Marina Lima e seus 70 anos
Marina, que pode ser explosiva ou sussurrante, mas nunca perde sua autenticidade
Marcelo Gonzales*
@celogonzales @vidadevinil
Hoje, ao celebrar os 70 anos de Marina Lima, me pego pensando na força e na delicadeza dessa voz que atravessa gerações. Marina não é apenas uma cantora; é uma intérprete da vida, alguém que nos faz sentir cada acorde como se fosse parte da nossa própria história. Lembro-me da primeira vez que ouvi Fullgás e pensei: “é isso, quero viver assim, com intensidade, sem medo”. E então vem o refrão, aquele “fullgás”, que não é só uma palavra, é um convite à liberdade, à coragem de se lançar, mesmo sem saber todos os passos. Em Me Chama, sinto o desejo pulsando, a urgência de amar, e percebo que Marina sabe transformar sentimentos universais em poesia que cabe na alma de cada um de nós.
Quando mergulho em álbuns como Todas (1985), noto a ousadia nos arranjos, o uso dos sintetizadores, a maneira como cada acorde parece contar uma história própria. É pop, é MPB, é rock, e ainda assim, é Marina. E nos anos 90, em Marina Lima (1991) ou O Chamado (1993), ela experimenta sons mais densos, camadas de guitarra, baixo e bateria que parecem dialogar com a voz e com cada emoção que as letras evocam. Em “Não Sei Dançar”, por exemplo, não há apenas passos de dança; há a vulnerabilidade de se lançar na vida, de enfrentar o desconhecido, e a gente se reconhece nesse medo e nessa coragem.
O Acústico MTV (2003) é uma aula de intimidade musical. Ouço as cordas, o violão, o piano, e percebo que cada nota foi cuidadosamente pensada para realçar a voz de Marina, que pode ser explosiva ou sussurrante, mas nunca perde sua autenticidade. Cada músico que passa por seus discos contribui, mas é Marina quem conduz, e é ela que nos faz sentir. Em “Veneno” ou em “Mesmo Que Seja Eu”, sentimos a entrega, a intensidade, aquela vontade de viver plenamente que só uma artista que conhece a vida tão profundamente consegue transmitir.
O que mais me impressiona é como suas músicas atravessam gerações e momentos da vida de cada um. Em “Criança”, voltamos à inocência e à liberdade. Cada álbum, cada faixa, cada detalhe de produção, dos sintetizadores de Todas ao baixo pulsante de Desta Vida, Desta Arte, até a suavidade acústica do Acústico MTV, é pensado para criar essa ponte entre Marina e nós, ouvintes, como se cada canção fosse um diálogo íntimo.
Hoje, ao celebrar 70 anos de Marina Lima, convido você a fazer o mesmo que eu: pegar fones de ouvido, abrir os discos, e se permitir sentir. Ouça cada letra, cada melodia, cada arranjo. Deixe Marina conduzir você, como fez comigo tantas vezes, mostrando que a música não é só som, é memória, é emoção, é vida. Aperte o play, sinta cada palavra e cada acorde, e descubra, como eu, que ouvir Marina é encontrar a coragem de viver em “fullgás”, de amar intensamente e de dançar, mesmo sem saber todos os passos.
*Marcelo Gonzales vive entre discos de vinil e muita mídia física, sempre atento à música, à cultura e ao jornalismo, compartilhando histórias que conectam gerações.







