Daniel Finkler lança livro de crônicas “Sob o mate derramado”
Músico e publicitário reúne 21 histórias sobre as vivências do cotidiano em sua estreia na literatura
Para um gaúcho que aprecia um bom chimarrão, existem itens mais indispensáveis que a cuia e a erva mate? O chimarrão é considerado um companheiro de todas as horas, utilizado para se aquecer nas manhãs geladas e também para se “refrescar” no sol da beira da praia. Parceiro de atividades de trabalho ou de lazer, pode tanto figurar como individual e exclusivo quanto ser passado de mão em mão nas rodas de amigos. No livro do estreante Daniel Finkler, o chimarrão é o coadjuvante perfeito para diversas histórias do cotidiano, servindo de fio condutor para a coletânea “Sob o mate derramado: Crônicas de um chimarrão urbano”, lançamento da editora Viseu.
Nas páginas do livro, o chimarrão é citado em passagens rápidas, porém determinantes para as narrativas. Sua inserção consegue expressar diferentes sentimentos das personagens, que incluem estresse (“preciso de um mate”), relaxamento (“peguei o mate e fui para rede”), reflexão (“cevei mais um mate”), necessidade de dialogar (“tô indo aí tomar um mate”) e até mesmo surpresa (“derrubou a cuia, espalhando erva por toda mesa e pelo chão”). Apesar da constância, nem todas as crônicas da obra remetem ao chimarrão. As temáticas, de modo geral, dizem respeito ao comportamento humano frente às vivências do cotidiano, com destaque para os relacionamentos amorosos e as paranoias da modernidade.
Nas 21 crônicas reunidas, Finkler traz situações que aconteceram consigo, com amigos próximos e com pessoas à sua volta, inclusive histórias que ouviu na rua. O diferencial, entretanto, é a dose de criatividade que adiciona em cada um desses relatos. Por vezes, tem-se algo de verdade, por outras, vários ingredientes ficcionais, o que gera um saboroso jogo promovido pelo escritor. “Palavra puxa palavra, então o texto pode nascer de um fato verídico e vai se transformando”, entrega.
Observador citadino
O tal chimarrão urbano do título traduz o conceito da obra. Enquanto publicitário, Finkler identificou que o hábito de tomar mate vinha enfrentando dificuldade de se fixar entre as gerações mais novas, uma vez que os valores associados à bebida são relacionados às tradições do campo, do peão e da prenda, da cultura arraigada do Rio Grande do Sul. Percebeu, assim, que várias histórias não estavam sendo contadas, como aquele músico que vai ensaiar levando seu chimarrão, o casal que aproveita o fim de semana para passear acompanhado de um mate e o grupo de amigos que viaja de carro passando a cuia de mão em mão. Com a intenção de catalogar esses contos do dia a dia, foram desenvolvidos cerca de 100 pequenos textos, os quais, gradativamente, Finkler acabou reescrevendo para ampliar os conflitos das personagens e adicionar diálogos. Depois de seis meses, percebeu que o projeto poderia render um livro.
Nestas histórias, o chimarrão se torna um observador da sociedade. Na crônica “A maldição dos conselhos”, por exemplo, o mate está no centro da discussão conjugal sobre ter ou não filhos. Já em “O ronco da cuia”, um casal se encontra algumas vezes e compartilha um chimarrão. São cenas do cotidiano urbano, nas quais o chimarrão não está junto da figura tradicional do gaúcho, como relatam as músicas regionalistas. “O protagonista não está indo para o campo, está indo para o banco trabalhar”, brinca o escritor.
Finkler, que se considera um apreciador da bebida, diz que se sente estranho ao ficar um dia sequer na impossibilidade de tomar chimarrão. Em sua opinião, o livro é indicado para um público entre 20 e 40 anos, especialmente para quem não possui o costume da leitura, pois são textos curtos, leves, divertidos e de uma linguagem acessível. Cada crônica ocupa de três a oito páginas, proporcionando uma rápida recompensa, entre elas o contato com a literatura. Nesse sentido, uma das pretensões da obra é incentivar o caminho pelas palavras, acompanhado, é claro, de um bom mate amargo.
Como ler
O livro “Sob o mate derramado: Crônicas de um chimarrão urbano” pode ser adquirido em cópia física por R$ 45,90 no site da editora Viseu (www.editoraviseu.com.br/ sob-o-mate-derramado-prod.html) e em e-book por R$ 9,90 através da Amazon (www.amazon.com.br/Sob-Mate-Derramado-Crônicas-Chimarrão-ebook/dp/B0C86M4ZHS).