamador oficial em CTG e campeão de oratória em competições escolares. Como diz, sempre foi o próprio “marqueteiro”. Após a gestão 1989/1992, nova campanha exitosa e segunda gestão entre 1997 e 2000. Denúncias de irregularidades, acusações e polêmicas, macularam o “Governaço”. Neste ano, disputa se aproximando, ele responde sobre a motivação para chegar novamente à Prefeitura: “Estava quieto no meu canto, mas fui desafiado. E não sei fugir da luta. Como vereador, provavelmente morreria de velho me reelegendo. Mas sou atacante, não nasci para ser zagueiro. Embora, no conjunto, seja necessária uma boa defesa”.

ABSOLVIDO – “O Brasil não foi descoberto, mas achado. Cabral não vinha pra cá. Mas chegou. Então o descobrimento é uma mentira. Pero Vaz de Caminha na carta pedia emprego para sobrinho. Algo que ficou no nosso DNA. A Independência serviu para submissão ao domínio da Inglaterra. Outra mentira. A libertação dos negros, não foi benevolência mas imposição da Revolução Industrial. No País houve a campanha ‘Ouro para o bem do Brasil’, e meu pai entregou a aliança. Mais uma mentira. Quem acreditou na campanha ‘Plante que o João garante’, acabou se dando mal. Então qual é a verdade? Está naquela frase ‘Liberdade ainda que tardia’. E comigo foi assim. Passaram-se vinte anos até a minha absolvição pelo Tribunal de Justiça”, diz o candidato.

DESAFIO – Com pensamentos e provérbios, frisa que “a vida vai polindo, e tanto aprimora a bondade quanto também a maldade. O ódio e a inveja não me alcançam. Não sou de tapinha nas costas e ficar agradando. Não me faça promessa, direcione somente a Deus. Posso ter mais erros que acertos, mas estou sempre tentando acertar. E prefiro errar ao tomar decisões, do que aquele que nunca erra, mas é covarde e nunca faz. Como dizia Barão de Itararé: ‘Não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar’. Como Sócrates, ‘Só sei que nada sei’, e luto contra minhas ideias. Então não disputo com ninguém, minha luta não é vencer o outro, mas a mim próprio. E gosto da fábula do elefante e pardal. A floresta incendeia, e o passarinho leva gotas d’água para tentar apagar. O elefante desdenha, mas o passarinho diz que está fazendo a sua parte. Então sei que não vou mudar o mundo, mas algo posso fazer para beneficiar o povo”.

SAÚDE E EDUCAÇÃO – O plano de governo está na “cabeça”, como já disse em eleições anteriores. Mas Anselmo tem prioridades. E destaca a saúde e educação. Ele menciona experiências das suas gestões. E salienta que, na escola, as crianças devem estar bem alimentadas. Mas não com “sopa de chuchu”. Nos CIEPS, alunos recebiam cinco refeições e saíam com o “dente escovado”. No Centros de Integração da Criança e do Idoso (CICIs), era servida refeição ao idoso, que recebia pijama para dormir. Na manhã seguinte, sua roupa estava esterilizada. Os idosos, como diz, realizavam “praxiterapia em ambiente com ar condicionado”. Para Anselmo, segurança pública é oferecer alimentação, escola, oportunidade. O candidato exemplifica com o projeto “Floresce Pelotas”, que atendia centenas de crianças, oferecendo refeições, assistência médico/odontológica, mediante a apresentação do boletim escolar. Muitas daquelas crianças, afirma, formaram-se e são doutores. Ele tem reencontrado, como numa cirurgia que foi paciente, alguns desses jovens que tiveram chance por conta do Floresce Pelotas.

Anselmo Rodrigues desde a infância admira o exemplo de Leonel Brizola

Anselmo Rodrigues desde a infância admira o exemplo de Leonel Brizola

O filho de peão analfabeto virou médico e professor universitário

 Convicções derivadas da humilhação na infância, e da exploração na mocidade. O médico Anselmo Rodrigues, que há quatro anos pleiteia aposentadoria, diz que a opção pela carreira ocorreu aos oito anos. No interior de Santa Vitória, filho de pai analfabeto e peão de estância, e a mãe descendente de família com “léguas de campo”, cedo conheceu o preconceito social. Na consulta ao médico, por uma porta entravam os pobres. Noutra, aqueles que pagavam o atendimento particular. Os pobres aguardavam, e nalgum intervalo das consultas aos ricos, o médico puxava alguém pelo braço para ser atendido. O guri lembra que muitos dos colegas de escola, ao entrar acompanhando os pais para a consulta paga, abriam risinho de desprezo. Diante disso, falou ao pai: “Vou ser médico e não vou fazer com os pobres, o que fazem comigo”.

BRIZOLA – Numa ida de Brizola à cidade, desfilando em carro aberto, e acompanhado por centenas de cavalarianos, o menino disse ao pai que o homem no carro havia acenado em sua direção. O pai resmungou, afirmando que estava cumprimentando a todos. A imagem, no entanto, ficou armazenada. E o guri mirou o futuro, repetindo: “Vou ser político como esse homem”.

DESCONFIANÇA – No Colégio Pelotense, Anselmo concluiu o segundo grau. Para se sustentar, trabalhava no comércio e foi vendedor. Residindo numa pensão, cuja refeição era “arroz que grudava, feijão ‘branco’ de tão velho, e o sebo era a carne”, conta que não conseguia férias. Como não aceitava a exploração e humilhação dos empregadores, saía antes de completar um ano. Daí recordou da infância, e o projeto de chegar à medicina. Após cursar matérias no “Madureza”, foi aprovado no vestibular da UFPel em 1973. O pai ao ver o nome do filho na lista de aprovados, publicada no jornal, desconfiava e afirmava que deveria ser outro.

PREFEITO – Foi da mãe que Anselmo herdou a insatisfação. Como diz, “aprendeu a não se curvar”. E a convicção pela Prefeitura, surgiu da afirmação de colega. Sentados no banco da praça, durante horário de expediente, o vendedor de máquinas Facit, ouviu “Um dia vais mudar aquilo ali”. O colega apontava em direção ao prédio do Executivo. Ele respondeu: “Eu sei”.

Coligação com o PP

PDT e PP juntos na eleição municipal deste ano. Como vice de Anselmo Rodrigues, vereador Rafael Amaral do PP. O candidato a prefeito avalia a coligação: “Para cada momento na vida, há uma técnica e uma tática. O cirurgião que conhece a técnica, sabe fazer o corte, puxar e chega ao órgão. Porém, se surge imprevisto, ele precisará de tática para encontrar desvio. Isso faz a diferença”.

IDEOLOGIA – Em relação ao descompasso ideológico entre as siglas, o candidato recorre ao ex-governador e deputado federal Alceu Collares, e diz: “Não há esquerda nem direita. Mas sim aquele mais humano ou desumano. E há salafrários em todos os partidos. Basta dar poder ao homem para conhecê-lo”.

MENSAGEM – Anselmo conclui com a mensagem: “O mais difícil não é subir no pau-de-sebo, mas permanecer no topo. E diz a mensagem que, aquele que havia subido, zombou da posição de quem havia chegado embaixo. Porém, ouviu que, aquele na base, aguardava pela sua descida”.

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