ARTIGO: FACUNDO, DE DOMINGOS SARMIENTO, EL GAUCHO e Pelotas
Por Marcus Vinicius Martins Antunes
Domingos Sarmiento escreveu “Civilização e Barbárie, Vida de Juan Facundo Qiroga”, ou simplesmente Facundo, em 1845, durante o exílio no Chile. Para Jorge Luis Borges, no prólogo da edição de 1974, a obra de Sarmiento foi “a mais memorável de nossas letras”; para Miguel de Unamuno, o autor foi o mais importante de língua espanhola do século XIX. Na obra, Sarmiento descreve os tipos do campo argentino.
O “gaucho malo”.
“Chamam-no o “gaucho malo”, sem que este epíteto o desfavoreça de todo. A justiça o persegue desde muitos anos; seu nome é temido, pronunciado em voz baixa, mas sem ódio e quase com respeito. “É um personagem misterioso, mora no pampa; são seu albergue os cardais, vive de perdizes e mulitas e se alguma vez quer se regalar com uma língua, laça uma vaca, amarra-a sozinho, mata, retira seu bocado predileto e abandona o demais às aves de rapina.”.
O rastreador:
O mais conspícuo de todos, o mais extraordinário, é o rastreador. Todos os gaúchos do interior são rastreadores. Nas planícies tão dilatadas, onde as sendas e caminhos se cruzam em todas as direções e os campos em que pastam ou transitam os animais são abertos, é preciso saber os rastros de um animal e distingui-los de outros mil, conhecer se vai devagar ou ligeiro, solto ou puxado, carregado ou vazio. (…). E descreve: “o peão que me conduzia lançou, como de costume, a vista ao solo. Aqui vai – disse logo – uma mulita muito boa”….
Quem já não viu ou ouviu, entre nós? Quem já não leu?
Mas a maior surpresa veio em outra parte do texto. Sarmiento se reporta a obra O Último dos Moicanos, de James Cooper, que retrata o quadro da formação dos Estados Unidos, para comparar com a formação da Argentina.
“Quando os fugitivos da Pradera encontram um rio, e Cooper descreve a misteriosa operação de Pawnie com o couro do búfalo que recolhe, me disse a mim mesmo: vai fazer a pelota. Lástima é que não haja uma mulher que a conduza, que entre nós são as mulheres que cruzam os rios com a pelota tomada com os dentes por um laço”.
Cruzar o rio com a pelota – feita de couro, do mesmo modo – puxada por um índio, nadando com a corda pelos dentes! Nunca soubera disso! Exatamente as narrativas do fim do século XVIII, início do XIX aqui em nossa cidade. A isso ela deve o nome: Pelotas. Suponho apenas que eram homens que o faziam.
Quem transmitiu esse costume aos nativos em Pelotas? Ou eles teriam criado a prática sem saber dos demais?
Nosso Simões Lopes Neto poderia ter resposta. Ou outro pesquisador posterior.