Coluna de Cinema – Edição 44
Interestelar: para o infinito e além

O relançamento nos cinemas de “Interestelar”, de Christopher Nolan, oportuniza a revisão, na tela grande, desta obra monumental. Passada pouco mais de uma década, o filme ainda se sustenta como uma grande obra? Resposta incontestável: um imenso “sim”. Esta ficção científica visionária ainda preserva seu espírito desafiador ao mesmo tempo que continua a nos fascinar.
Este filme de Christopher Nolan, lançado em 2014, era fruto de uma antiga paixão e obsessão do realizador. Nunca foi segredo para ninguém que o próprio Nolan já declarara inúmeras vezes que “2001: Uma Odisseia no Espaço” era o filme mais significativo e poderoso que já assistira. Pois “Interestelar” foi concebido como a forma de Nolan contrapor e, sob certo aspecto, “responder”, em seus próprios termos, à mística transcendental que acompanha o filme de Stanley Kubrick que, lançado em 1968, finalmente acabara com a ingenuidade da ficção científica no cinema.
Desde então, qualquer filme de ficção científica que se prezasse e pretendesse ser algo mais do que uma simples aventura espacial ou tecnológica, precisava necessariamente avançar seus limites e abordar questões filosófico-científicas fundamentais que acompanham a Humanidade: a origem do homem; a (in)finitude do Universo; vida; morte; dimensões paralelas e a relatividade do Espaço-Tempo.

Vamos, então, aos fatos de “Interestelar”. O planeta está em risco. Os meios de subsistência se extinguem e a catástrofe se aproxima. Uma das saídas para a sobrevivência da Humanidade está na colonização de outros planetas. Em busca do local ideal para a nova “Terra”, uma missão espacial exploratória é lançada ao hiperespaço com o auxílio de “buracos de minhoca” que acessam outras dimensões da física espacial.
Em “A Origem”, filme anterior, Christopher Nolan foi acusado de ser excessivo nas intermináveis explicações dos personagens, tentando trazer algum sentido às teorias que embasavam a lógica da narrativa. O diretor contava com a suspensão da descrença da plateia. Já o mesmo não necessariamente ocorria em Interestelar. O nível das explicações era bem mais comedido (talvez até um pouco demais), mas, por outro lado, as teorias expostas eram, e ainda são, reais e cientificamente aceitas no terreno das hipóteses.

Já havíamos citado a relação com “2001”, mas “Interestelar” ainda possui alguns pontos de contato com “Contato”, filme dirigido por Robert Zemeckis e estrelado por Jodie Foster, lançado em 1997. Aquele filme também narrava uma viagem dimensional para outras realidades. E, curiosamente, também contava com Matthew McConaughey no elenco, como um religioso dividido entre a fé e a ciência. Mas aqui não era o caso. Em “Interestelar’, ele interpreta um ex-astronauta que acredita firmemente no poder da ciência e na força do amor e da família.
“Interestelar” se mantém como uma produção que carrega algumas imperfeições narrativas, ainda que extraordinária em suas pretensões. Desnecessariamente longo e, por vezes, dispersivo, o filme de Christopher Nolan não consegue, em suas quase três horas de duração, dar conta de todo o excesso de possibilidades que a história insinuava. Mas isso não tira o brilho de sua ousadia. E que uma coisa fique certa: poucas vezes o cinema tratou com tanta criatividade os efeitos da Teoria da Relatividade que alteram Tempo e Espaço. Não é à toa que, de acordo com os mais renomados cientistas do mundo, a representação gráfica de um buraco negro no filme de Christopher Nolan é uma das mais rigorosas e precisas jamais imaginadas deste fenômeno cosmológico. Enfim, contar mais do que isso, para alguém que ainda não teve a oportunidade de assistir ao filme de Nolan, é puro spoiler!
Jorge Ghiorzi







