“Sua Tese em Três Minutos” propõe exercício de comunicação científica na UFPel
Com linguagem simples, mais próxima da do cotidiano, evento busca divulgar as pesquisas feitas na universidade
Os cursos de doutorado têm como objetivo proporcionar à sociedade conhecimento novo, inédito, em uma determinada área do saber, comumente na forma de um trabalho acadêmico denominado “tese”. Em razão de sua complexidade, essas pesquisas geralmente exigem quatro anos de dedicação para o seu desenvolvimento. O exercício de divulgação científica lançado pela 11ª Semana Integrada de Inovação, Ensino, Pesquisa e Extensão (Siiepe) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), na forma de mostra competitiva, foi a apresentação em três minutos, na noite da quinta-feira (23), no Pelotas Parque Tecnológico, os resultados de teses de doutorado em desenvolvimento na Instituição, para um público não familiarizado com a linguagem acadêmica.
O modelo “Sua Tese em três minutos”, em sua sexta edição na UFPel, é inspirado na iniciativa da Universidade de Queensland (Austrália) para contribuir com a divulgação da ciência. O formato tem sido adotado por centenas de instituições, distribuídas em 85 países. Durante o evento, a coordenadora de Pesquisa da UFPel, Márcia Mesko, ressaltou a importância desse espaço para o compartilhamento das pesquisas com a comunidade, a exemplo da Rua da Ciência — umas das novidades da 11ª Siiepe —, pela utilização de uma linguagem simples, mais próxima da do cotidiano. “É uma forma de disseminar o que a gente faz com pesquisa na nossa Instituição, de forma acessível à comunidade”, comemorou.
No “Sua Tese em três minutos”, doze estudantes de doutorado compartilham dos resultados obtidos em suas pesquisas, de forma concisa, para uma audiência não especializada. Além de respeitar o cronômetro, entre as regras, não é permitido utilizar mais de um slide, nem levar objetos ou realizar performances. A avaliação ficou por conta de banca externa e da votação do público, sob os critérios de compreensão, conteúdo, envolvimento e comunicação.
Pesquisas premiadas

A pesquisa de Morgana Azevedo, do Programa de Pós-Graduação em Bioquímica e Bioprospecção, conquistou o primeiro lugar. A estudante apresentou resultados de sua pesquisa para utilização de microproteína do leite, a lactoferrina, para fins de cicatrização. Evitar feridas abertas, explicou, “significa menos leitos ocupados e mais vidas retomadas […]. É uma questão de saúde pública”.
A proposta é transformar o conhecimento sobre as propriedades antimicrobianas e antivirais da lactoferrina em um curativo, para, assim, reduzir a dor, acelerar a regeneração e “devolver a qualidade de vida para milhões de pessoas”. Os experimentos laboratoriais realizados na UFPel, em pele humana, indicam resultados positivos e o potencial anti-inflamatório no uso dessa microproteína.

Em segundo lugar, Daniele Mesquita, do Programa de Pós-Graduação em Física, relatou o desenvolvimento de alternativa sustentável aos cintiladores de raios X (radiação eletromagnética de alta energia), equipamentos utilizados para transformar a luz em imagens do interior do corpo que servem de base para diagnósticos médicos, como na tomografia e na mamografia. O problema é que nessas tecnologias, ensina a estudante, ou são utilizados materiais com base em chumbo, prejudiciais ao meio ambiente e à saúde, ou são dependentes do refinamento das chamadas “terras raras”, o que demanda alto custo de importação. A sua pesquisa, com base em testes em forno micro-ondas, propõe a produção de material cintilador com o composto zirconato de bário, de forma econômica e sustentável. “É a capacidade da Física de produzir soluções tecnológicas e inovadoras para o que parece invisível”, celebrou.

A pesquisa sobre a proteção à cultura do arroz diante de altas temperaturas, da estudante Fernanda Corrêa, recebeu o prêmio pelo terceiro lugar. A tese em desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação em Fisiologia Vegetal indica a utilização de bactérias presentes no solo para tornar as plantas mais tolerantes às ondas de calor provocadas pelo aquecimento global. “Essas bactérias são como personal trainers“, compara, ao explicar que aos 32ºC o cultivo do arroz, “um dos alimentos mais importantes do mundo”, começa a ser impactado.
A pesquisadora, então, coletou centenas de bactérias para testá-las em plantas, expostas a temperaturas elevadas. “As plantas que receberam as bactérias cresceram mais, ficaram mias vigorosas, com raízes e folhas mais fortes. No futuro, a gente pode pensar nessas bactérias de forma mais sustentável: unir ciência e natureza para enfrentar as mudanças climáticas e garantir alimentos”, projetou.

Já a tese de Eduardo Chaves, no Programa de Pós-Graduação em Odontologia, expôs os resultados do desenvolvimento de ferramenta de inteligência artificial para auxiliar dentistas na identificação da cárie (degradação do dente em decorrência de bactérias). O recurso permite que “alarmes falsos diminuam muito” para esses profissionais, evitando equívocos com outros diagnósticos que não demandariam, por exemplo, a extração dentária. Dessa forma, a intervenção odontológica sem a real necessidade poderia ser evitada. “Decisões corretas preservam dentes e mantêm a saúde. A inteligência artificial não substitui o olhar humano, ela o amplia”, argumentou.







