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12 de setembro – Três álbuns, uma constelação de lembranças

12 de setembro – Três álbuns, uma constelação de lembranças
12 setembro
09:08 2025

Em 12 de setembro a música ganhou discos que marcaram gerações. Do lirismo sombrio do Pink Floyd ao retorno explosivo do Aerosmith, até o groove de Lenny Kravitz – relembre esses lançamentos e suas conexões afetivas

Marcelo Gonzales*

@celogonzales @vidadevinil

Há datas que viram pequenos cometas na memória coletiva: não importa a geração, quando o calendário marca um dia e nele houve um grande lançamento, a trilha sonora pessoal de muita gente muda para sempre. O 12 de setembro é um desses dias: ao longo de décadas, ganhou discos que sinalizaram viradas — artísticas, pessoais e culturais. Vamos viajar por três desses momentos, em ordem cronológica, e ouvir os ecos que cada um deixou no próximo.

Lançado em 12 de setembro de 1975, Wish You Were Here é um daqueles discos que envelhecem como cartas guardadas: as palavras e os arranjos ganham camadas com o tempo, e as ausências — principalmente a de Syd Barrett — se transformam em algo quase palpável. A faixa-âncora, Shine On You Crazy Diamond, é uma longa saudação e lamento, um retrato em acorde maior da perda e do mito; Have a Cigar despe uma ironia cortante sobre o mercado musical. O disco solidificou o lado mais contemplativo e crítico do Pink Floyd, e deixou uma marca de elegância melancólica que serviria, décadas depois, como referência de “saudade rock” para artistas que cresceram ouvindo seu espaço sonoro expansivo.

É fácil imaginar um fã que, em 1975, fechou a vitrola no refrão de “Shine On”, e que, anos depois, procuraria no rádio por algo que trouxesse de volta essa intensidade dramática — e encontraria, nos riffs maiores e no retorno triunfal de bandas clássicas nos anos 80, outro modo de sentir a mesma grandeza em forma de rock.

Quatorze anos depois, em 12 de setembro de 1989, o Aerosmith lança Pump, um álbum que cheira a reprise de palco: guitarras gordas, refrões que grudam e o reaparecimento de uma banda que aprendeu a transformar tropeços em combustível criativo. Pump traz faixas-hit que se tornaram hinos de estádio e rádio — é o rock catártico, quase físico, que contrasta com a introspecção do Pink Floyd, mas que, na verdade, compartilha a mesma ambição: transformar sentimento em espetáculo. Enquanto Wish You Were Here pedira um silêncio intenso, Pump exigia o grito.

O fim dos anos 80 e metade dos 90 carregam uma certa fome de groove e retro-referência; fãs que vibraram com o “ressurgimento” do rock encontraram, no meio da década seguinte, artistas que misturavam tradição e modernidade em batidas que convidavam tanto à dança quanto à contemplação e, em 12 de setembro de 1995 saiu Circus, o quarto álbum de Lenny Kravitz, que revisita sonoridades clássicas — soul, rock setentista, funk — e as apresenta com um verniz contemporâneo que dialoga com quem cresceu ouvindo os discos anteriores do gênero. Circus é parte culto à estética retrô e parte comentário sobre a vida sob os holofotes: groove, atitude e um pulso dançante que fecha essa trilogia temporal com um sorriso que lembra vinis gastos e noites de rádio.

Se fecharmos o círculo, começamos no silêncio contemplativo do Pink Floyd, passamos pelo grito encorpado do Aerosmith e terminamos na celebração retrô de Kravitz — três maneiras da música lidar com memória: remoer, reinventar e festejar.

Neste dia também nasceram figuras que, em campo diferente, ajudariam a modelar o imaginário sonoro do século XX: George Jones (nascido em 12 de setembro de 1931) e Hans Zimmer (nascido em 12 de setembro de 1957). Jones, a voz do country que esculpia dor e verdade em cada sílaba, costumava celebrar a tradição: “I loved Roy Acuff with all my heart…” — uma frase que traduz amor por raízes e a ideia de que a música country é, no fundo, uma narrativa sincera da vida. Zimmer, por outro lado, expandiu a emoção através de orquestras e texturas eletrônicas: como disse ele mesmo, “I want to go and write music that announces to you that you can feel something. I don’t want to tell you what to feel, but I just want you to have the possibility of feeling something.” (traduzindo: “Eu quero ir e escrever músicas que te anunciem que você pode sentir algo. Eu não quero te dizer o que sentir, mas eu só quero que você tenha a possibilidade de sentir algo.”) e nessa promessa cabe todo um cinema de sensações. Dois nascimentos, duas maneiras de tocar o público: a voz pequena que faz o mundo caber no verso; a partitura gigante que faz o peito bater coletivamente.

Enquanto isso, no Brasil…

O 12 de setembro também é dia de celebrar nomes que moldaram a nossa música. Em 1935, nasceu Geraldo Vandré, o poeta que transformou canções em bandeiras de resistência; em 1944, veio ao mundo Leci Brandão, cuja voz se tornou um estandarte do samba e da luta social; e em 1956, Roger Rocha Moreira, que fundou o Ultraje a Rigor e levou humor e crítica ácida para o rock nacional. São presenças que lembram que, além das grandes narrativas internacionais, nossas efemérides carregam um Brasil de vozes inquietas, críticas e festivas.

Datas como 12 de setembro são lembretes — não tanto de que o tempo passa, mas de como ele coleciona trilhas sonoras para as nossas vidas. Entre a melancolia quase cinematográfica do Pink Floyd, o renascimento estrondoso do Aerosmith e a reverência groove de Lenny Kravitz, há um fio: cada álbum, à sua maneira, pediu que a gente se lembrasse  do que fomos, do que queremos ser e das músicas que voltamos a tocar quando precisamos nos reconhecer. E, se o mundo celebrou Jones e Zimmer, nós celebramos também Vandré, Leci e Roger: vozes que, em seu tempo, também nos ajudaram a cantar, resistir e rir.

*Marcelo Gonzales vive entre discos de vinil e muita mídia física, sempre atento à música, à cultura e ao jornalismo, compartilhando histórias que conectam gerações.

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