Artigo: ABRAÇO DE CRIANÇA – QUANTO VALE?
Jesus e o seu Abbá – no Evangelho dominical
Dom Jacinto Bergmann
Acontece, ó Abbá, cada coisa no meu itinerário para anunciar que o seu Reino está próximo. Eu estava atravessando, com meus discípulos, a Galileia. Estava consciente de minha opção: os galileus eram considerados, praticamente, um povo pagão. Mas era a eles, também, que Tu me enviaste.
Porém, embora estando em missão na região da Galileia, chegou o momento para mim de desejar que ninguém soubesse sobre o meu itinerário. Pois senti, ó Abbá, que deveria ensinar um pouco mais aos meus discípulos. Eles precisavam ter clareza que “o Filho do Homem iria ser entregue nas mãos dos homens e seria morto; mas, três dias após a sua morte, ele ressuscitaria”. Os discípulos deveriam entender que seu seguimento a mim leva à cruz. O seu seguimento deve produzir frutos de salvação. Frutos esses que só aparecem se “o grão morre”.
Qual foi a resposta dos discípulos ao meu ensino, ó Abbá? Infelizmente, eles “não compreenderam estas minhas palavras”. Mais, “tiveram até medo de perguntar”. Realmente, é difícil a passagem de um seguimento não-exigente para um seguimento exigente! Como fazer entender que a salvação passa pela cruz? Como fazer entender que o amor passa pela perda. Salvação é sinônimo de cruz/ressurreição. Amor é sinônimo de perda/vida.
Chegamos a Cafarnaum, uma vila de pescadores. O Pedro era de lá. Ficamos na casa dele. Assim, no aconchego familiar, ousei perguntar aos discípulos: “O que discutíeis pelo caminho?” Esperei, ó Abbá, uma resposta, mas eles ficaram calados. Não tiveram a coragem de expor a discussão que tiveram: “quem era o maior”. De fato, uma discussão de “quem é o maior” não cabe no seguimento a mim. Como discutir precedência no seu Reino, Abbá?
Então, ó Abbá, sentei-me e chamei os Doze Apóstolos para perto de mim. Afirmei-lhes com todas as letras: “Se alguém quiser ser o primeiro no Reino, que seja o último de todos e aquele que serve a todos”. Mais claramente do que isso, não precisava ser! Mesmo assim, peguei uma criança ali presente e coloquei no meio de todos. Abracei-a – gesto profundo de significado. E disse a todos os discípulos presentes: “Quem acolher em meu nome uma destas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo não a mim, mas a Ti, ó Abbá, que me enviaste”.
Definitivamente, com esse meu gesto de acolhida à uma criança e com a afirmação de quem acolher uma criança está acolhendo a mim e a Ti, ó Abbá, ficou claro qual é o caminho para abraçar o nosso Reino. A criança torna-se protótipo daqueles que entendem e vivem o meu seguimento e a dinâmica do nosso Reino. Criança aqui é sinônimo de humildade aberta, acolhida sincera, amor generoso, serviço gratuito. Criança aqui é sinônimo de simplicidade e pequenez e não de prepotência e grandeza. Ó, o abraço de criança, o quanto ele vale!
Assim, mais uma vez eu rezo, como já rezei uma outra vez: “Eu te louvo, ó Abbá, Senhor do céu e da terra, porque revelastes estas coisas – a irrupção do Reino, aos simples e pequeninos, e escondestes estas as coisas – a irrupção do Reino, aos prepotentes e grandes”.
Arcebispo da Igreja Católica de Pelotas