Coluna de Cinema – Edição 17

O Homem do Saco: lenda popular reciclada
Uma possível surpresa para aqueles que assistirem “O Homem do Saco” (Bagman, 2024) é descobrir que essa não é uma lenda exclusivamente brasileira. Por aqui essa figura sinistra que apavora o imaginário infantil é mais conhecida com o nome de Velho do Saco, uma espécie de andarilho que recolhe as crianças malcriadas e desobedientes as colocando em um saco e levando para local desconhecido. O fato é que este personagem simbólico está presente na cultura popular de muitos países, com predominância naqueles de língua latina, com pequenas variações nas mitologias locais.
Então neste “O Homem do Saco” temos uma versão de como esta figura é tratada nas terras do Tio Sam. Nesta (inexistente) disputa de versões estamos em larga vantagem. O nosso tradicional Velho do Saco raiz é muito mais apavorante do que esse tal de Bagman, com sua sacola de couro com zíper. A direção é do cineasta britânico Colm McCarthy, que possui grande experiência na TV onde dirigiu vários episódios para séries como Doctor Who, Sherlock, Peaky Blinders e Black Mirror.
A história que assombra as crianças ganha vida própria em “O Homem do Saco”. A entidade das sombras que povoa os pesadelos de várias gerações passa a perseguir uma família. Tudo começa no passado quando o pequeno Patrick vive uma experiência perturbadora que deixa traumas que o acompanham por toda a vida. Anos, depois, já adulto, Patrick (Sam Claflin) está casado, com um filho. Após retornar para a cidade natal, para cuidar de empresa madeireira que foi de seu pai, Patrick, sua esposa e filho passam a ser perturbados por uma entidade misteriosa que ronda a casa onde moram. Será o Homem do Saco que retornou para acertar as contas do passado?
Para esta versão cinematográfica de uma lenda popular o roteiro de “O Homem do Saco” incorporou alguns elementos que não fazem parte da mitologia original atribuída à tradição do personagem. Esta proposta na verdade acabou por enfraquecer o conteúdo de terror que é inerente ao mito. Há claramente um propósito de trabalhar o personagem Homem do Saco como um personagem pop, com potencial para assegurar futuras sequências. Falhou enormemente. O filme é raso, recheado de clichês e uso demasiado do truque do jump scares, aqueles sustos repentinos que pretendem fazer a plateia saltar da poltrona.
O filme pretende acrescentar camadas de complexidade em uma história que não é nada menos que banal, já vista tantas vezes, mas aqui executada com carência absoluta de criatividade. A narrativa coloca gratuitamente no mesmo saco (desculpe o trocadilho involuntário!) algumas linhas narrativas que não se comunicam nem se justificam. O fato é que o filme não convence em momento algum. Como diziam nossas avós, “saco vazio não para em pé”. Sábias palavras. O único saco que “O Homem do Saco” enche é o da plateia.
Jorge Ghiorzi
jghiorzi@gmail.com