Coluna de Cinema – Edição 06
Terrifier 3: a volta do palhaço assassino
O Halloween é o Natal para os filmes de terror. Data tradicionalmente celebrada em países de língua inglesa, particularmente nos EUA, o chamado Dia das Bruxas, comemorado em 31 de outubro, está cada vez mais forte e incorporado na realidade cotidiana dos brasileiros. Inicialmente comemorado no Brasil apenas nas turmas dos cursinhos de Inglês, pouco a pouco o Halloween virou uma data popular e obrigatória na mídia, nas escolas, no comércio e nas festas temáticas. O cinema não poderia ficar de fora deste forte apelo de consumo. O mês de outubro está se firmando como o mês de preferência para o lançamento dos filmes de terror e horror.
Após uma temporada de muitos lançamentos no gênero, com filmes como A Última Profecia, Maxxxine, Entrevista com o Demônio, Longlegs, Não Fale o Mal, Os Fantasmas Ainda se Divertem, Infestação e Sorria 2, dentre outros, o mês mais assustador do ano fecha com o lançamento de mais um exemplar, justamente no dia 31, dia do Halloween.
Chega às telas Terrifier 3 que traz de volta a figura apavorante do palhaço serial killer em sua saga de assassinatos cruéis. Umas das figuras mais icônicas dos filmes de horror da atualidade, o palhaço Art é protagonista de algumas das sequências mais sanguinárias já vistas no cinema nos últimos anos. Depois de barbarizar nos dois filmes anteriores o palhaço Art retorna ainda mais insano e sarcástico para barbarizar suas vítimas e apavorar o público com suas sessões de violência e tortura.
Mais uma vez com direção de Damien Leone (criador original do personagem e da série) Terrifier 3 é uma sequência direta dos acontecimentos do segundo filme da franquia. Desta vez Art volta para assombrar mais uma vez suas vítimas preferenciais, os irmãos Sienna e Jonathan, sobreviventes do massacre anterior. Enquanto lutavam para reconstruir suas vidas após a tragédia, cinco anos depois os irmãos voltam a ser perseguidos, justamente quando achavam que o passado havia ficado para trás. O vilão assassino é o mesmo, as vítimas também. Mas a época do ano para os acontecimentos é outra. Nos dois primeiros filmes os ataques do palhaço Art aconteciam na noite de Halloween. Agora, a data escolhida é a noite de Natal, com Art incorporando a sinistra figura de um sádico e assustador Papai Noel.
Há um mito, utilizado como ferramenta de marketing e divulgação, de que houve desmaios e pessoas em choque quando o filme anterior foi exibido nos cinemas dos Estados Unidos. Verdade ou fake, o fato é que a notícia viralizou à época, em 2022, e contribui decisivamente para anabolizar as bilheterias e engordar a receita do filme. Inegavelmente há sequências impactantes e angustiantes em todos os filmes da série, bem acima da violência explícita que se vê normalmente nas produções que almejam grandes públicos, com lançamento em salas de cinema de shopping center. Neste quesito a franquia Terrifier certamente subiu a régua e o público tem correspondido nas bilheterias.
De modo geral, e de maneira particular neste Terrifier 3, os filmes da série avançam até os limites da comédia e da sátira, sem, no entanto, se assumir plenamente como tal. Flerta perigosamente no tênue fio da navalha com o risco de ser considerado um irmão gêmeo dos filmes da franquia Todo Mundo em Pânico, este sim uma hilária comédia de terror. Em Terrifier a parte do humor fica limitada apenas à figura do palhaço Art, um personagem pervertido e debochado ao mesmo tempo. Ele não se expressa pela voz, sequer faz ruídos. É um clown, um bobo da corte, um desmistificador do riso, movido por ódio sanguinário, sem empatia alguma pelas vítimas.
No geral Terrifier 3 mantém o bom padrão de produção dos filmes anteriores. Possui uma fotografia elaborada, com cores saturadas e contrastadas, o que denota alguma preocupação estética. Talvez como um artifício visual para contrabalancear com as apavorantes sequências de terror gráfico explícito dos corpos dilacerados. Outro ponto a destacar em Terrifier 3 é o mergulho cada vez mais complexo nas origens do Mal encarnado pelo palhaço serial killer. A cada novo filme da série mais e mais elementos são acrescentados para compor a compreensão da origem da “maldição” ou da demência de Art.
31Terrifier 3 avança algumas casinhas também no nível da violência e insanidade dos assassinatos e sequências de terror. Definitivamente é para estômagos fortes. Portanto, parece claro que o público deve estar ciente do que vai encontrar – e vivenciar – ao entrar na sala de cinema para encarar mais uma “piada mortal” do palhaço assassino. Como diria aquele velho filme de terror dos anos 80: pague para entrar, reze para sair.
Jorge Ghiorzi