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Do Grunge à Praia de Angra: Minha Geração Entre Nirvana e Chili Peppers

Do Grunge à Praia de Angra: Minha Geração Entre Nirvana e Chili Peppers
24 setembro
13:34 2025

1991 foi um divisor de águas, não apenas no rock, mas na forma como vivíamos a música

Marcelo Gonzales*

@celogonzales @vidadevinil

Eu me lembro bem do impacto que dois discos lançados no mesmo 24 de setembro de 1991 tiveram na minha vida. Nevermind, do Nirvana, e Blood Sugar Sex Magik, do Red Hot Chili Peppers, chegaram juntos às prateleiras, mas ganharam vida mesmo foi pela tela da MTV, que estava no auge da sua influência. Era impossível ligar a TV sem esbarrar em Smells Like Teen Spirit, aquele clipe caótico com ginásio escolar e jovens explodindo em energia, um retrato perfeito do espírito grunge. Ao mesmo tempo, a sensualidade crua de Give It Away, com suas imagens em preto e branco, mostrava os Chili Peppers em uma fase quase tribal, orgânica, como se a música pudesse ser sentida na pele.

Eu estava no meu auge como consumidor da MTV, vivendo entre São Paulo, Rio e Angra dos Reis, e cada lugar tinha seu próprio jeito de absorver aquele fenômeno. Em São Paulo, era nos bares alternativos e nas fitas cassete trocadas entre amigos, no Rio, as festas universitárias abraçavam Under the Bridge como hino melancólico de fim de noite, já em Angra, com os amigos de praia e violão, os riffs de Flea e Frusciante viravam tentativas desajeitadas, mas apaixonadas, de reproduzir algo que parecia muito além do nosso alcance.

O Nirvana trouxe o grunge como uma avalanche. De repente, camisas de flanela, jeans rasgados e uma atitude de desencanto viraram moda, mas mais do que estética, era sentimento. O Brasil, que até então tinha a sua cena de rock nacional consolidada com Legião, Titãs, Paralamas, se viu impactado por um som de Seattle que dialogava com a rebeldia de toda uma geração daqui. Em paralelo, o Red Hot Chili Peppers mostrava um outro lado da mesma moeda: a mistura de funk, rock e sensualidade, que aqui ecoava tanto nas rádios quanto nas pistas de dança alternativas. Quem ligava a MTV no início dos anos 90 sabe: o clipe de Suck My Kiss passava na mesma sequência que Come As You Are, e era nesse contraste que se forjava o repertório de toda uma juventude.

Esses dois álbuns, lançados no mesmo dia, moldaram não só a cena internacional, mas também a brasileira. A gente começou a ver mais festivais trazendo bandas internacionais, mais garotos montando grupos inspirados em Seattle ou em Los Angeles, mais revistas especializadas chegando às bancas. Para mim, mais do que discos, foram companheiros de época, trilhas sonoras das minhas viagens de ônibus, de tardes vendo a MTV com os amigos, de conversas intermináveis sobre qual riff era melhor ou qual letra fazia mais sentido. É uma lembrança que nunca se apagará, porque assim como eu, todos que viveram aquele tempo guardam consigo a certeza de que 1991 foi um divisor de águas, não apenas no rock, mas na forma como vivíamos a música.

*Marcelo Gonzales é autor do blog Que Dia é Hoje?, vive entre discos de vinil e muita mídia física, sempre atento à música, à cultura e ao jornalismo, compartilhando histórias que conectam gerações.

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