Diário da Manhã

quinta, 14 de novembro de 2024

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ARTIGO: Não politize! Sinta o drama e ajude

ARTIGO: Não politize! Sinta o drama e ajude
03 junho
15:42 2024

A politização da tragédia é inoportuna, desumana e não encontra reciprocidade por parte dos atingidos

Paulo Gastal Neto*

As manifestações politizadas e carregadas de rancores, sobre a tragédia climática que se abateu sobre Porto Alegre e o Rio Grande do Sul, são desnecessárias, impróprias. Falas oportunistas de ex-prefeitos da capital, depoimentos nas redes sociais apontando culpados, busca incessante por curtidas em perfis, revelam a falta de sentimento e ânsia por protagonismo. Gritos histéricos que contrapõem o bom jornalismo estão presentes em profissionais das mais diversas áreas do mundo atual da comunicação. Entes que revelam-se como autoridades sobre clima e seus derivativos catastróficos. Jornalistas, ávidos por um like, acusando autoridades medianas e até mesmo o governador Eduardo Leite e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo.

Assiste-se, estupefato, vídeos de vereadores, homens públicos, que de uma hora para outra tornaram-se experts em meteorologia, em cheias e inundações. Quase todos esses ‘atores’ subestimam a inteligência das pessoas, como se o povo fosse somente um instrumento a disposição dos seus objetivos. Seria cômico se não fosse triste, mas triste mesmo.

Ver in loco os locais mais expressivos da tragédia gaúcha me fez pensar que tudo o que se lê, ouve ou assiste em vídeos, não têm nada a ver com o conversar com quem perdeu tudo, está abandonado pelo futuro, destruído pelas perdas, apunhalado pelo destino. Passar pelos locais emblemáticos comove qualquer um que não tenha o objetivo de ‘faturar’ com a tragédia. Sinto-me à vontade em dizer que não há nenhum culpado específico sobre a sucessão de acontecimentos no RS.

Narra o ex-prefeito Irajá Rodrigues, para um grupo pequeno, ele um conhecedor do RS, que em 1851, quando governou o estado por um curto período, Luís Alves de Lima e Silva, já mencionava sobre a necessidade de uma obra que estancasse o Rio Taquari. O rio nasce no norte do estado, próximo a Passo Fundo. Seria um sistema de barragens e comportas, que o tornaria navegável nos dois sentidos, mas sobretudo controlado. Seria o Duque de Caxias então o culpado, por não ter levado adiante a ideia?

Em outro espaço, lê-se um manifesto com duras críticas à gestão do prefeito Sebastião Melo (MDB) que foi divulgado pelos ex-prefeitos de Porto Alegre, Alceu Collares (PDT), Olívio Dutra (PT), Tarso Genro (PT), Raul Pont (PT) e José Fortunati (hoje no PV). No mínimo curioso. Na verdade é um oportunismo deplorável e sem nenhum conteúdo propositivo e humanitário. O silêncio deles teria contribuído muito mais. O não opinar só seria superado se tivessem eles próprios – ou pelo menos um deles – construído novas alternativas tecnológicas, obras contra inundações ou uma constante manutenção e aprimoramento (durante seus respectivos períodos) nos diques e comportas que protegem a capital das águas. Mas não: a opção sequer foi de estar ao lado dos desvalidos, mas uma nota politizada e sem nenhum propósito contributivo.

E tantos outros agentes políticosinfluencersyoutubers, foram a público apenas manifestar opiniões desabonadoras e sem nada para contribuir. Com fim específico em si próprio. Diferentemente de todos esses atores, o governador Eduardo Leite não teve nenhum momento de descanso. Foi e está sendo alvo de injúrias e fake news. Sofre acusações infundadas de pessoas e profissionais que sequer viram de perto a tragédia gaúcha. A prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas, mesmo que tenha sofrido um número bem menor de críticas, não teve um dia sequer que não tenha ido para ‘a frente de batalha’ conviver com o drama dos pelotenses atingidos pelos efeitos das inundações. Foi sempre altiva e levou conforto esperança e soube utilizar técnicas que minimizaram consequências. Mesmo que de maneira oportunista, o governo federal se fez presente, e tenta, meio que fora de ‘esquadro’, proporcionar um alento que talvez – no futuro – se transforme em ajuda real. Não se sabe ainda.

O certo é que a politização da tragédia é inoportuna, desumana e não encontra reciprocidade por parte dos atingidos. Eles precisam do choro e sentimento das autoridades, mas também a ajuda material e real por parte delas. O debate fora dos canais competentes pouco ou nada contribuem para minimizar a dor das pessoas e sim para impulsionar a vaidade e o pseudoconhecimento dos influencers de ocasião.

*Radialista e editor do www.pelotas13horas.com.br

Publicado originalmente em https://pelotas13horas.com.br/artigo-nao-politize-sinta-o-drama-e-ajude/

 

Foto: Gustavo Vara

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