População de baixa renda fuma mais
Política de combate ao tabagismo precisa ser revista e preço do cigarro deve aumentar, defende o trabalho da Fiocruz
A política de combate ao fumo no Brasil precisa ser revista, defende trabalho preparado pelo Centro de Estudos sobre Tabaco e Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Cetab-Fiocruz). O estudo mostra que, apesar de os números serem positivos, as medidas antitabagistas adotadas no País tiveram um resultado muito desigual entre populações de baixa e alta renda.
“Pobres fumam mais e têm menores índices de abandono do fumo. As mensagens de alerta, as políticas de prevenção e tratamento não chegam como deveriam a pessoas com menor renda”, resumiu a coordenadora do trabalho, Vera Luiza da Costa e Silva. Para ela, resultados que deixam claro a necessidade de se repensar, por exemplo, as mensagens de alerta das embalagens dos cigarros. “Elas têm de ser concebidas e testadas entre integrantes de classes econômicas mais pobres”, disse. O mesmo, completa, deve ser feito com populações de áreas rurais, também mais refratárias às mensagens.
“Os dados deixam claro que o fumo não é um problema resolvido no País. É preciso ir além, pensar estratégias específicas”, disse a diretora executiva da Aliança de Controle do Tabagismo, Paula Johns. O trabalho foi feito a partir da análise da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição, PNSN e da Pesquisa Especial de Tabagismo, de 2008. A análise mostra que, embora o tabagismo de modo geral tenha caído no País, em alguns grupos, isso ocorre num ritmo muito mais lento.
O porcentual de fumantes entre as pessoas com menos de 7 anos de escolaridade foi mais de duas vezes maior do que o registrado entre aqueles com pelo menos 1 ano de universidade. Fumantes de classes econômicas menos privilegiadas gastam mais com cigarros do que outros grupos. Comparativamente, eles têm menos lazer, gastam menos com educação, com saúde, aponta o trabalho. “Os efeitos são mais perversos”, resumiu Vera.
Preço. Tanto Vera quanto Paula afirmam que, além da necessidade de uma revisão na estratégia das campanhas de alerta contra o fumo, o governo deve trabalhar de forma a ampliar o preço do cigarro no País. Uma tática, afirma Vera, que poderia ajudar a combater o tabagismo sobretudo entre as classes menos privilegiadas. “O cigarro no Brasil ainda é um dos mais baratos do mundo”, garante a pesquisadora. Procurado, o Ministério da Saúde não se manifestou.