70% das mortes por infecções associadas à assistência hospitalar poderiam ser evitadas
Em média, mais de 45 mil pessoas morrem anualmente devido a infecções adquiridas em hospitais. Os facilities managers, junto a equipe multiprofissional, desempenham um papel importante na prevenção dessas infecções, atuando nas áreas de apoio e em toda a complexa infraestrutura hospitalar para promover um ambiente seguro
Dados divulgados pela Associação Médica Brasileira revelam que mais de 45 mil brasileiros morrem anualmente devido a infecções hospitalares. De acordo com o CDC (Centros de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos), as infecções hospitalares representam até 10 bilhões de dólares anuais em despesas com saúde.
Marcelo Boeger, consultor na Hospitalidade Consultoria e diretor dos Comitês da ABRAFAC (Associação Brasileira de Property, Workplace e Facility Management), destaca a gravidade dessas estatísticas: “Temos que atuar de forma incansável, os pacientes que adquirem infecções hospitalares ficam, em média, 6,5 dias adicionais no hospital, têm cinco vezes mais chances de serem reinternados após a alta e apresentam o dobro de probabilidade de morrer.”
Além do contato direto dos profissionais de saúde com os pacientes, diversos aspectos dos serviços de hotelaria e facilities influenciam os índices de infecção. Isso inclui a higiene e desinfecção de superfícies, o manuseio de alimentos, a gestão do enxoval e a qualidade do ar ambiente.
A infraestrutura hospitalar abrange processos críticos que exigem atenção do gestor, como o transporte vertical de materiais contaminados por elevadores ou monta-cargas, como roupa suja e resíduos infectantes. É essencial evitar o transporte simultâneo de pacientes, mesmo quando estes estão ensacados e acondicionados em carros fechados. Além disso, a falta de manutenção preventiva em sistemas como ar-condicionado, ralos e abastecimento de água representa riscos significativos.
Para minimizar e prevenir a contaminação, é fundamental garantir que o cronograma de limpeza em higiene predial seja rigorosamente seguido, assegurando a eficácia na redução da transmissão de microrganismos. Isso inclui a verificação para garantir que nenhuma área ou item seja negligenciado pelas equipes.
Na área de alimentação, todos os colaboradores, desde os cozinheiros até as copeiras que distribuem alimentos diretamente aos pacientes nos leitos, devem lavar as mãos antes de manipular alimentos. Além disso, é fundamental higienizar as embalagens antes do uso e garantir que matérias-primas, ingredientes e alimentos preparados sejam refrigerados, identificados, protegidos e armazenados adequadamente, conforme suas características e requisitos de temperatura.
Principais desafios enfrentados pelos gestores de facilities
“Em grande parte, a manutenção das estruturas físicas afeta os serviços de forma abrangente. No entanto, a falta de processos para garantia de qualidade dos serviços também deve ser considerada”, alerta Marcelo.
Recentemente, a ABRAFAC –– que teve a colaboração da ONA – Organização Nacional de Acreditação – realizou uma pesquisa com várias instituições de saúde. A pesquisa na integra pode ser acessada pelo link: https://abrafac.org.br/impacto-do-fm-nas-certificacoes-em-instituicoes-de-saude/
Segundo o estudo, 76% dos gestores hospitalares consideram que a manutenção predial e infraestrutura ainda são grandes desafios, oferecendo muitas oportunidades de melhoria. Notavelmente, há uma necessidade significativa de aprimorar a documentação de processos, procedimentos e gestão de planos operacionais, especialmente nas áreas de Higiene Predial, Gerenciamento de Resíduos Sólidos, Rouparia e Lavanderia.
Desperdícios nas áreas de facilities
A falta de uma estrutura organizada resulta em desperdícios significativos em diversas áreas: leitos ficam indisponíveis devido à gestão deficiente de interdição e manutenção; equipamentos parados prejudicam a produtividade e causam represamento de leitos, afetando o fluxo de pacientes; equipes lidam com retrabalho e aplicam técnicas inadequadas, entre outros problemas.
Um dos maiores desperdícios ocorre no tempo perdido durante a movimentação de pacientes devido a falhas no sistema de transporte entre unidades. Marcelo Boeger, explicando essa questão, afirma: “Por exemplo, quando o mesmo maqueiro que faz o transporte no pronto-socorro também é responsável por transferir pacientes da UTI para outras unidades, qualquer atraso na organização dessas atividades pode resultar em pacientes represados e desperdícios em várias partes do sistema de saúde.”
Além disso, o absenteísmo representa outro tipo significativo de desperdício. Segundo uma pesquisa recente apresentada pela doutora Elizabeth Reis (IQG) no Congresso de Hotelaria e Facilities da Feira Hospitalar, “a perda de produtividade devido ao absenteísmo nessa área chega a quase 17%, o que representa desperdícios sistêmicos significativos para toda a instituição.
Acreditação x Desperdício e altos custos
A acreditação desempenha um papel fundamental na redução de custos e desperdícios de tempo nas instituições de saúde. A variabilidade na execução das tarefas sem padronização aumenta a pressão na entrega dos serviços e pode causar confusão entre equipes e clientes, já que os resultados frequentemente dependem das habilidades individuais dos executores, não de um plano de trabalho estruturado.
Segundo Boeger, “quando os serviços de hotelaria e facilities estão integrados de forma eficiente ao fluxo de trabalho da unidade, podemos alcançar melhorias significativas de 30% a 40%. O tempo entre a saída de um paciente e a entrada de outro no mesmo leito pode variar de menos de duas horas a mais de seis horas, dependendo da eficiência dos processos dentro do desenho de serviços.”
Este cenário se repete, principalmente, nas instituições que não dispõem de procedimentos. A pesquisa revela que 53% dos gestores das instituições não possuem acreditação. Vários obstáculos ainda impedem a obtenção da acreditação: 44% citam o custo elevado; 26% a falta de infraestrutura adequada; 24% o desinteresse da instituição; e 19% a falta de uma equipe capacitada e/ou o desconhecimento da existência de certificações específicas para esta área.
Para Gilvane Lolato, gerente de Operações da ONA, muitas organizações não conseguem atender às legislações básicas e obrigatórias. “Há problemas graves de estrutura física que impactam na segurança do paciente, como Unidades de Terapia Intensiva com dimensionamento inadequado de leitos, Centros Cirúrgicos com áreas físicas inadequadas, Centrais de Material Esterilizado sem separação adequada entre área suja e limpa, e equipamentos sem condições de calibração e manutenção”. Esses problemas são levados em consideração durante o processo de acreditação. Gilvane enfatiza que, quando a metodologia da ONA é aplicada e precisa avaliar o atendimento aos padrões, fica evidente que a acreditação pode parecer cara devido a esses problemas estruturais e de conformidade.