Desnutrição mata 20% dos pacientes com câncer no Brasil
Nesta Semana Nacional de Combate ao Câncer, o diagnóstico precoce das condições clínicas e nutricionais é imperioso no paciente oncológico
O alerta parte de especialistas brasileiros em nutrição que, unidos, querem tornar evidente o problema. Mais de 66,3% dos doentes com câncer estão desnutridos. A associação da doença resulta em maior taxa de infecção e mais tempo de permanência nos hospitais.
O resultado é preocupante, uma vez que 20% dos pacientes com câncer morrem por desnutrição e não pela doença ou pelo tratamento”, observa Nivaldo Pinho, chefe do Departamento de Nutrição do Instituto Nacional do Câncer. “Aumentar a educação médica e fornecer elementos de terapia nutricional como suplementos nutricionais orais, tubos de alimentação e outros dispositivos relacionados são aspectos importantes para a mudança”, observa Pinho.
PREVALÊNCIA DA DESNUTRIÇÃO – Pinho é um dos estudiosos autores de um position paper que reúne 49 artigos de 18 países sobre desnutrição clínica. O documento atualizou dados do IBRANUTRI, levantamento que em 1996 revelou que quase metade (48,1%) dos pacientes internados na rede pública de país apresentam algum grau de desnutrição; 12,6% graves e 35,5% moderados.
O IBRANUTRI também identificou que a desnutrição hospitalar apresenta níveis diferentes, de acordo com a região estudada, bem como o estado em questão, aumentando significativamente nas regiões Norte/Nordeste. O Pará foi o Estado com maior incidência de desnutrição. Ali, 78,8% dos pacientes analisados eram desnutridos, 29,4% dos quais, gravemente. A Bahia vem em seguida, com 76% de desnutridos. O quadro foi considerado grave em 33,7% dos pacientes. Mas o problema não se limita às regiões menos desenvolvidas do país. Em Minas Gerais, na região Sudeste, 54,4% dos pacientes analisados tinham alguma desnutrição.
REAÇÃO – O problema é grave e está estimulando especialistas renomados a fortalecerem estudos e evidências científicas a fim de estimular a melhoraria de políticas de tratamento. “Até 60% dos pacientes internados na América Latina estão desnutridos”, afirma Dan Waitzberg, gastroenterologista e professor associado da Faculdade de Medicina da USP. Dan está à frente de um novo estudo de posicionamento (com textos de 49 autores de 18 países) que convida médicos, gestores públicos e a comunidade hospitalar a enfrentarem a desnutrição clínica no país. Segundo o médico, a doença é a mais prevalente no país e não está nas estatísticas de mortalidade.
TIPOS – De acordo com Dan, há três categorias de desnutrição, que é a falta de nutrientes essenciais para o corpo humano. A primeira é a desnutrição ‘primária’ – quando alguém que não tem condições de comprar alimentos chega ao hospital. Em geral, a pessoa procura um hospital público, mas, economicamente, por conta de poucos recursos, acaba comendo mais carboidratos. Não come vitaminas e minerais. Muitas vezes, é até um indivíduo obeso, mas é um desnutrido porque a massa magra é muito reduzida.
A chamada desnutrição ‘secundária’ é causada pela doença que levou o paciente ao hospital, a exemplo de câncer, infecções, doenças inflamatórias, renais, hepáticas e cardíacas. .A terciária se dá quando a pessoa fica desnutrida durante a estadia no hospital. A pessoa fica em jejum para exames, nem sempre realizados, e prolongados. E tem reação a certos tipos de náuseas e vômitos e ainda pode não gostar e não comer a comida do hospital.
“Um em cada quatro pacientes com câncer morre por desnutrição e as declarações de óbito sequer mencionam o problema”, observa Robson Moura, presidente da Associação Baiana de Medicina (ABM). “Precisamos aumentar o apoio nutricional a quem recebe alta hospitalar e ainda demanda tratamentos como por exemplo os pacientes oncológicos. Ou ainda, aqueles que irão, por exemplo, ser operados e que precisam melhorar as condições nutricionais, algo que pode ser feito em casa e não no hospital,” esclarece Maria Isabel Toulson Davisson Correia, orientadora plena do programa de pós-graduação em Nutrição da Faculdade de Enfermagem da UFMG, do programa de Ciências de Alimentos da Faculdade de Farmácia da UFMG.