LITERATURA : Amores desvelados num mosaico de narrativas
Sábado às 19h na Bibliotheca Pública Pelotense, Rafael Montoito estará autografando o volume “Amores Interrompidos”
Por Carlos Cogoy
O selo vermelho, O amor dos nossos, Pelos por todos os lados, Quintessência, Noite de Breu e Odor de velas. Alguns dos contos que integram o volume “Amores interrompidos” (400 páginas), autoria do escritor e professor pelotense Rafael Montoito. No lançamento, que acontecerá sábado na Bibliotheca Pública às 19h, além dos autógrafos, haverá explanação do advogado Rodrigo Cardozo. O escritor explica: “Pedi pra ele, agora que já leu todos os contos, comentar algo sobre o livro. É um ‘olhar de leitor’, não uma análise profissional, mas convidei-o porque não queria que as pessoas apenas comparecessem, comprassem o livro e fossem embora. Eu queria um ‘momento’, e não queria ser eu mesmo a falar do livro”. A capa da obra é criação de Maria Hobuss, e a publicação independente também poderá ser adquirida via contato com o autor no Facebook, ou através do email: [email protected]
SENTIMENTOS – Os dez contos de “Amores interrompidos” foram escritos, em três anos recentes, durante as férias de Rafael. “Até hoje não tive necessidade de anotar nada. As ideias vêm nos momentos que menos espero e ficam na minha cabeça, maturando, crescendo, na maioria das vezes se desenvolvendo sozinhas. No final do livro, há uma seção na qual comento de onde veio a inspiração para cada conto. Em geral, consigo pensar cenas inteiras ou diálogos, sem precisar parar para fazer isso. Tenho a impressão que, na maioria das vezes, a história se forma por si só e os personagens, se não se determinam totalmente porque são submissos às minhas palavras, têm uma forma própria de se movimentarem na história que volta e meia me surpreende. Em algum momento, a história parece ficar maior do que minha cabeça, ela ‘quer’ sair, sinto que ‘preciso’ escrevê-la porque não consigo parar de pensar nela. Se não as escrever, parece que não vou conseguir dedicar minha atenção a mais nada. É aí que, acho, a história está pronta. E é aí que começo a escrevê-la. O que mais me interessa como escritor são os aspectos psicológicos e sentimentais das personagens, desencadeados pelas suas escolhas e pelas relações humanas. Isso, penso, é diferente do que escreve a maioria dos autores que li. Foco sobretudo nos sentimentos, profundamente, e como estes sentimentos mexem com a personagem: se gagueja, se o corpo fica entorpecido, se o coração parece apertar no peito, se as mãos tremem. Mas os relacionamentos se passam em algum cenário social, logo são afetados por eles. Neste livro há um conto que se passa numa charqueada, em alguns anos pré-revolução Farroupilha, e outro que tem um personagem que passou pelos porões da ditadura”, diz o escritor.
AMORES – Sobre o livro, Rafael acrescenta: “’Amores interrompidos’ não querem dizer amores infelizes ou amores acabados. A ideia dos contos é abordar algum momento de fissura nas relações, a qual poderá colocar fim a um amor ou fortalecê-lo ainda mais. Sobre a temática, nem todos os contos são de amor romântico, de casais, pois há também amores entre familiares, entre amigos, amor por um bichinho de estimação e por um ideal”.
PUBLICAR – Na trajetória literária, Rafael lançou os romances: “Sangue e saudade” (2000); “Um bom lugar para morrer” (2010). O primeiro foi publicado de forma independente, e o segundo pela editora da UFPel num selo comemorativo. Acerca do livro de contos, ele observa sobre a opção pela edição independente: “Procurei algumas editoras no começo, mas o processo de seleção é difícil e longo. Assim, estando o livro pronto, eu queria logo colocá-lo na rua, saber a opinião de quem o lê, fazer o livro ‘existir’, ao invés de ficar esperando alguma editora”.
Ler e escrever
O autor Rafael Montoito considera a escrita como “necessidade”. Segundo ele: “Quando a história está pronta, ou quase, preciso escrevê-la, porque ficar pensando nela me impede de pensar no resto. Acho que, como qualquer outra coisa na vida, a escrita tende a se aperfeiçoar com o tempo, e nossa sensibilidade tende a se aguçar com a leitura, por isso penso que este livro, apesar de ser o primeiro de contos, tem mais a dizer, em histórias e em estilos, do que os anteriores. Considero que o meu desejo de escrever é processo natural de quem, desde pequeno, ama ler. É uma ‘reverberação’. Acho que não saberia escrever, em estrutura e ideias, se não fosse um bom leitor”.
LEITURA – Acerca do hábito do ler, ele menciona: “Ler talvez seja o que mais gosto de fazer, e leio bem menos do que gostaria, porque o trabalho me ocupa muito. Mas sempre ando com um livro: aeroporto, rodoviária, fila de banco, praça de alimentação do shopping. O livro me faz companhia e, se tenho que esperar algo, vou adiantando a leitura. Mas também gosto muito de ler na minha casa, sozinho, imerso, daquele tipo de gente que passa o final de semana inteiro lendo”.
ORIGEM – Na infância, Rafael acompanhava a mãe que lecionava no Dom João Braga. Ainda sem saber ler, ele ficava na biblioteca, onde a professora Lisbela Corrêa às vezes lia para ele. A experiência, afirma o escritor, foi fundamental, pois ao fim do primeiro ano, já criava e ilustrava as próprias histórias. Alfabetizado, pedia livros aos pais. Assim, venceu dois concursos de redação. No Dom João Braga, também teve apoio da professora Jurema. Em cadernos, primeiras redações e contos. Na sexta série, aos treze anos, o primeiro romance “Amor meu” – inédito -, com cem páginas. Na oitava série, escreveu “Moça de cabaré”, que seria a base para o romance de estreia “Sangue e saudade”.
Ensinando matemática através da literatura
Rafael Montoito é pesquisador e docente no IFSul. Na área profissional, tem publicações que aproximam a matemática e a literatura. A publicação “Ensinando matemática através da literatura” (2010), apresenta parte da pesquisa de mestrado. Ele esclarece: “A partir da análise das obras de Lewis Carroll, autor de ‘Alice no País das Maravilhas’, trago ao leitor parcela da dissertação de mestrado, na qual mostro que o uso da literatura pode ser uma nova proposta metodológica para o ensino da matemática na sala de aula. Analisando o ambiente de Lewis Carroll, que também era professor de matemática, identifico determinados elementos que compõem suas obras e que podem auxiliar no desenvolvimento cognitivo dos alunos. Numa abordagem que leva em consideração a dimensão afetiva e o raciocínio lógico do estudante, teço argumentos para a união da literatura e da matemática em sala de aula, demonstrando, com exemplos, como trabalhar alguns conteúdos através de trechos de ‘Alice no País das Maravilhas’ e ‘Alice Através do Espelho’”.
ROMANCE “Chá com Lewis Carroll” é de 2011. O autor observa: “Há quem pense em Literatura como um conteúdo escolar e matemática como outro, isolados e ensinados separadamente. Parte da minha dissertação de mestrado, ‘Chá com Lewis Carroll’ é um romance que mostra como conciliar estas duas disciplinas, dando ênfase ao ensino da matemática. Unindo as dimensões do imaginário e do racional, visando uma aprendizagem que considera o aluno como alguém que pensa matematicamente e que também tem uma imaginação lúdica, amparo-me na literatura de Lewis Carroll para criar uma narrativa matemática: as personagens conhecem e convivem com Lewis Carroll, com Alice e com os demais habitantes do País das Maravilhas, desvendando para o leitor a matemática escondida nos hábitos do autor inglês e na literatura que este criou. ‘Chá com Lewis Carroll’ não é um romance só para quem estuda matemática, mas também para quem é professor e procura novos meios de ensinar seus alunos e para o leitor comum, interessado em boas horas de leitura”.
TRADUÇÃO – Rafael publicou a tradução de “Euclides e seus rivais modernos”, autoria de Lewis Carroll em 1879. Trata-se da primeira tradução para a língua portuguesa, fruto da tese de doutorado de Rafael. A tradução foi publicada em 2014, através da editora Livraria da Física.