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quarta, 15 de maio de 2024

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DIA DO PATRIMÔNIO : Conversa sobre a arte urbana do graffiti

DIA DO PATRIMÔNIO :  Conversa sobre a arte urbana do graffiti
03 julho
08:31 2019

Nesta quarta às 17h no Casarão 3, pesquisador Fabrício Barreto explanará sobre o mestrado que aborda o graffiti em Pelotas

Por Carlos Cogoy

Andaimes instalados para a criatividade dos grafiteiros na região portuária

Andaimes instalados para a criatividade dos grafiteiros na região portuária

Ruínas de edificações que sediaram indústrias e empresas, evocando a fase áurea do Porto de Pelotas. Nos muros e paredes, no entanto, imagens criativas e artísticas, num mapa de expressões contemporâneas que reinterpretam o lugar. Os graffitis na região do Porto, estimularam a pesquisa do fotógrafo porto-alegrense Fabrício Barreto. E, há quase um ano, ele concluiu o mestrado em antropologia na UFPel. Como abordagem “A cidade e seus graffiti: Arte urbana em Pelotas”, temática que será explanada hoje às 17h à Praça Cel. Pedro Osório 3. Fabrício é um dos convidados do projeto “Conversas do Dia do Patrimônio”, e o evento terá entrada franca.

IDEIA – Egresso da filosofia na UFRGS, Fabrício é profissional da fotografia, com atividades na imprensa, e também áreas como gastronomia e arquitetura. Ele menciona sobre a ideia para a pesquisa na UFPel: “Com o mestrado, eu sabia que frequentaria Pelotas com regularidade. Para a realização das disciplinas obrigatórias do pós, pelo menos por um ano. Neste período, propus-me a desenvolver um ensaio fotográfico na cidade, e passei a buscar uma inspiração para fotografar. Me surpreendeu muito a quantidade de construções antigas na cidade, entretanto as ruínas espalhadas por toda região central atraíram especial atenção. Em Porto Alegre, eu estava fazendo fotografias dos vestígios de antigas casas que eram derrubadas para dar lugar a prédios.

graffiti patrimônio logoEm Pelotas, encontro o graffiti sobre a ruína, um misto entre passado e presente, expressão efêmera com apelo visual lindíssimo. Estava aí minha motivação para fazer o ensaio. Posteriormente este se torna meu objeto de pesquisa no mestrado. Em antropologia, o método de investigação é a etnografia, o que prevê, basicamente, a interação com o campo de investigação na interlocução com um grupo ou indivíduo. No meu caso, os interlocutores foram grafiteiros de Pelotas. Passei, então, a acompanhar suas atividades cotidianas voltadas ao graffiti em encontros atravessados por longas conversas. Foram estes encontros de caráter etnográfico que me mostraram os caminhos a seguir na pesquisa”.

PORTO – Fabrício observa sobre a região estudada: “Minha pesquisa aborda o processo de transformação urbana da região portuária pelotense. No bairro Porto, como é conhecido pela população, ainda reverbera o passado das charqueadas e, a atmosfera operária, herança de um imponente polo industrial, é latente nas ruas e calçadas da região. Portanto estamos falando de diversas camadas de tempo que exacerbam os diferentes períodos de transformação da cidade, evidenciados pela imensa quantidade de tinta spray que cobre os muros abandonados das fábricas. Em meio a esta tensão entre o antigo e o contemporâneo, ao transitar pelas ruas da região portuária, temos a sensação de estar em uma espécie de galeria de arte a céu aberto. Hoje o bairro se caracteriza pela presença da UFPEL, o que configura uma paisagem universitária. As antigas ‘casas de renda’ estão dando lugar a prédios que atendem demanda do mercado imobiliário. São bares, lancherias, restaurantes, estabelecimentos comerciais voltados a estudantes e a comunidade universitária como um todo. Vale ressaltar que muitos grafiteiros de Pelotas estudam ou estudaram Artes Visuais na UFPEL. Isto significa que suas práticas artísticas na rua ocorrem a poucos metros das salas de aula da universidade”

Pesquisador Fabrício Barreto

Pesquisador Fabrício Barreto

EMPRESA tem provocado mudanças na região portuária. O pesquisador acrescenta: “Recentemente, a Sagres Agenciamentos Marítimos, estabeleceu um outro ritmo à região, acelerando o processo de transformação. Vias foram asfaltadas e caminhões pesando cerca de cinquenta toneladas, carregados de toras, passaram a transitar no bairro para acessar o porto da cidade. A empresa financiou obras de escoamento nas Doquinhas, e vem desenvolvendo projetos de requalificação da área. Entre eles, está o patrocínio de eventos voltados ao graffiti. O apoio da Sagres alçou esta arte urbana a um outro patamar, proporcionou maior visibilidade ao trabalho dos grafiteiros e instituiu uma nova perspectiva ao graffiti na região portuária pelotense. Os grandes murais do ‘Spraysons’ são um exemplo disso. Aqueles desenhos que inicialmente estendiam seus traços de acordo com as capacidades do corpo humano, se implementam com a ajuda de andaimes, e plataforma de trabalho aéreo (PTA), em encontros que mobilizam uma quantidade considerável de pessoas. Outro exemplo é o ‘Meeting of Styles’, evento que reuniu, num final de semana de novembro do ano passado, grafiteiros de diferentes países e regiões do Brasil para pintar um grande mural em frente ao terminal de toras da empresa”.

 

Arte com apoio da Sagres

Arte com apoio da Sagres

POTENCIAL – Para Fabrício: “Como podemos observar, o graffiti é, também, um importante agente de transformação da região. Na medida que compreendemos seu potencial de transformação, não seria difícil mensurar seu potencial econômico. Sem dificuldades encontramos cidades de diferentes países, onde o graffiti está associado a passeios turísticos, ou vem cumprindo papel no desenvolvimento urbano”.

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