Aumenta a ameaça ao Patrimônio Histórico de Pelotas
Meia década depois de ser reconhecido pelo IPHAN, o patrimônio histórico de Pelotas pouco melhorou e está cada vez mais ameaçado
Em 15 de maio de 2018 o Iphan certificou a arquitetura do Conjunto Histórico que compõe o centro de Pelotas como patrimônio material brasileiro. Outras áreas mais afastadas, como o Museu da Baronesa e as Charqueadas também receberam tombamento nacional. (Leia mais aqui: https://diariodamanhapelotas.com.br/site/patrimonio-nacional-arquitetura-pelotense-e-reconhecida-pelo-iphan/)
O que era para ser um incremento às alternativas turísticas, além do acesso mais facilitado aos recursos federais, tanto para a recuperação dos prédios quanto de seus entornos, na verdade, não reverteu em benefícios até agora.
E pior. As ameaças de destruição estão cada vez mais presente. O mais recente ataque está ocorrendo bem no coração da Praça Cel. Pedro Osório. Os ladrões de estatuas e objetos de bronze já escolheram o novo alvo: o prédio do Banco Itaú, na esquina da Rua XV de Novembro.
Defronte o bloco de pedra que dava suporte ao desaparecido busto de Getúlio Vargas, os meliantes já estão afrouxando as placas que arrematam as janelas do prédio histórico.
Outro casarão do centro, após as honrarias do IPHAN, sucumbiu às chamas. O prédio onde funcionou a Secretaria Municipal de Educação incendiou e está abandonado desde 24 de fevereiro de 2019.
A sede da Secretaria de Cultura definha todos os dias, com rachaduras nas paredes e reboco caindo. A última pintura que o histórico Casarão 2 recebeu foi em 2005, patrocinada por uma empresa. São 18 anos sem manutenção externa!
Mais exemplos: prédio da antiga sede do Banco do Brasil, vizinho da Prefeitura, que teve furtados emblemas entalhados nas portas e está parcialmente isolado por conta do risco de desabamento da sacada.
As intermináveis obras do Teatro Sete de Abril podem ser incluídas neste descaso com a memória. Está quase pronto, diga-se, e ficando muito boa a reforma. Porém, já são quase 14 anos de espera, um tempo demasiado.
Há ainda o prédio histórico localizado na rua Barão de Santa Tecla 506, esquina Dr. Cassino, onde já funcionou a Câmara de Vereadores no ano de 1993. Mais recentemente era ocupado pela Secretaria de Administração e serviu de garagem para viaturas da Guarda Municipal. Desde 2013 está abandonado.
São vários os exemplos, todos de conhecimento das autoridades públicas. Sabem do problema, pouco fazem para resolver.
ACERVO DO CLUBE COMERCIAL
Apesar de ser uma entidade privada, o Clube Comercial possui um patrimônio histórico de extrema relevância. Esse conjunto composto por móveis, objetos e obras de arte está sendo colocado à venda, aos poucos.
O jornalista José Henrique Medeiros Pires, ex-secretário nacional de Cultura, chama a atenção ao que está sendo feito com o acervo do Clube Comercial. “Pedi para que o acervo seja inventariado no Município e no Estado. Saindo essa salvaguarda (mais branda que tombamento) a UFPel ou Prefeitura podem adquiri-lo com lei de incentivo. Ou com recurso do Fundo dos Direitos Difusos do Ministério da Justiça (o mesmo onde consegui os recursos para restauração do Museu da Baronesa, que está em obras agora)”, relata Pires.
“Creio que é uma oportunidade que o poder público não deveria perder. Registrar o conjunto e o considerá-lo como de interesse público. Como não é tombamento, os bens permanecem com seus proprietários, que podem até comercializá-los. No entanto, se reconhecerem que o conjunto é relevante do ponto de vista artístico, histórico, etc, abrem a possibilidade de que alguma entidade pública ou privada busque recursos de leis de incentivo para a compra (Fundo dos Direitos Difusos, por exemplo ) ou na LIC ou na Lei Rouanet. Em síntese, a cidade teria uma chance de tentar comprar o acervo. Sem isso, hoje não há chance”, explica Henrique Pires.
Algumas obras do Clube Comercial já foram colocadas à venda. Destaque para telas do pintor Aldo Locatelli, uma delas tendo recebido oferta de R$ 200 mil. Há ainda quadros de Leopoldo Gotuzzo e Pedro Weingärtner.
Os objetos e obras de arte, de valor incalculável, que compõe o acervo do Clube Comercial estão armazenados no MALG (Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo) e outra parte na Bibliotheca Pública de Pelotas.
Como dissemos, não há empecilhos legais para a venda desse conjunto histórico, que se for pulverizado em colecionadores individuais e anônimos, perderá muito do seu valor.
PARCERIA QUE NÃO DEU CERTO
Em 2017 a Prefeitura de Pelotas anunciava com bastante alegria a formalização de parceria com o Instituto Eckart, para restauro e qualificação do Castelo Simões Lopes.
O Instituto ficou responsável pela gestão do prédio até 2032.
Passado pouco tempo, a parceria naufragou. Nada mais foi feito no Castelo além de uma limpeza nos jardins e pintura na garagem. As demais etapas ficaram na promessa.
(Por Hélio Freitag Jr. – MTB/RS 10.151)