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sexta, 26 de abril de 2024

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UFPEL : Raízes e contemporaneidade na 1ª Semana Africana

UFPEL : Raízes e contemporaneidade na 1ª Semana Africana
18 maio
11:00 2018

Dias 24 e 25, programação da “1ª Semana Africana de Pelotas”, organizada por estudantes africanos e brasileiros da UFPel

Por Carlos Cogoy

Medicina, arquitetura, história, biologia, odontologia, engenharias e ciências da educação. Cursos e áreas da UFPel, que têm estudantes africanos. Através do Programa de Estudantes-Convênio (PEC), são quase duas dezenas de acadêmicos, provenientes de países como Cabo Verde, Moçambique, Gabão, Congo, Benin. Recentemente, através de processo seletivo especial para refugiados, ingressaram seis senegaleses. A exemplo do que já acontece em universidades como a UFRGS em Porto Alegre, e nas federais de Goiânia e Florianópolis, os estudantes africanos da UFPel, estão promovendo evento com a temática “Colonização/descolonização africana e as transformações socioeconômicas e culturais no continente”. Trata-se da 1ª Semana Africana de Pelotas, que acontecerá dias 24 e 25 deste mês, e terá debates, lançamento de livro, e atividades culturais. Na coordenação, estudantes africanos e brasileiros. De Cabo Verde, Rui Delgado que cursa história, doutoranda em educação Célia Miranda, e Gil Vera-Cruz que estuda cinema. Do Congo, Juncris Junior, mestrando em arquitetura, e do Benin, o estudante Virgile Adebiyi da engenharia civil. No grupo brasileiro, os estudantes de história: Sarah Barcelos; Nathalia Dias; Márcia Martins; Rainara Gomes; Leonado Tavares; Cleoni Ávila; Malu Coutinho; Sandro Schmitt. Conforme os organizadores, as vagas foram limitadas devido ao espaço disponível – campus 2 do ICH/UFPel, à rua Alm. Barroso 1.202 -, e as inscrições encerraram numa semana.

Virgile Adebiyi de Benin

Virgile Adebiyi de Benin

DESMISTIFICAR – O estudante Rui Delgado explica: “A ideia da semana africana em Pelotas, surgiu a partir da minha chegada à cidade no ano passado. Senti a necessidade de debater, falar e desmistificar alguns conceitos ou pré-conceitos usuais na cidade sobre o continente. Então, fiz o projeto. Não tive tempo hábil para realizá-lo, mas comecei a levar essa ideia a outras pessoas, africanas e brasileiras. Apresentei a proposta ao ‘Núcleo de estudos ELEKO – Uma psicologia decolonial’, e à chapa ao Centro Acadêmico de História (CAHis/UFPel). De imediato, eles abraçaram o projeto. Também, para desenvolver o evento, mantive contato com os africanos e os professores. Como um dos objetivos é a integração, desde o início foi buscada a parceria entre africanos e brasileiros. Mesmo realizada na UFPel, a semana é para toda a comunidade. Afinal, nosso propósito é levar informações e conhecimento a todos e todas. Queremos mostrar um continente diferente da imagem estereotipada que é mostrada na televisão, bem como visto superficialmente nas escolas, e ainda pouco pesquisado nas universidades daqui. Para o evento, não tivemos apoio de empresas da cidade. Mas acredito que, por ser a primeira edição, organizada exclusivamente por estudantes, e ter um tema estranho aos empresários, talvez tenham ficado receosos. Mas teremos outros eventos e a tendência é crescer. Então poderemos contar com eles nos próximos anos”.

Estudante Rui Delgado entre as bandeiras do Brasil e Cabo Verde

Estudante Rui Delgado entre as bandeiras do Brasil e Cabo Verde

COMPLEXIDADE – O estudante cabo-verdiano observa acerca da realidade africana: “Falar sobre a África no singular é complicado. Temos países com um Índice de Desenvolvimento Humano muito bom, como é o caso da Tunísia, Cabo Verde, Argélia e África do Sul. Em países como Nigéria, Egito e Senegal, são muito boas as produções cinematográficas. Também os ritmos musicais do continente, estão espalhados pelo mundo, e a produção acadêmica é crescente. É claro que ainda vivemos sob um controle ocidental. E esse controle não nos permite avançar mais. Falo das guerras patrocinadas, a exploração de minérios em condições análogas à escravidão por parte de empresas do Ocidente, e a conivência da classe política e empresarial dos países africanos, com os europeus e norte-americanos. E, como consequência dessas corrupções, temos as doenças, as fomes e guerras, que são propagadas e, ao mesmo tempo, invisibilizadas pelas mídias e governos”.

RACISMO no Brasil. Rui menciona sobre a experiência no Brasil: “Em Cabo Verde, a visão do Brasil é de um país multicultural, com democracia racial. O país do futebol, do samba, das mulheres bonitas e das telenovelas. Era essa a fantasia que tinha antes de chegar. Mas, por aqui, descobri que a violência está banalizada, que há uma elite que não deixa as outras classes ascenderem, que o lugar do preto é limpando a casa do patrão, ou nas favelas e lá tem de ficar. Fiquei chocado, pois não enxergava negros na universidade, e os via nos shoppings, lojas e restaurantes, servindo, limpando e invisibilizados. Esse contraste, para a população, não provoca revolta, nem indignação. Racismo, noto todos os dias. Ele está enraizado no cotidiano da sociedade. E as pessoas, por não aprofundarem no assunto, ‘vão deixando pra lá’. Então, insisto na necessidade de atividades como esta, trazendo a África para o centro. Assim, agentes conscientes da nossa cultura, e ancestralidade, ao invés da manipulação pelo que vem de fora. O africano não é só aquele que nasceu no continente africano. E sim, todos aqueles que descendem dos africanos, que foram barbaramente deslocados do continente, e submetidos ao holocausto da escravização, deixando de ser gente para serem considerados coisas”.

Sarah Barcelos

Sarah Barcelos

Gil Vera-Cruz

Gil Vera-Cruz

DIA DA ÁFRICA transcorrerá a 25 de maio. De acordo com Rui, a origem remonta a 25 de maio de 1963, quando foi criada a Organização da Unidade Africana (OUA). Em 1972, a ONU estabeleceu a data como “Dia da Libertação da África”, ou “Dia Internacional da África”. “Nesse dia recordamos as lutas pelas independências no continente, contra a colonização europeia e contra o regime Apartheid, assim como o desejo de um continente mais unido, organizado e livre”, diz o estudante de história.

PROGRAMAÇÃO

24/05/2018

14:00 – 15:00 Credenciamento
15:00 – 15:45  

 

 

 

 

 

Mesa de aberturaCoordenador do Instituto de Ciências Humanas (UFPel)Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas É’LÉÉKO(Psico/UFPel)

Coordenadora do Departamento de História (UFPel)

Coordenador do Departamento de Geografia (UFPel)

Representante da Coordenação de Relações Internacionais (UFPel)

Coordenadora do Núcleo de Ações Afirmativas e Diversidade (UFPel)

Representante da Comissão Organizadora

15:45 – 18:00  

 

 

 

 

 

Mesa: A África pelos africanosCélia Artemisa Miranda (representante de Cabo Verde)PereschAubhamEdouhou (representante do Gabão)

Acrisio Vitorino (representante de Moçambique)

JuncrisNamaya Júnior (representante do Congo)

Nilton da Silva (representante de Guiné Bissau)

BathieFall (representante d do Senegal)

Virgile Rodrigue AdebiyiAlitonou (representante do Benin)

18:00 – 19:00 Intervalo
19:00 – 21:30   Painel: Independência dos países africanos de língua oficial portuguesa e lançamento do livro “Depois dos Cravos, liberdades e Independências”Prof. Dr. Marçal de Menezes Paredes (PUCRS)

25/05/2018

14:00 – 15h30  Painel: Afrocentricidade e de(s)colonização do saberProf. Dr. Fernando Jorge Pina Tavares (Unilab)
15:30 – 16:00 Coffeebreack
16:00 – 18:00  

 

Mesa: O desenvolvimento socioeconômico da África Prof. Dr. Paulo Ricardo Pezat (UFPel)Prof. Dr. Paulino Varela Tavares (IFFarroupilha)

Prof. Dr. Marçal de Menezes Paredes (PUCRS)

18:00 – 19:00 Intervalo
19:00 – 21:30  

 

Mesa: Afrocentricidade e decolonialidade do saber, do ser e do poder.Prof. Dr. Fernando Jorge Pina Tavares (Unilab)Profª. Drª. Miriam Alves (UFPel)

Prof. Dr. Segone Cossa (Univ. Téc. de Moçambique e Inst. Sup. Monitor)

21:30 – 22:00 Encerramento

26/05/2018

14:00 – 19:00    Atividades culturaisDegustação de comidas africanas CineÁfrica

 

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