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Coluna de Cinema – Edição 36

Coluna de Cinema – Edição 36
21 junho
10:14 2025

Extermínio – A Evolução: o vírus não morreu

Após uma espera que quase faz jus ao título original, o aclamado diretor Danny Boyle retorna ao universo de zumbis que ele mesmo ajudou a revolucionar em 2002 com “Extermínio” (28 Days Later). Entre o filme original e esta sequência “Extermínio: A Evolução” (28 Years Later), passaram-se 23 anos, uma ironia não intencional, já que o título original explicita essa lacuna temporal. No Brasil, o filme ganhou o subtítulo “A Evolução”, um indicativo claro de que Hollywood está mais uma vez apostando em uma franquia. Quando um filme recebe termos como “Evolução”, “Origem” ou “Renascimento”, é sinal de que o estúdio vislumbra uma série de sequências e spin-offs.

Danny Boyle, vencedor do Oscar por “Quem Quer Ser um Milionário?” (2008), e o roteirista Alex Garland, indicado ao Oscar por “Ex Machina” (2014) e diretor de “Guerra Civil” (2024), reúnem-se novamente para expandir o mundo pós-apocalíptico que criaram duas décadas atrás. Desta vez, a história se passa em um futuro distópico onde o vírus da raiva – agora ainda mais mutante e imprevisível – continua a assolar a Grã-Bretanha. Enquanto grande parte do mundo se recuperou, o território britânico permanece em quarentena, com pequenos grupos de sobreviventes resistindo em enclaves isolados. Um desses grupos vive em uma ilha fortificada, conectada ao continente por uma única ponte vigiada. Quando um dos habitantes, Jamie (Aaron Taylor-Johnson), e seu filho Spike (Alfie Williams) se aventuram no continente para treinamento de sobrevivência, descobrem que os infectados não são mais os únicos perigos: os próprios humanos sobreviventes sofreram transformações ainda mais aterrorizantes.

“Extermínio: A Evolução” não é uma continuação direta do primeiro filme, muito menos do mal-recebido “Extermínio 2” (28 Weeks Later, 2007), que foi dirigido por Juan Carlos Fresnadillo, sem a participação criativa de Boyle e Garland. Essa decisão foi acertada. Ao ignorar os eventos do segundo filme, a nova história consegue resgatar o tom visceral e desesperador do original, evitando os clichês de ação hollywoodiana que enfraqueceram a sequência de 2007.

O primeiro “Extermínio” consagrou Cillian Murphy como Jim, um homem que acorda de um coma em um mundo devastado pelo vírus. Murphy, que mais tarde se tornaria um nome global graças à série “Peaky Blinders” e particularmente por “Oppenheimer”, pelo qual ganhou o Oscar. Sua ausência nesta sequência é sentida, mas o filme compensa com um elenco sólido. Em cena podemos ver Aaron Taylor-Johnson, conhecido por “Capitão América: Guerra Civil”, que entrega uma performance física e emocionalmente exigente de um pai que precisa proteger seu filho em um mundo brutal; Jodie Comer, a estrela da série “Killing Eve”, como uma sobrevivente cética, questionando as escolhas morais do grupo, e ainda Ralph Fiennes, o veterano ator, conhecido por “O Paciente Inglês”, “Harry Potter” e o recente “Conclave”.

Assim como o primeiro filme usou os zumbis como metáfora para o colapso social, “A Evolução” explora temas como isolamento, radicalismo e a perda da humanidade em nome da sobrevivência. A mutação dos infectados e dos próprios humanos sugere que o verdadeiro vírus pode ser a desesperança, uma ideia perturbadoramente relevante em tempos de pandemias reais e polarização política.

“Extermínio: A Evolução” não é apenas uma sequência digna do original, mas uma expansão necessária de seu universo. Boyle e Garland conseguem equilibrar ação frenética com profundidade narrativa, evitando os excessos do gênero. Se o subtítulo “A Evolução” realmente indicar o início de uma nova franquia, que ela mantenha essa qualidade e, quem sabe, traga Cillian Murphy de volta em um futuro capítulo.

Jorge Ghiorz

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