Coluna de Cinema – Edição 32

Karatê Kid – Lendas: uma nova jornada do herói
Quinze anos após o último filme estrelado por Jaden Smith, a franquia Karatê Kid retorna às telas com “Karatê Kid: Lendas”, uma produção que busca agradar tanto aos fãs nostálgicos quanto a uma nova geração. Desta vez, a história acompanha Li Fong (Ben Wang), um jovem prodígio do kung fu que, após uma tragédia familiar, deixa Pequim para recomeçar a vida em Nova York com sua mãe (Ming-Na Wen). Longe de casa e em um ambiente hostil, Li enfrenta desafios para se adaptar, até que um conflito com um campeão local de karatê o leva a uma competição que exigirá muito mais do que habilidades físicas.
O filme mantém a essência da franquia: um protagonista em busca de autoconfiança, orientado por mentores sábios. Aqui, o Sr. Han (Jackie Chan) assume novamente o papel de guia espiritual e marcial, enquanto Daniel LaRusso (Ralph Macchio) – o Karate Kid original – surge como uma ponte entre o passado e o presente. A dinâmica entre os três personagens é um dos pontos altos, especialmente pela forma como Li absorve os ensinamentos de ambos os mestres, combinando kung fu e karatê em um estilo único para o confronto final.
A trama, é claro, não foge dos clichês do gênero: o “azarão” que supera adversidades, o vilão arrogante, os treinos pesados e a lição de que a verdadeira vitória está no crescimento pessoal. No entanto, como em “Cobra Kai”, a série derivada que revitalizou a franquia, “Lendas” sabe usar essas convenções a seu favor. A emoção de ver Macchio e Chan juntos na tela, por exemplo, compensa a falta de originalidade no roteiro. Além disso, o filme mantém o coração da saga, com valores como respeito, resiliência e amizade no centro da narrativa.
Visualmente, as cenas de ação são bem coreografadas, mesclando a elegância do kung fu com a intensidade do karatê. Ben Wang demonstra carisma e habilidade física, sustentando o protagonismo com naturalidade. Jackie Chan, embora com menos cenas de lutas espetaculares, entrega sua habitual mistura de humor e sabedoria. Já Macchio aparece em um papel mais contido, mas sua presença é suficiente para gerar frisson nos fãs.
“Karatê Kid: Lendas” não traz exatamente novidades, mas cumpre seu propósito em entreter e homenagear o legado da franquia. Seu maior trunfo é a capacidade de equilibrar nostalgia e renovação, trazendo elementos conhecidos – como o torneio decisivo e os treinos filosóficos – enquanto introduz um novo herói com quem o público pode se identificar. Para os fãs de longa data, é uma celebração afetuosa; para os novatos, uma porta de entrada acessível.
Embora não escape totalmente das fórmulas previsíveis, “Karatê Kid: Lendas” é um filme cativante, que honra seu passado sem tornar-se refém dele. A química entre os protagonistas, as cenas de ação dinâmicas e a mensagem inspiradora fazem desta uma adição digna à franquia. Não é uma obra revolucionária, mas é feita com tanto carinho que fica difícil resistir ao seu charme. No fim, como dizem os mentores do filme: “Não é sobre vencer ou perder, mas sobre crescer”. E “Lendas” cresce – dentro dos limites que ele mesmo escolheu.
Jorge Ghiorzi
jghiorzi@gmail.com