Atendimento na Junta de Alistamento Militar gera reclamações
A estrutura é quase medieval, sem equipamentos ou então sucatas, com poucos servidores para dar conta do volume de trabalho. Os relatos são preocupantes e não há nenhum sinal de melhora, pois o serviço já é precário há vários anos
A experiência de encontrar uma repartição pública ineficiente, burocrática, sucateada, que presta um serviço que não atende ao cidadão parece ter ficado no passado, na maioria dos casos.
Mas ainda encontramos exemplos dessa falta de respeito e deficiência na prestação do atendimento ao público bem perto, aqui mesmo em Pelotas.
É o caso da Junta de Alistamento Militar, sob a condução da Prefeitura de Pelotas, e que responde pela administração do processo do Serviço Militar Obrigatório. Antes de seguirmos, cabe salientar que os funcionários e servidores se superam e fazem o que podem com as condições que lhes oferecem.
A estrutura é quase medieval, sem equipamentos ou então sucatas, com poucos servidores para dar conta do volume de trabalho.
Os relatos são preocupantes e não há nenhum sinal de melhora, pois o serviço já é precário há vários anos.
Em janeiro deste ano, a Prefeitura informou em breve nota que o telefone da Junta Militar estava fora do ar. Ainda hoje, se você tentar ligar para o número 53 3225.7400 vai precisar de sorte para encontrar o telefone indisponível. O prédio localizado na rua Dr. Cassiano nº 500 possui problemas técnicos com a rede de internet. “O sistema de atendimentos e serviços também depende da rede de internet para funcionar, por isso os atendimentos presenciais também estão temporariamente suspensos”, disse a Prefeitura em janeiro.
De lá pra cá, pouco mudou. O atendimento segue bastante precário. “Preciso do comprovante de dispensa do Exército para a rematrícula na UFPel, estou em risco de perder a vaga na universidade!”, relata o jovem F.R.B de 20 anos.
Ele ingressou no curso de Educação Física, sem a documentação completa, com a condição de apresentar o certificado de dispensa militar no semestre seguinte. Agora, ao tentar fazer a rematrícula, a UFPel exige o documento que a Junta Militar de Pelotas não tem capacidade de fornecer.
“Já estive 17 vezes na Junta e nunca consigo sair de lá com o Certificado, tendo inclusive já pago a taxa exigida”, lamenta F.R.B.
Na segunda-feira pela manhã, outro jovem aguardava sem sucesso ser atendido. “O sistema caiu e o funcionário disse que eu poderia esperar com outras 25 pessoas, numa sala precária, talvez à tarde o sistema poderia ser que voltasse”. T.V.S estava com viagem marcada para Porto Alegre onde conseguiu emprego, e a nova empresa solicitou o comprovante de dispensa militar. “Estou com medo de perder essa oportunidade por causa dessa falha aqui na Junta”, disse ele. O sistema não voltou e o jovem embarcou sem o documento.
PRECARIEDADE ASSUMIDA E COMPROVADA
A reportagem do DM esteve na Junta Militar e conversou com o responsável, Secretário Adão Roberto Silva Conceição. Ele confirmou as falhas nos equipamentos e que tem gestionado junto à Prefeitura melhores condições. “Todo ano eu solicito pelo menos três novos computadores, mas até hoje não fui atendido”.
Conceição explica que o serviço de telefonia e internet é fornecido pela empresa Oi. Quando acontece algum problema técnico, é preciso solicitar atendimento para uma central no Mato Grosso do Sul. “A Coinpel (Companhia de Informática de Pelotas) poderia nos fornecer a rede de internet, sem custos, mas até agora não conseguimos esse serviço”, desabafa o Secretário.
A empresa pública presta manutenção nos equipamentos, computadores e impressoras e tem solucionado a maioria dos problemas, mas a instabilidade da conexão causa muitos atrasos, sendo o principal problema para a demora na prestação dos serviços.
Cinco servidores, incluindo o Secretário, realizam o atendimento para cerca de 3 mil jovens da região e mais um número impreciso de reservistas em busca de documentos. Antigamente, o Exército Brasileiro deslocava mais alguns militares para auxiliar na condução da Junta, mas houve a retirada desse apoio. Por dia são distribuídas 25 fichas, que logo são esgotadas.
Percorrendo as instalações do prédio da Junta é possível verificar diversas irregularidades. Os pontos de luz estão expostos, os equipamentos de ar condicionado não funcionam, a forração do piso está imunda. Não há funcionários encarregados da limpeza dos sanitários, que é feita pelos próprios servidores. “Temos enfrentado muitas dificuldades, mas seguimos prestando o atendimento”, observa Conceição, apontando para uma velha máquina de datilografia, que parece ter saído de um museu.
Enquanto não recebe melhorias, a Junta Militar de Pelotas vai acumulando queixas dos cidadãos que precisam acessar o serviço.
Texto e fotos: Hélio Freitag Jr.