HE-UFPel realiza cirurgia de alta complexidade planejada com softwares livres
Ferramentas digitais gratuitas e trabalho integrado de equipes viabilizam reconstrução mandibular em paciente do SUS
Como a tecnologia pode ampliar a segurança e preservar funções importantes para pacientes atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS)? No Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), uma cirurgia de alta complexidade planejada com softwares livres permitiu tratar lesão óssea da mandíbula e manter as estruturas necessárias para a reabilitação do paciente. O procedimento foi realizado pelas equipes de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (CTBMF) e de Cirurgia de Cabeça e Pescoço.
O planejamento cirúrgico utilizou ferramentas digitais gratuitas para simular a remoção da lesão, espelhar a área saudável da mandíbula e definir a anatomia esperada após a reconstrução. Essa etapa possibilitou precisão ao tratamento, preservou a função mandibular e ampliou as possibilidades de reabilitação do paciente. Participaram do procedimento professores, cirurgiões-dentistas e médicos do curso de Odontologia da UFPel e do Hospital Escola: Pedro Carvalho, Antônio Fogaça, Eduardo Gomes e Henrique Vieira, além das residentes Anna Thais e Paiva e Maria Luiza Oliveira.
O cirurgião-dentista especialista em Cirurgia Bucomaxilofacial, Pedro Carvalho, explicou que o processo começou com o planejamento digital da cirurgia. “O que torna essa cirurgia inovadora no contexto do SUS é a utilização de ferramentas digitais de planejamento cirúrgico baseadas exclusivamente em softwares livres. Com esses recursos, conseguimos realizar, no ambiente virtual, a ressecção da lesão e o espelhamento do lado saudável da mandíbula. Isso garantiu a preservação da anatomia original do paciente e reduziu, significativamente, as sequelas decorrentes da remoção do tumor”, afirmou.
Segundo Pedro, todos os passos foram simulados previamente no computador: “Após o planejamento digital, transformamos a mandíbula reconstruída virtualmente em um biomodelo físico, produzido por impressão 3D. Esse modelo permitiu que toda a equipe tivesse uma visualização precisa da estrutura anatômica antes do procedimento, orientando decisões técnicas importantes e aumentando a segurança da cirurgia”.
O biomodelo também foi utilizado para moldar a placa de titânio que seria instalada durante a cirurgia. “A placa foi moldada diretamente sobre esse modelo, respeitando exatamente o formato desejado para reestabelecer a anatomia do paciente. Em seguida, a placa pré-moldada foi escaneada, gerando um arquivo tridimensional, que serviu como referência para que pudéssemos reproduzir, durante a cirurgia, o mesmo posicionamento planejado virtualmente”, pontuou Pedro.
A partir desse arquivo digital, foram confeccionados guias cirúrgicos esterilizáveis. “Esses guias indicaram com precisão os pontos de perfuração necessários para a fixação da placa, garantindo que o planejamento e a execução fossem equivalentes”, completou o cirurgião-dentista.
Integração entre equipes e impacto para o SUS
A equipe de Cirurgia de Cabeça e Pescoço atuou na retirada do tumor e na remoção do enxerto ósseo da crista ilíaca, etapa essencial para a reconstrução planejada. A crista ilíaca é a porção superior do osso do quadril, localizada na região lateral da bacia, e uma área utilizada, com frequência, como fonte de enxerto ósseo em cirurgias reconstrutivas.
Pedro explicou que “o enxerto foi ajustado com precisão para ocupar exatamente o defeito ósseo previsto no planejamento digital. Com isso, o paciente preservou seu contorno anatômico e manteve a estrutura necessária para, no futuro, receber implantes dentários na região reconstruída”. Dessa forma, a equipe possibilitou que o paciente fosse tratado, mantivesse a qualidade de vida e tivesse reais possibilidades de reabilitação.
Para o SUS, o impacto é significativo, como apontou o cirurgião-dentista: “Na rede privada, o planejamento virtual pode representar mais de 50% do custo total de uma cirurgia como essa. Ao utilizarmos softwares livres e integrarmos as equipes da UFPel e do Hospital Escola, conseguimos realizar o procedimento sem custos adicionais para o paciente ou para a instituição”.
Além disso, o projeto abre caminho para novas pesquisas. A intenção, segundo Pedro, “é ampliar o uso desses softwares, comparar o planejamento virtual à tomografia pós-operatória e desenvolver protocolos aplicáveis a cirurgias guiadas. A parceria com a Radiologia Odontológica e com a residência em CTBMF fortalece essa perspectiva de inovação no SUS”.







