Refluxo atinge mais da metade dos brasileiros, aponta estudo
Pesquisa realizado pela Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) destaca o grande impacto do refluxo na qualidade de vida da população
A Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) realizou o maior e mais recente mapeamento sobre o impacto do refluxo gastroesofágico na população brasileira. O resultado mostra um quadro alarmante: 51% afirmam sofrer com o refluxo semanalmente, além de outros sintomas como a azia e a pirose (queimação) que também podem ser indícios do problema.
O estudo foi realizado em junho de 2018, ouviu mais de 3.000 pessoas, de ambos os sexos em todas as regiões do país. “Nosso propósito foi retratar os principais sintomas, causas e o impacto do refluxo na vida das pessoas, além de demonstrar os tipos de tratamento recorrentes. Os resultados evidenciaram um grande desconhecimento, uma vez que os principais sintomas do refluxo, como a azia e a pirose, conhecida popularmente como queimação, também podem ser indício de uma simples má digestão. Além disso, 46% da população não sabe a diferença entre os principais tipos de tratamento. O refluxo quando não identificado e tratado corretamente, pode gerar complicações bastante graves”, destaca Dr. Flavio Quilici, presidente da FBG.
O refluxo gastroesofágico ocorre quando o alimento que ingerimos volta ao esôfago juntamente com o ácido gástrico do estômago, causando uma sensação de queimação e azia. Isso ocorre em razão de uma falha no esfíncter esofágico inferior que funciona como uma válvula, não deixando que o alimento digerido, que está no estômago, retorne para o esôfago. Quando o refluxo é muito frequente, ele pode ser indício de um quadro mais grave conhecido como ‘Doença do Refluxo Gastroesofágico’, às vezes com sérias complicações.
Quem sofre de refluxo?
Segundo o estudo, o refluxo gastroesofágico afeta 51% dos entrevistados. Entre eles, mulheres, obe-sas, sedentárias e fumantes, entre 36 a 47 anos, repre-sentam o grupo que mais sofre dessa condição.
Produtos industrializados, fritos e gordurosos e o refluxo estão diretamente ligados, já que a frequência entre aqueles que são impactados é maior após as refeições (40%). Entre os que consomem este tipo de alimento e reclamam do problema, 85% estão obesos. A associação da bebida alcoólica e fumo também é outro fator que intensifica a sensação para 54% dos fumantes.
“A pesquisa é um importante panorama epidemiológico, que traz dados bem definidos e reproduzíveis no Brasil como um todo. Além de abordar o refluxo e os seus sintomas típicos, também reafirma a ligação com obesidade, sedentarismo e o tabagismo”, pontua Dr. Quilici.
Refluxo X Gestação: Uma realidade
O estudo revelou que 85% das grávidas relataram ter sentindo o refluxo em algum momento da gestação. Mas porque ele é tão comum entre este grupo? Entre os fatores que levam a maior ocorrência estão: aumento da pressão intra-abdominal pelo crescimento do útero e relaxamento do esfíncter (músculo) inferior do esôfago que fica entre o esôfago e o estômago. Ele torna-se mais intenso e frequente a partir da 27º semana de gestação, com mais chance de se desenvolver em mulheres que já tinham este problema antes ou já estiveram grávidas. Medicamentos que contém alginato podem ser utilizados para os sintomas mais comuns provocados pelo refluxo (azia e queimação) no segundo e terceiro trimestres da gravidez, dado que não possuem ação sistêmica e podem ser indicados às grávidas, sempre sob orientação médica.
Refluxo e rotina – O quadro que caracteriza o refluxo pode ser acompanhado de outros sintomas, como azia e queimação, que muitas vezes não são associados ao problema pela população, mas são frequentes e aparecem em muitas situações. Segundo o estudo, a azia e a queimação são mais recorrentes nas pessoas, 51% e 47% respectivamente, após a ingestão de alimentos específicos. Como exemplo, o especialista cita pratos e petiscos com grande quantidade de condimentos ou refrigerantes, estes últimos devido ao gás e acidez concentrados.
A azia é a que causa o desconforto mais intenso entre 33% da população. Para 74%, a qualidade do sono é o aspecto mais prejudicado. Ainda de acordo com o estudo, 70% afirmam já ter sentido algum deles durante o horário de trabalho e 68% reclamam que tem a rotina social prejudicada, impedindo-os de realizar atividades rotineiras.
Tratamentos – O tratamento do refluxo dependerá da gravidade do caso. Em algumas situações, mudanças nos hábitos comportamentais são suficientes para que haja uma melhora. Em outros casos, o tratamento é feito através de medicamentos que diminuem a quantidade de ácido produzido pelo estômago, em conjunto com uma reorientação alimentar, perda de peso e atividades físicas. De acordo com a pesquisa, quase metade dos entrevistados não sabem a diferença entre sal de frutas, antiácido, leite de magnésia, protetor gástrico e alginato, sendo que a utilização incorreta deles pode causar prejuízos para os seus usuários.
O sal de fruta é um dos tratamentos mais recorrentes entre a população: 5 em cada 10 o fazem quando sentem algum dos sintomas. “Dependendo da frequência e da gravidade dos sintomas, ele pode não ser eficiente porque possui apenas ação imediata e passageira. Depois de um tempo de uso, o medicamento aumenta o pH do estômago estimulando efeito rebote com a produção de mais acidez podendo agravar os sintomas do refluxo”, explica Dr. Flávio.
Já o alginato, ainda pouco conhecido pela população pois, segundo o estudo, apenas 6% recorrem ao medicamento com este princípio ativo, é muito eficaz no combate ao refluxo além de possuir ação de longo prazo, por até 4 horas. Ele age formando uma barreira mecânica que impede as sensações de queimação e azia comuns nos quadros de refluxo. “O tratamento dependerá do estágio da doença. Perder peso, evitar alimentos e bebidas que pioram o refluxo, comer porções menores, não se deitar logo após as refeições, além da prática de exercícios físicos e acompanhamento clínico também contribuem para uma melhor qualidade de vida”, finaliza Dr. Flávio Quilici.