Uso da cadeirinha evita danos neurológicos e salva vidas
Lesões na cabeça e na cervical podem deixar vítimas sem andar pelo resto da vida
A campanha internacional Maio Amarelo busca conscientização para reduzir os acidentes de trânsito, que deixam 1,3 milhão de pessoas mortas todos os anos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Mais de 100 crianças morrem por mês, em ocorrências viárias no Brasil, e uma a cada quatro minutos no mundo.
Nos acidentes, 1/3 das vítimas é de pessoas muito jovens, com até 15 anos de idade e outros 2/3 têm menos de 50 anos. Segundo os pesquisadores, o cenário gera forte impacto econômico. O custo desses acidentes é superior a R$ 50 bilhões por ano, com gastos hospitalares, danos patrimoniais e perda de produção, que gera consequências sobre a previdência e a renda das famílias.
O principal problema desencadeado pelos acidentes são os traumas, que têm vários graus de complexidade. Há desde os neurológicos até os ortopédicos sem sequelas em outras partes do corpo em decorrência de períodos prolongados de internação e restrição ao leito.
A conscientização ainda tem muito a ser ampliada. Atitudes simples, regulamentadas por lei, como é o caso do uso da cadeirinha, ajudariam a mudar parte deste cenário.
Ainda segundo a OMS, as cadeirinhas e dispositivos de segurança reduzem em 70% as mortes em bebês e entre 54% e 80% as mortes de crianças, que são os mais vulneráveis em caso de traumas.
Em um acidente, a vítima é empurrada para várias direções, e até mesmo pode ter o corpo ejetado do veículo. Caso a coluna cervical ou a cabeça do ocupante sejam atingidos, há risco de danos neurológicos, que podem deixar a vítima sem andar ou ter outro tipo de descontrole motor para o resto da vida.
O neurocirurgião pediátrico, Dr. Alexandre Canheu, explica, “A pressão no corpo do ocupante é capaz de ocasionar fraturas e comprimir a coluna. Dentro da coluna cervical está o canal vertebral, por onde passa a medula espinhal. Essa região comanda os movimentos e as sensações do corpo, por esse motivo fraturas na cervical são consideradas perigosas, e exigem cirurgias como forma de tratamento em casos mais graves”.
O traumatismo cranioencefálico, caracterizado pela batida na cabeça, é causado em sua maioria por acidentes com transportes terrestres, revela uma pesquisa feita em 2020 pela Revista Científica da Escola Estadual de Saúde Pública de Goiás.
Quando a lesão na região do crânio é mais grave, a pessoa pode ter sangramentos e inchaço, provocando falta de oxigênio no cérebro, a consequência são também os danos neurológicos. E uma forma mais leve de lesão cerebral que pode ocorrer em todas as idades, mas é comum entre os pequenos, é a concussão. Os sintomas são: vômitos, desmaio, convulsão, tontura e dificuldade em acordar.
As crianças são mais vulneráveis tendo em vista a estatura e outras características físicas. A OMS aponta que, em média, 500 crianças morrem por dia em acidentes, um total de três a cada minuto.
Para prevenir, crianças com até 10 anos que não atingiram 1,45m de altura precisam usar a cadeirinha, de acordo com a lei prevista no art.168 do Código de Trânsito Brasileiro. A resolução que deu início a obrigatoriedade foi criada em 2008. Dados da organização mostram, que o uso do dispositivo diminui em até 60% o risco de morte entre os pequenos.
“A cadeirinha salva vidas, na mídia constantemente vemos acidentes em que os ocupantes morrem, mas a criança sobrevive por estar com o equipamento adequado. O corpo das crianças é muito mais frágil, isso aumenta os riscos. Para se ter uma ideia os bebês têm a cabeça maior, representa 1/ 4 do corpo enquanto o adulto é 1/6, com isso é mais peso e menos equilíbrio, e toda vez que é arremessado para frente, a cabeça vai primeiro”, explica Dr. Alexandre.
Também é possível adotar medidas de primeiros-socorros que preservem a saúde dos envolvidos em acidentes, “No primeiro atendimento, quando o socorro ainda não chegou, as pessoas em volta precisam ficar por perto dos feridos, mas não mexer em nenhuma parte do corpo de quem pode estar traumatizado, isso evita lesões. Não retirar objetos empalados, como vidros, também é essencial para não causar sangramentos e provocar danos internos”, ressalta Canheu.
Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil