Arquivo Municipal será removido e organizado

Projeto da UFPel vai recuperar parte do arquivo abandonado em depósito
Uma parceria entre a Prefeitura e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) já começou a trabalhar para tentar salvar o que for possível dos arquivos da Prefeitura encontrados abandonados em um prédio do qual parte do telhado desabou há alguns anos. São documentos como fichas funcionais, financeiras e remuneratórias de servidores ativos e inativos; contratos de trabalho de celetistas, estatutários, autônomos e cargos em comissão; decretos, portarias, licitações, protocolos, requerimentos, memorandos, cobranças de IPTU e outros processos.
A equipe do curso de História da UFPel vai auxiliar na transferência, e trabalhar na organização, seleção, higienização e catalogação do acervo documental. O prédio, que completa 100 anos em 2025, foi construído para ser o arquivo da Prefeitura, mas há alguns anos não recebe a manutenção adequada e os documentos estão se deteriorando. Entre 2018 e 2019, aproximadamente 8 mil caixas foram transferidas para o segundo andar de outro prédio, onde estão organizadas e protegidas. Outras 4 mil foram deixadas no local.
O professor do curso de História, Aristeu Lopes, conta que, por morar perto, vai a pé até o Instituto de Ciências Humanas (ICH), e o Arquivo fica no caminho. Em 2024, percebeu caixas de documentos caídas no chão, e decidiu procurar a Prefeitura para oferecer o seu trabalho para tentar salvar o acervo.
Com a mudança de governo, decidiu procurar a atual secretária de Administração e Recursos Humanos (Sarh), Carla Cassais e, novamente, oferecer ajuda. Junto com um orientando, o doutorando Euler Zanetti, criou um projeto de extensão na UFPel, com duração de três anos, e começaram a remover os documentos que ainda estão no prédio. Foram levadas mais duas cargas de documentos, assim quase 8,5 mil, das cerca de 12 mil caixas do arquivo, já estão no mesmo prédio. A prioridade foi dada a caixas menos danificadas, que estivessem mais à frente, porque da forma que se encontravam não havia como selecionar por importância de conteúdo. Porém, qualquer prédio que não seja térreo precisa ter estrutura reforçada para suportar tanto peso, e o prédio escolhido não suportaria mais que o peso atual. Além disso, o material que chega não pode ser colocado junto ao que foi levado antes, pelo risco de contaminação por fungos e insetos, que podem existir nos papeis que estão no chão em um ambiente úmido.
Agora a Sarh está procurando um novo local para receber o material restante e, paralelamente, buscando recursos, em parceria com a Secretaria de Cultura (Secult), para reformar o prédio centenário e inventariado, que tem mezaninos e estrutura para suportar o peso do material organizado em estantes, e espaço para pesquisa.
Os documentos encontrados até agora são, em sua maioria, de a partir da década de 1970, mas também foram encontrados alguns dos anos 1950 e 1960, e um livro ponto de professoras, dos anos 1940, com todas as informações funcionais delas, inclusive os salários.
A secretária diz que, para a gestão, a preocupação é com a importância que os documentos têm para as pessoas e para o Município. As fichas funcionais de muitos servidores, ainda na ativa, podem estar naquele espaço, sem condições de recuperação, e muita coisa não foi digitalizada. Também pode haver processos, que gerem prejuízos aos cofres públicos. Sobre o interesse pelo material que até os responsáveis preferiram ignorar, Lopes responde prontamente: “é a minha profissão, os documentos têm valor histórico. Todo historiador tem um pouco de acumulador, não pode ver um documento no chão que já quer pegar para ver o que é”, brinca o professor.
Na justificativa do projeto está que o conjunto de documentos do Arquivo Geral “constitui-se em uma fonte primordial para a compreensão da história do trabalho e dos trabalhadores de Pelotas nos séculos XX e XXI, bem como para o estudo do funcionamento da administração pública municipal ao longo desse período. A documentação permite, ainda, a realização de levantamentos quantitativos e qualitativos sobre os trabalhadores, suas áreas de atuação, cargos ocupados, renda mensal, entre outros aspectos, contribuindo para pesquisas acadêmicas e para a reconstrução da memória social e institucional da cidade. Dessa forma, a intervenção no acervo não apenas preserva um patrimônio histórico de relevância, mas também possibilita a geração de conhecimento e o fortalecimento do vínculo entre a universidade e a sociedade”.
Fotos: Janine Tomberg