Ontem e Hoje: dois dias, duas histórias
…And Justice for All, um disco que, ironicamente, já dizia no título que a justiça — assim como o tempo — pode ser elástica, relativa, reinterpretada
Marcelo Gonzales*
@celogonzales @vidadevinil
Ontem foi 07 de setembro. Hoje é 08. Mas, quando falamos de música, ontem nunca fica realmente para trás. É só pensar no Metallica: em 07 de setembro de 1988, a banda lançou o icônico álbum …And Justice for All, um disco que, ironicamente, já dizia no título que a justiça — assim como o tempo — pode ser elástica, relativa, reinterpretada. Publicamos este artigo hoje, 08 de setembro, mas ontem ainda reverbera. Ontem foi o dia em que riffs ganharam corpo, solos se tornaram eternos e a história foi escrita em vinil, CD e fita. Hoje também é ontem, porque a memória não conhece calendário.
Os lançamentos de 07 de setembro
Em 1988, como dissemos, o Metallica mudava seu rumo com …And Justice for All. Um álbum mais técnico, complexo e sombrio, que trazia músicas longas, riffs intricados e uma postura crítica. Foi o primeiro disco após a morte de Cliff Burton e marcou a estreia de Jason Newsted no baixo. Para muitos, é a prova de que o metal também pode ser político e cerebral.
Avançando para 1999, outro virtuose deixava sua marca: Steve Vai, com The Ultra Zone. O guitarrista explorava não apenas a velocidade, mas também a fusão de estilos, mesclando elementos orientais, experimentais e futuristas. Um trabalho que, até hoje, é referência para quem vê a guitarra como laboratório sonoro.
Em 2004, foi a vez de Ronnie James Dio lançar Master of the Moon. Um álbum melódico, introspectivo e com uma atmosfera quase mística, que mostrou a maturidade de um dos maiores vocalistas do heavy metal.
Já em 2007, o Epica lançou The Divine Conspiracy, trazendo o peso do metal sinfônico aliado a elementos clássicos e progressivos. A combinação de orquestrações épicas com vocais femininos e guturais fez do disco um marco no gênero.
O ano de 2010 veio em dose dupla: o Stone Sour lançou Audio Secrecy, com letras mais pessoais e intimistas, enquanto o Megadeth revisitou o passado em Rust in Peace Live, revivendo no palco um de seus álbuns mais reverenciados.
O que marca o 08 de setembro
Se ontem já foi um turbilhão de estreias, o hoje também não fica para trás. O 08 de setembro guarda nas páginas da música algumas histórias de impacto.
Em 1960, veio ao mundo Aimee Mann, cantora e compositora norte-americana. Dono de uma escrita afiada e melódica, Mann marcou a cena alternativa dos anos 1990 e se tornou figura recorrente em trilhas sonoras de cinema, mostrando que sua arte ultrapassa os limites dos álbuns.
Em 08 de setembro de 1961, nasceu Fernanda Abreu, cantora e compositora brasileira de música pop, conhecida por sua carreira solo e por sua participação na banda Blitz.
Marcus Siepen, guitarrista da banda alemã Blind Guardian, também comemora seu aniversário nesta data. Sua marca foi a guitarra base.
Filho do cantor Roberto Carlos, Dudu Braga faleceu em 08 de setembro de 2021, aos 52 anos, após lutar contra um câncer no peritônio. Ele foi produtor musical e radialista, além de ter acompanhado o pai em diversas turnês.
Dois dias, um fio condutor
O curioso é perceber como 07 e 08 de setembro dialogam. O primeiro, com álbuns que se tornaram marcos no metal, no punk e no sinfônico. O segundo, com nascimentos e despedidas que nos lembram do quanto a música é feita por pessoas que moldam épocas. Ontem e hoje são, no fundo, o mesmo palco. A música não conhece feriado, não respeita o calendário: ela acontece, pulsa, reverbera.
E se o ontem nunca se apaga e o hoje já é memória em construção, resta a pergunta: quais histórias a música vai escrever amanhã?
*Marcelo Gonzales vive entre discos de vinil e muita mídia física, sempre atento à música, à cultura e ao jornalismo, compartilhando histórias que conectam gerações.







