Artista visual nascida em Pelotas, Clara Pechansky revive emoção dos tempos de capista da histórica Editora Globo
Na imagem acima Clara entre os escritores Celso Gutfriend e Armindo Trevisan
A artista visual Clara Pechansky, natural de Pelotas, está revivendo a emoção do início de carreira ao ver uma obra sua como capa de um lançamento literário: “O elogio do encontro”, de Armindo Trevisan e Celso Gutfreind, editado pela Figura de Linguagem. Clara, de 88 anos, começou a trabalhar em Porto Alegre logo depois de se formar pela Escola de Belas Artes de Pelotas, em 1957, onde morava sua família.
A imagem que ilustra a capa do livro que está chegando às livrarias – um desenho a nanquim e tinta acrílica (ao lado) – foi doada por Clara aos autores e acolhida de imediato pelos editores Luiz Maurício Azevedo e Fernanda Bastos. A consagrada desenhista, pintora e gravadora tem Trevisan e Gutfreind na conta de “dois queridos e admiráveis amigos”.
Na época em que trabalhou para a Editora Globo de Porto Alegre, liderada pelo empresário Henrique Bertaso e que tinha Erico Verissimo como “consultor editorial”, tradutor e autor, Clara produziu mais de 60 capas. “Tive a oportunidade de criar a primeira capa de ‘Israel em Abril’, do Erico, além de capas de outros livros dele, como ‘Saga’, ‘Caminhos Cruzados’, ‘Um lugar ao sol’, ‘O resto é silêncio’, por exemplo. Eu sempre recebia os originais datilografados de José Otávio Bertaso, secretário da editora, e lia o livro para poder criar a capa”, conta ela, que também cursou Licenciatura em Desenho e História da Arte na Faculdade de Educação da UFRGS. A criação de Clara na Globo envolvia também capas de livros de renomados autores estrangeiros, entre eles Aldous Huxley, em Contraponto, e o Prêmio Nobel de Literatura Pär Lagerkvist, em Encontro com o mar.
Clara conviveu com mestres no ofício de ilustrar, caso dos artistas Ernst Zeuner, João Fahrion, Edgar Koetz e Nelson Boeira Faedrich, da famosa Seção de Desenho da Globo. “Nunca tive uma capa rejeitada. Esse desafio que é a ilustração faz parte da minha trajetória e ainda me fascina”, acrescenta a artista, que estudou com Aldo Locatelli, Glenio Bianchetti, Glauco Rodrigues, Xico Stockinger, Danúbio Gonçalves e Anico Herskovits e já realizou mais de 70 exposições individuais no Brasil e no exterior, afora mais de 200 coletivas.
Originada da Livraria do Globo, de 1883, a Editora Globo surgiu na capital gaúcha no início da década de 1930, a partir de quando começou a revolucionar o cenário editorial brasileiro por sua qualidade e inovações. Em 1986, foi comprada pelas Organizações Globo, do Rio de Janeiro. O livro “A modernidade impressa – artistas ilustradores da Livraria do Globo”, da historiadora e crítica de arte Paula Ramos, lançado pela Editora da UFRGS em 2016, conta a história da empresa em 655 páginas ricamente ilustradas.
Casada com o médico psicanalista Isaac Pechansky, de 98 anos, nascido em Rio Grande, Clara segue ativa como artista visual na capital e coordena o Projeto Miniarte Internacional, criado por ela em 2003 e que irá para sua 51ª edição em 2025.
Foto Carlos Souza