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segunda, 25 de novembro de 2024

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Obesidade no Brasil: como melhorar o cenário?

Obesidade no Brasil: como melhorar o cenário?
15 dezembro
14:12 2017

Especialistas comentam medidas cabíveis na luta contra o problema

Segundo dados do Ministério da Saúde (VIGITEL 2016/ MS), não há dúvidas sobre a dimensão que a questão atingiu no Brasil: 62% da população está excessivamente acima do peso. O problema, frequentemente discutido por profissionais e autoridades em saúde no mundo inteiro, representa uma das maiores preocupações associadas à qualidade de vida atualmente. No Brasil, busca-se compreender como se pode frear o crescimento do distúrbio em um país onde as áreas de Educação e Saúde ainda precisam evoluir. No entanto, antes de identificarmos as soluções mais adequadas e efetivas, precisamos entender o cenário brasileiro e o que está levando ao aumento desenfreado da obesidade.

“Isso (62% da população obesa) pode ser explicado por alguns motivos, entre eles a aceleração do ritmo das atividades rotineiras, que tem como consequência o ato de se alimentar sem atenção aos sinais do corpo, como o da saciedade”, comenta a nutricionista Marcia Daskal. Outro ponto relevante é destacado pelo antropólogo Raul Lody. Para ele, o aumento das porções e a frequência de refeições fora de casa fazem com que que as pessoas comam cada vez mais rápido e sem afeto com os ingredientes, tornando automático o ato de alimentar-se.

Outro dado agravante é evidenciado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em sua mais recente investigação sobre a prática de esportes e atividades físicas na população de 15 anos ou mais, faixa etária na qual mais da metade da população brasileira é apontada como sedentária. “O estilo de vida do brasileiro está inadequado e o sedentarismo precisa ser combatido com a mesma seriedade que enfrentamos a má alimentação. Na verdade, é preciso educar as pessoas para entenderem a relação inseparável entre os dois aspectos para uma melhor qualidade de vida”, pontua o preparador físico Marcio Atalla.

O especialista sugere ainda algumas dicas simples que podem ter um impacto positivo no longo prazo, como: subir as escadas do lugar onde se mora ou trabalha, nem que seja, no início, poucos andares; programar-se para a cada uma hora sentado, levantar-se e circular para que o corpo não se acostume com a inércia; optar por estacionar o carro em vagas mais distantes do local de destino, entre outros. “Essas são atitudes que começam a fazer uma importante diferença na saúde”, completa.

O doutor Daniel Magnoni, cardiologista e nutrólogo do Dante Pazzanese, complementa afirmando que “a obesidade acaba sendo também condutora de outras doenças, já que está relacionada à deficiência do sono, sobrecarga do metabolismo e maior dificuldade para praticar atividades físicas. Além disso, há a questão do isolamento social, já que a parte psicológica e autoestima do paciente também são fortemente afetadas”.

Frente a este cenário, muito se discute sobre as medidas que podem ser tomadas, e, atualmente, o debate é focado em três propostas: taxação (aumento de impostos de alimentos com açúcar), mudança de rotulagem nutricional e redução de açúcar em produtos industrializados. Mas será que é esse o melhor caminho a ser seguido? Estamos buscando educação ou punição?

O que dizem os especialistas

Enquanto o poder público tende a tomar decisões punitivas, especificamente contra o açúcar, para combater a obesidade, posicionado o ingrediente como o “vilão” da vez, especialistas de diferentes áreas sugerem uma outra visão. “Não acredito que medidas impositivas funcionem no longo prazo. Com isso, quero dizer que não adianta culpar um ingrediente específico pelos diversos problemas de saúde. É necessário incluir o cidadão no poder da escolha consciente, e isso só se atinge educando”, sugere Raul Lody.

“Existem tendências desonestas em culpar o inimigo errado! Não é o açúcar, não era o sal e nem o ovo, mas sim o sedentarismo e a falta de instrução. O caminho é munir a população de informação de credibilidade”, conclui Marcio Atalla. Para o preparador físico, ainda assim, nota-se a falta de iniciativas governamentais que trabalhem frente a essa tendência, que procura uma solução que não atue apenas na questão imediata, mas que busque minimizar os danos no futuro. Para o cardiologista e nutrólogo, Daniel  Magnoni, a restrição inevitavelmente leva à compulsão alimentar, que é justamente um dos maiores inimigos e causadores da doença.

Uma alimentação equilibrada, sem abusos ou restrições, aliada à prática de exercícios, é a chave para a qualidade de vida, podendo auxiliar na diminuição de estresse e beneficiando a rotina do sono. As combinações desses fatores promovem uma vida mais saudável, prevenindo as pessoas do desenvolvimento de diversos tipos de doenças. Para Marcia Daskal, a questão não é cortar um tipo de alimento, mas conquistar o equilíbrio: a frequência e a quantidade de consumo são mais importantes do que um alimento em si.

Frente a isso, os especialistas concordam sobre a importância da implementação de medidas públicas que impulsionem uma mudança efetiva para hábitos mais saudáveis, levando em conta trabalhar a reeducação alimentar nas escolas e nos programas de saúde, além de combater o sedentarismo, reintegrando o cidadão dentro do espaço urbano, por exemplo.

Outra proposta que pode contribuir com a melhora do cenário atual é a orientação de profissionais da saúde e da educação sobre como repassar informações valiosas para uma alimentação equilibrada, variada e, sobretudo, saudável.  Aqui é preciso lembrar que não existe nenhum alimento vilão, ou proibido; não basta taxar um ingrediente ou discriminá-lo, mas sim ampliar o debate para incluir quantidades adequadas e o consumo consciente.

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