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6 de setembro de 1974: Rocka Rolla, o primeiro passo do Judas Priest

6 de setembro de 1974: Rocka Rolla, o primeiro passo do Judas Priest
07 setembro
19:36 2025

O que torna Rocka Rolla fascinante é justamente essa mistura de ingenuidade e ousadia.

 Marcelo Gonzales*

@celogonzales @vidadevinil

Algumas datas parecem carregar uma energia própria. O 6 de setembro de 1974 é uma delas. Enquanto o rock ainda flertava com psicodelia e blues, nascia discretamente um disco que, à época, quase passou despercebido, mas que hoje é visto como um marco inicial do heavy metal: Rocka Rolla, a estreia do Judas Priest. É curioso pensar que, naquele momento, ninguém podia prever a grandiosidade que viria — e talvez seja isso que dá ao álbum uma aura especial: a sensação de estar diante do embrião de algo gigante, ainda cru, ainda em construção.

O que torna Rocka Rolla fascinante é justamente essa mistura de ingenuidade e ousadia. A voz de Rob Halford ainda testava limites, Tipton e Downing exploravam riffs em busca de identidade, e Ian Hill sustentava com firmeza as bases do som. A banda experimentava, errava, acertava — e, mesmo com falhas de produção, o que se ouve hoje é uma energia palpável, a chama inicial de um monstro do metal.

Por trás do disco, havia Rodger Bain, produtor de renome que já havia trabalhado com o Black Sabbath. Sua experiência parecia perfeita para traduzir peso em estúdio, mas o encontro não foi sem atritos. Bain cortou arranjos longos, apostou numa gravação quase documental, e deixou o som cru demais para os padrões da banda. Décadas depois, Halford confessaria que Rocka Rolla nunca soou como eles realmente queriam — mas talvez esse “defeito” seja parte do charme histórico do disco.

Faixa a faixa

One For the Road abre o álbum com uma energia direta e um balanço entre hard rock e blues. Não define o Judas Priest que viria, mas entrega a primeira impressão: intensidade e potência vocal.

Rocka Rolla, faixa-título, funciona quase como um manifesto. É simples, envolvente e já exibe a faísca da personalidade da banda, mesmo sob a mixagem seca do estúdio.

Winter / Deep Freeze / Winter Retreat formam um bloco progressivo e atmosférico. As três faixas contêm passagens instrumentais que exploram tensão e clima, mostrando que o Judas Priest não queria se limitar a riffs diretos.

Cheater insere uma surpresa: uma gaita que adiciona textura e prova a disposição da banda em experimentar.

Never Satisfied aproxima-se do som clássico do Priest. Peso, agressividade e solos incisivos indicam o metal que logo se tornaria assinatura da banda.

Run of the Mill, com mais de oito minutos, é a ambição em forma de música. Crescentes e mudanças de dinâmica revelam uma banda que pensa grande, talvez grande demais para os limites do primeiro álbum.

Dying to Meet You e Caviar and Meths fecham o disco. A primeira é direta, a segunda, uma versão condensada de um épico que Bain cortou drasticamente. Ainda hoje, soa como um tesouro incompleto — uma prova de que a banda já pensava além do que o estúdio permitiu.

Outras marcas desse dia

O 6 de setembro parece ter sido agraciado com presságios musicais. Em 1965, os Beatles lançaram Yesterday, canção que olha para o passado com melancolia e esperança, como se prenunciasse que a música caminharia entre memória e reinvenção. Anos antes, em 1943, nascia Roger Waters, mente inquieta do Pink Floyd, que soprou ventos novos sobre o rock, unindo crítica, invenção e emoção.

Décadas mais tarde, em 1971, veio ao mundo Dolores O’Riordan, voz capaz de atravessar oceanos com o The Cranberries, equilibrando força e vulnerabilidade. E em 2007, o mundo se despediu de Luciano Pavarotti, lembrando que a música, seja em metal, rock progressivo ou ópera, fala universalmente.

Finalizando…

Revisitar Rocka Rolla hoje, especialmente na versão remixada de 50 anos, é como voltar ao berço de um gigante ainda em gestação. Não havia ainda couro, nem metal a plenos pulmões — mas a faísca estava lá, incandescente, prometendo mundos sonoros que poucos imaginavam. Cada riff, cada vocal de Halford, cada arranjo improvisado soa como um prenúncio: o Judas Priest não apenas entraria para a história, ele mudaria a própria forma de sentir o heavy metal.

E é nesse ponto que percebemos algo fascinante: mesmo ao fechar este capítulo, a música nunca deixa de nos chamar para frente. A história continua, e a próxima página — o próximo dia, o próximo álbum, o próximo choque sonoro — já está pronta para ser vivida. Quem estiver atento, sentirá a ansiedade crescer, como se o próprio metal sussurrasse: “prepare-se, porque o que vem a seguir vai elevar tudo que você já conhece”.

*Vive entre discos de vinil e muita mídia física, sempre atento à música, à cultura e ao jornalismo, compartilhando histórias que conectam gerações.

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