145 anos de Zequinha de Abreu: quando a música fala sem palavras
Celebrar os 145 anos de Zequinha de Abreu é mais do que lembrar de um compositor; é redescobrir um Brasil cheio de ritmo, talento e histórias que ainda nos emocionam
Marcelo Gonzales*
@celogonzales @vidadevinil
Sabe quando a gente pensa na música brasileira e sente aquela vontade de sorrir, bater o pé e se emocionar ao mesmo tempo? Pois é, uma das peças-chave dessa história é Tico-Tico no Fubá, de Zequinha de Abreu. Em 2025, ele completaria 145 anos, e essa história merece ser contada com gosto, porque ela é um retrato do talento brasileiro que atravessa gerações.
Zequinha nasceu em Santa Rita do Passa Quatro, interior de São Paulo, em 19 de setembro de 1880. Desde cedo, ele respirava música: estudava piano, teoria musical, e se encantava pelo ritmo contagiante do choro, que misturava alegria, melancolia e virtuosismo técnico. Aos 37 anos, em 1917, ele compôs Tico-Tico no Fubá, já com experiência de décadas de estudo e prática musical, e com uma maturidade que permitiu criar algo tão simples e, ao mesmo tempo, tão sofisticado. Imagina só: 37 anos, pleno domínio do piano e das nuances do choro, e então surgia essa música que, apesar de ser instrumental, parecia falar diretamente com quem a ouvia.
A composição é rápida, alegre e cheia de nuances que mostram a genialidade de Zequinha. Mas o que torna Tico-Tico no Fubá ainda mais fascinante é como ela se transformou ao longo do tempo. O que era inicialmente apenas um choro instrumental, ganhou letras posteriormente e, aos poucos, atravessou fronteiras, conquistando plateias fora do Brasil.
A primeira gravação conhecida de Tico-Tico no Fubá logo se tornou popular nos salões e casas de espetáculo do Brasil. Dizem que o público ficava hipnotizado com a velocidade e leveza das mãos de Zequinha sobre o piano, e não demorou para que músicos começassem a interpretar a obra em diferentes versões, cada um acrescentando sua própria assinatura ao ritmo contagiante.
Nos anos 1930, Carmen Miranda entrou nessa história e a levou para o mundo. Com sua energia inconfundível, ela gravou e apresentou a música em shows e filmes, levando o choro brasileiro a Hollywood. Há registros de que ela adaptava a música de forma que, mesmo o público internacional que não entendia português, conseguia sentir a alegria e a cadência típicas do Brasil. Algumas fontes contam que ela até brincava com a velocidade da execução, fazendo o público rir e aplaudir de pé, mostrando como a música podia ser divertida, sofisticada e sedutora ao mesmo tempo.
Além de Carmen Miranda, outros artistas internacionais, como a Orquestra de Xavier Cugat, também ajudaram a espalhar essa tal de Tico-Tico pelo mundo, transformando esse choro paulista em um verdadeiro ícone da música brasileira. A música chegou a ser trilha sonora de filmes, programas de rádio e televisão, e continua até hoje sendo tocada em apresentações clássicas, concertos de piano e até em arranjos modernos de jazz.
E se a gente olhar com carinho, dá para perceber que Zequinha, aos 37 anos, já tinha maturidade e técnica suficientes para criar algo que não só embalaria festas e salões, mas que também atravessaria fronteiras e o tempo. Isso nos faz pensar na força da música: ela não se limita a uma idade, lugar ou época; ela se espalha, toca corações e constrói legados.
Celebrar os 145 anos de Zequinha de Abreu é mais do que lembrar de um compositor; é redescobrir um Brasil cheio de ritmo, talento e histórias que ainda nos emocionam. E, entre nós, é impossível ouvir Tico-Tico no Fubá sem imaginar Zequinha sorrindo, Carmen Miranda brilhando e a música correndo solta, invadindo o mundo com a energia que só a arte brasileira tem.
*Marcelo Gonzales vive entre discos de vinil e muita mídia física, sempre atento à música, à cultura e ao jornalismo, compartilhando histórias que conectam gerações.







