Diário da Manhã

Marcus Vinícius Martins Antunes

Se certa vez me animasse

a perder um tanto o juízo,

iria, sem nem dar aviso,

viver como um louco, feliz,

viver em outro país.

Poria um sorriso na face,

poria num pote ou barril

um punhado, um quilo de vento,

para ouvir zunir seu lamento.

Colado nas folhas, num ramo,

a insetos às flores diria,

boa noite, boa tarde, bom dia,

diria a todos: vos amo.

Louvando meu próprio retrato

teria os pés na cabeça,

subindo nos muros qual gato,

em posição toda avessa.

Depois, feliz, um sorvete,

apreciando no céu seu tapete,

daria adeus à loucura

ao prazer de viver na demência

para voltar ao mundo, à existência

que faz da vida a procura.

Advogado