Diário da Manhã

sexta, 27 de dezembro de 2024

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A periferia luta contra a fome

A periferia luta contra a fome
15 junho
13:49 2020

A pandemia que assola o país só deixou mais evidente o abismo da nossa desigualdade social

Refeições são preparadas e distribuídas duas vezes por semana

Refeições são preparadas e distribuídas duas vezes por semana

Quando a viatura da Associação Comunitária Zona Sul e Vilas Vizinhas (ACZSVV) se aproxima, um alvoroço toma conta de algumas zonas mais humildes, na periferia de Pelotas. São centenas de pessoas que buscam um prato de comida, porque a fome chegou para àquela gente e às vezes, essa é a única refeição que conseguem fazer.

A reportagem do Diário da Manhã acompanhou uma dessas ações. A ACZSVV é muito atuante e uma das tantas entidades que estão empenhadas, mais ainda em tempos de pandemia, em ajudar os carentes de Pelotas. Fazem o trabalho que o Poder Público não dá conta de atender.

A Associação Comunitária Zona Sul percorre todas as terças e quintas-feiras os bairros que abrangem sua área de atuação. Areal Fundos, Navegantes I, II e III, Vasco Pires, Bom Jesus, Dunas, Obelisco e Balsa são algumas das comunidades atendidas.

O trabalho é todo ele voluntário. A Associação sobrevive através de doações de empresários e moradores do bairro Areal. Desde 2002 a entidade possui personalidade jurídica, porém já atua desde 1999 promovendo ações sociais.

“Nesses 21 anos de trabalho, nunca tinha visto tanta gente precisando de comida, as pessoas estão com fome, é muito triste a gente ver essa situação e por isso não podemos parar”, relata uma das voluntárias da ACZSVV.

Nas últimas semanas, cerca de 750 refeições estão sendo distribuídas em cada saída. “Antes a gente tinha uma demanda de cerca de 250, mas já estamos nos preparando para entregar até mil quentinhas, pois a procura está sendo cada vez maior”, comentou outro voluntário.

A grande maioria dos moradores dessas áreas trabalhava em bicos, como pedreiros, catadores, ambulantes, alguns com emprego formal ficaram sem ter o que fazer. As escolas e creches estão fechadas. Nas periferias a ideia do “isolamento social” é improvável. Não há condições de fazer distanciamento em casas que, muitas vezes, são apenas de um cômodo para seis, oito pessoas. Especialmente para os mais vulneráveis, não há orientação alguma dos governos. Sem comida, sem higiene, sem auxílio. A pandemia é uma coisa muito distante para eles.

Com a redução drástica na renda das famílias, os efeitos da pandemia são devastadores para as populações mais pobres e o desespero é comum. “Nossos voluntários voltam com relatos terríveis, de famílias que simplesmente não tinham mais comida. São pessoas que trabalhavam num dia para comer no outro, eles não tem reservas ou poupança, vão fazer o quê?”, observa uma das coordenadoras da Associação. Para eles, a alimentação continua sendo um problema maior do que o vírus. Associação01

Na medida em que o tempo passa e as regras de isolamento e distanciamento são impostas, sobressaltam-se as diferenças e desigualdades. Enquanto a classe média e alta mantém condições de trabalho remoto ou possuem reservas econômicas para resistir, as populações pobres não tem alternativas, nem de trabalho, nem de lazer, nem de apoio oficial. Contam cada vez mais com ações como a da ACZSVV.

Além dos alimentos, a Associação também arrecada roupas, agasalhos e cobertores, que são distribuídos assim que arrecadados. “Não podemos fazer estoque, ou esperar muito tempo, tu não vai ver uma parede de alimentos ou uma sala cheia de roupas, porque não queremos exibir as doações, queremos que tudo chegue o mais rápido possível aos necessitados”, explica a voluntária. Nos últimos atendimentos, outra demanda surgiu: ração para os animais. Associação Comunitária

COMO AJUDAR – A Associação Comunitária Zona Sul e Vilas Vizinhas tem sede na Av. Domingos de Almeida, nº 1889 – bairro Areal em Pelotas.

(HFJ)

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Hélio Freitag Júnior

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