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Estudo questiona relação entre gestações e risco cardiometabólico

Estudo questiona relação entre gestações e risco cardiometabólico
06 fevereiro
15:27 2018

O número de gestações que uma mulher já teve não tem efeito direto sobre o desenvolvimento de fatores de risco para doenças cardiovasculares e metabólicas maternas

É o que sugere um novo estudo desenvolvido em tese de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPel. A associação entre gestação e risco cardiometabólico é um tema ainda em discussão na ciência. Estudos prévios apontavam o número de filhos como um dos fatores que contribuem para o aumento de obesidade e dos níveis de pressão arterial, glicose sanguínea e perfil lipídico maternos. A pesquisa da UFPel, no entanto, indica que a relação entre paridade e esses fatores não é de causa e efeito.

“Apesar de ser um evento pontual, a gravidez pode trazer consequências duradouras para as mulheres. As mudanças fisiológicas e hormonais do período gestacional são citadas como possíveis mecanismos pelos defensores da hipótese de que quanto maior o número de filhos, maior o risco cardiometabólico. No entanto, mesmo na literatura acadêmica, esse tópico não é consenso”, explica a acadêmica Bárbara Reis-Santos, autora do trabalho realizado sob orientação do epidemiologista Bernardo Lessa Horta.

Os autores do trabalho adotaram uma estratégia até então inédita em estudos brasileiros para entender a questão. A pesquisa investigou a associação entre número de filhos e fatores de risco cardiometabólico em mulheres e, também, em homens adultos.   “Se a relação entre número de filhos e fatores de risco cardiometabólico se deve a alterações da gravidez que poderiam se acumular, isso irá se confirmar em mulheres, mas não em homens”, aponta Reis-Santos.

O grupo de pesquisa utilizou informações de 1.620 mulheres e 1.653 homens, aos 30 anos de idade, que realizaram entrevistas e avaliações de saúde entre 2012 e 2013, dentro da série de acompanhamentos previstos para os participantes da coorte de nascimentos iniciada em 1982 na cidade de Pelotas (RS). Foram coletados dados sobre número de filhos, circunferência da cintura, IMC (Índice de Massa Corporal), percentual de massa gorda, e níveis de pressão arterial, glicemia, colesterol total, LDL e HDL, triglicerídeos e proteína c-reativa. De acordo com os dados, 33% das mulheres e 48% dos homens não tinham filhos.

Os resultados revelam associação entre número de filhos e medidas de IMC e circunferência da cintura para ambos os sexos. Ter filhos representou aumento de 0,96 kg/m2 no IMC de mulheres e de 0,79 kg/m2 no IMC de homens. A circunferência da cintura foi 4,83 cm maior entre mães e 3,41 cm entre pais, no grupo com três filhos, quando comparados com mulheres e homens sem filhos. A paridade também esteve associada a uma redução da pressão arterial e dos níveis de colesterol HDL apenas em mulheres, o que possivelmente não modifica o risco cardiovascular, uma vez que não houve alterações para o colesterol não-HDL.

Com resultados semelhantes para ambos os sexos, as evidências apontam que alterações da gestação não ocasionam um maior risco para mulheres. “Características sociodemográficas e comportamentais que levam mulheres e homens a um maior número de filhos possivelmente são as verdadeiras causas do maior risco cardiometabólico”, concluem os pesquisadores.

O trabalho, intitulado “Gestação e risco cardiometabólico: Associação entre aspectos relacionados à gestação e fatores de risco cardiometabólicos”, será apresentado em defesa de tese, que ocorre em 22 de fevereiro, às 9h, no auditório Kurt Kloezel. A sede do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPel fica na rua Marechal Deodoro, 1160, 3º andar.

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