Diário da Manhã

quinta, 21 de novembro de 2024

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Coluna de Cinema – Edição 01

Coluna de Cinema – Edição 01
27 setembro
08:47 2024

Hoje tem Estreia

Olá, caros leitores cinéfilos.

Pressuponho que você seja cinéfilo ou mesmo apreciador eventual de filmes e tenha o cinema como um entretenimento ou diversão. Não somos um filme, mas também estamos estreando esta semana. Esta é a primeira publicação deste espaço destinado exclusivamente ao Cinema. Semanalmente vamos publicar nossas críticas e resenhas de cinema, tratando prioritariamente de filmes que estão em cartaz na cidade.

Agora, uma pequena apresentação, afinal, espero estar entrando neste momento na sua rotina de leitura semanal, portanto, é de bom tom fazermos as devidas apresentações. Meu nome é Jorge Ghiorzi. Sou formado em Jornalismo pela UFRGS, em Porto Alegre, atuo como produtor cultural e também crítico de cinema. Sou membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e também da ACCIRS (Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul), com experiência de mais de duas décadas nesta área.

Devo afirmar que é uma grande satisfação iniciar aqui este espaço de troca e compartilhamento com todos vocês. Vamos nos encontrar toda semana. Espero contar com sua leitura. Então, a sessão vai começar.

Não Fale o Mal: viagem de pesadelo

Lançada há apenas dois anos, a produção dinamarquesa Não Fale o Mal alcançou grande repercussão no Festival Sundance de 2022 e atraiu a atenção do mercado internacional. Vislumbrando o alto potencial de bilheteria para as grandes massas, Hollywood rapidamente tratou de comprar os direitos para produzir uma refilmagem, retrabalhando o tema e o contexto do filme com elenco e cenários mais identificáveis para os mercados norte-americano e internacionais. Assim surgiu o tenso thriller psicológico Não Fale o Mal (Speak no Evil, 2024) made in USA, com a grife da produtora Blumhouse, especialista em filmes de horror, terror e suspense de baixo orçamento e grande bilheteria como Atividade Paranormal, Corra!, O Homem Invisível e M3gan. A direção ficou a cargo de James Watkins, realizador de Sem Saída (2008) e A Mulher de Preto (2012).

Família (casal e filha) em visita à Toscana, na Itália, acaba se relacionando com outra família (casal e filho) que encontra por acaso no passeio. Aos poucos cresce entre eles uma amizade de ocasião em terra estranha. Tempos depois, após retornarem para suas cidades, uma das famílias convida a outra para passar alguns dias em sua tranquila e isolada casa de campo no interior da Inglaterra. Logo os hóspedes visitantes descobrem, contudo, que o que deveria ser um simples final de semana de descanso e lazer se transforma em um terrível pesado que coloca suas vidas em perigo.

Desde o primeiro minuto sabemos que algo de sinistro e perigoso ressoa com gravidade em Paddy (James McAvoy), o pai da família anfitriã do passeio. Um gesto, um olhar, uma palavra mal colocada, uma fala fora do tom. Assim se constrói o andamento da trama, distribuindo pistas e informações de que algo muito errado não está certo naquela personalidade aparentemente amável e expansiva. Contribui decisivamente para esta sensação de desconforto o desempenho intenso de James McAvoy, operando em um registro assustador, que nos remete inevitavelmente ao seu personagem multifacetado em Fragmentado. A partir deste personagem emblemático, Não Fale o Mal se estabelece como um estudo de personalidade, que examina diferentes níveis de violência psicológica que se materializam em violência física.

O thriller é admirável na sustentação de uma atmosfera tensa e sufocante por mais de uma hora, com efetivamente poucos fatos significativos ocorrendo em cena. Na verdade, aí está o truque. Não Fale o Mal possui uma construção lenta e consistente, quase minimalista, levando tudo num crescendo até o violento e catártico final. Não força nos clichês, que são quase uma regra de ouro quando se trata de thrillers de suspense, horror, terror e afins. Aliás, neste aspecto, até de maneira um tanto surpreendente, o remake norte-americano é mais sutil em muitos aspectos do que a versão original dinamarquesa. Uma refilmagem de um grande estúdio de Hollywood, usualmente produzida com mais recursos, costuma cair na armadilha de turbinar excessivamente o ritmo e a estética da obra original. Pois é aí que mora o pecado. Aqui, porém, houve um exercício de contenção, ao menos nos dois primeiros atos.

O remake norte-americano trouxe novos elementos e perspectivas em relação à versão dinamarquesa. Dois pontos são particularmente significativos. O Não Fale o Mal de Watkins traz em seu desenvolvimento, como acréscimo de roteiro, uma abordagem sobre a masculinidade desconstruída quando confronta a fragilidade de Ben (o pai da família visitante) em oposição ao macho dominante e confiante representado por Paddy. O outro ponto, que destoa muito em relação ao filme de 2022, diz respeito ao desfecho, que apresenta uma solução totalmente diversa, que acaba por transformar o produto final em algo completamente distinto daquele que o originou. O que o filme dinamarquês omitiu em respostas e explicações, o remake hollywoodiano explica em demasia, particularmente em seu terço final, furtando da plateia o espaço para a fantasia e a imaginação.

Efetivamente Não Fale o Mal é envolvente em seu suspense que se intensifica cena após cena, num jogo psicológico com personagens bem constituídos. Apesar do segmento final abraçar a previsibilidade dos filmes do gênero, o que compromete parcialmente a experiência, o longa tem mais acertos do que erros. É um remake que não supera o original, mas é um remake que ousa com autonomia ao reinterpretar o longa original.

Jorge Ghiorzi

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