Com cinco mil assinaturas, comerciantes da Av. Bento Gonçalves rebatem Executivo
População reúne mais de 5.000 assinaturas para contrapor aplicativo que balizou decisão de acabar com estacionamento na Av. Bento
Se o governo decidiu o futuro da Avenida Bento Gonçalves ouvindo pouco mais de 1.500 pessoas por um aplicativo na internet, os comerciantes que ali trabalham recolheram mais de 5 mil assinaturas da comunidade contrária ao fim do estacionamento no local. O documento foi apresentado na audiência pública realizada na Câmara Municipal na noite de sexta-feira, 04/12.
Mas, se valer a posição do secretário Gilberto Cunha, que esteve presente à audiência e falou em nome do prefeito, a decisão já está tomada. Tanto que ele não considerou as 5 mil assinaturas mais importantes do que o Colab, onde os 0,43% de munícipes se manifestaram. “ (O Colab) não foi resultado de uma pesquisa metodológica. Nada mais é do que um instrumento de consulta, assim como as assinaturas. Se ele é falho, se permite que a pessoa vote várias vezes, também permite a pessoa entrar e coloca sua opinião”, disse Cunha.
Para o vereador Ricardo Santos (PDT), no entanto, o fato de o aplicativo permitir que uma mesma pessoa, de um mesmo computador possa votar várias vezes, já demonstra a ineficácia do sistema. “Eu votei umas 10 vezes, então como tomar uma decisão com base nesse aplicativo?” questionou o parlamentar.
Comerciantes e vereadores vão tentar, mais uma vez, ser ouvidos pelo prefeito. Uma reunião está sendo agendada para esta semana, com secretários e prefeito. Na audiência pública, o secretário de Transportes e Trânsito, Claudio Montanelli afirmou: “não tenho o poder de alterar o que foi decidido, o que temos condições é de começarmos a construir compensações. Pode se pensar num estacionamento rotativo no canteiro central e nas vias laterais”.
Indignação – Adriana Perez, proprietária de comércio na Avenida Bento, manifestou o pensamento dos demais empresários. Segundo explicou, todos os dias, dezenas de pessoas entregam currículos nos estabelecimentos, mas, além de não poderem contratar ninguém, os comerciantes terão que demitir boa parte de seus funcionários quando o movimento na Avenida diminuir.
Ela também questionou a construção de um parque em duas quadras do canteiro central, em frente ao Parque Dom Antônio Záttera. “A Prefeitura vai gastar R$ 1,3 milhão em duas quadras, se tem na frente um parque que não pode usar?”, questionou, referindo-se à praça que, hoje, encontra-se “sucateada, destruída e cheia de usuários d e drogas”.
A comerciante também afirmou que “nem sempre as decisões servem para um determinado momento. Estamos numa recessão. Temos coisas mais necessárias para investir dinheiro”.
O movimento dos empresários da Avenida, que lotaram a audiência junto com os funcionários, cuja preocupação com o possível desemprego já é real, recebeu o apoio dos vereadores. Pedro Godinho (PSD) pediu a justificativa da ausência dos secretários Paulo Morales e César Mendes. Para o Tenente Bruno (REDE), a opção da Prefeitura pelo baixo número de adesões ao aplicativo Colab é um desrespeito aos mais de 5 mil comerciantes que assinaram documento apresentado à Câmara.
Marcos Ferreira, Marcola (PT) foi enfático: “se não tem a possibilidade de rever a decisão, vamos buscar outras medidas”. Beto Z3 (PT) disse que o governo esqueceu a questão social e só pensou no lado técnico. “Os comerciantes têm que continuar trabalhando, gerando empregos e pagando seus impostos”.
Vitor Paladini questionou a solução do governo para os comerciantes, mas ouviu do secretário Gilberto Cunha a resposta: “acredito que a Prefeitura vai adotar aquela que vai beneficiar o sistema (a Avenida como uma artéria por onde os veículos passam, sem estacionar)”.
Também indignado, o vereador Anselmo Rodrigues disse que o governo não se preocupa com a população, nem com aqueles que produzem. Faltou diálogo, no entender do vereador Antonio Peres (PSB), enquanto o vereador Conceição Monhsam (PT) foi contundente: “embarquei no sonho do prefeito dos parques lineares, me venderam uma mentira”.
Mas foi o vereador Ademar Ornel (DEM), presidente do Legislativo, quem deixou mais clara a posição da Câmara. Segundo afirmou, o Executivo precisa se dar conta de que “a cidade não é do prefeito, nem dos secretários nem dos vereadores, é do povo. Não podemos fazer o que nossa cabeça quer”.
Ornel avisou que o país vive um momento de crise onde “não sabemos o dia de amanhã, como vamos prejudicá-los (os comerciantes), ser mais uma oposição no seu dia a dia? Se as pessoas que ali produzem não querem, vamos impor só para dizer que temos poder? Quando digo que o governo não ouve as pessoas é disso que estou falando. O governo vive fora da realidade pelotense, de conciliar o trabalho das pessoas com a cidade”.
Fotos: José Pacheco/Especial/DM