Diário da Manhã

segunda, 29 de abril de 2024

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DIVERSIDADE RELIGIOSA: Judaísmo, catolicismo e espiritismo

14 outubro
17:48 2014

No 10º Seminário Regional de Ensino Religioso, diálogo enfatizou a necessidade da tolerância entre as diferentes tradições

Por Carlos Cogoy

Professora Dora Domingues,  padre Carlos Rômulo, espírita Rosane Nunes e o judeu Jaime Bendjouya  CRÉDITO: Cogoy

Professora Dora Domingues, padre Carlos Rômulo, espírita Rosane Nunes e o judeu Jaime Bendjouya
CRÉDITO:
Cogoy

Respeito, generosidade, valores morais e perspectivas positivas. Saldo do que pode advir, em sala de aula, através do ensino religioso. Assim consideram os integrantes do Conselho de Ensino Religioso (CONER),  cuja seccional vinculada a 5ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), realizou a décima edição do Seminário Regional de Ensino Religioso. Debates sobre aspectos doutrinários e aspectos legais – atualmente o ensino religioso, conforme legislação, deve ser oferecido no fundamental -, rumaram para o consenso à tolerância na diversidade. A professora Dora Mara de Almeida Domingues, que coordena a seccional do CONER, salientou que, ao invés do passado, na contemporaneidade o ensino religioso deve ser amplo e plural, dialogando sem “proselitismo”. Na abertura do seminário, que contou com a presença da secretária municipal Clesis Crochemore (Justiça Social e Segurança), mesa “Tradições religiosas e sua importância para a cultura da paz”. Participações de Jaime Bendjouya (judaísmo), padre Carlos Rômulo (cristianismo), professora Rosane Nunes (espiritismo).

JUDAÍSMO – O engenheiro agrícola Jaime Bendjouya salientou que não é líder religioso, mas estudioso e também “pecador”. Ele lançou a questão “o que é ser judeu?” e explicou: “Quando se pensa a respeito do judeu, não se resume ao uso do ‘quipá’ ou ‘solidéu’ sobre a cabeça, tampouco a cor da pele e aspectos físicos. Assim como o brasileiro, que abrange desde o negro até aspecto europeu com cabelo avermelhado, há judeus de diferentes feições. Isto deve-se à diáspora, que levou à necessidade de adaptação a diferentes locais. E, ao contrário do que se ouve às vezes, o judeu não é nem melhor nem pior do que ninguém, mas um pouco diferente”.

SEM MESSIAS – Jaime também abordou sobre a doutrina: “As igrejas cristãs baseiam-se na Bíblia, cujos cânones são judaicos. Se as origens são as mesmas, as derivações diferem. E seguimos linhas diferentes. No judaísmo não se admite o dogma, ou seja, ‘é porque é’. Devido a várias perseguições, inúmeras vezes foi replantada a árvore do conhecimento. E houve influência dos assírios, babilônios, persas, gregos, romanos e egípcios. Outro aspecto é que o judaísmo não é profético, então não aceita previsões nem fatalismos como o fim dos tempos. Como religião monoteísta, Deus é ser único e superior a tudo, manifesto em nossas ações diárias. Deus é amor e caridade e não vai castigar. O Senhor é onipotente e onipresente, compreensivo e misericordioso. Eu sou o que sou e, ao contrário de quem vai rezar e depois passa indiferente ao semelhante que precisa ajuda, não posso permanecer tranquilo diante do irmão que tem necessidade. Então implica também na minha consciência, e a consciência coletiva, num respeito mútuo. Somos cópias toscas da figura de Deus, e pecamos permanentemente. Porém, não se acredita na figura de Jesus ou ‘Messias’ que virá com a boa nova, acabando com a fome, guerra e doença. O Messias não é um indivíduo mas a consciência coletiva”.

CIRCUNCISÃO também foi abordada. Trata-se de norma higiênica – corte do prepúcio – efetuada no oitavo dia após o parto. E Jaime ressaltou que é tradição que remonta à época dos judeus como povo nômade. Com o corte foram evitadas inúmeras doenças, sendo baixo o índice de “câncer do colo do útero” nas mulheres. Além disso,  não há judeus hemofílicos.  Já a maioridade religiosa acontece aos treze anos e, afirmou o palestrante, quem “for justo receberá a eternidade. Não se trata de glória mas responsabilidade”. Na explanação, abordagens também sobre o sábado, dia para descanso e introspecção, o pecado como algo que contraria o que é aceito coletivamente,  a “confissão diretamente a Deus”, e a liturgia do Talmud – quarenta livros –  e a Torá (lei).

CATOLICISMO – O padre Carlos Rômulo defendeu o estado laico, permitindo-se a expressão de tradições e valores. Contextualizando a realidade marcada pela tecnologia, observou que, ao invés da transmissão da tradição, há inúmeras possibilidades e opções. Com isso, salientou “o valor do testemunho é mais forte”. Ratificando que o cristianismo provém do judaísmo, mencionou que Cristo e os apóstolos eram judeus. E exemplificou que Paulo antes se chamava Saul. No Concilio de Jerusalém, vertente considerava que havia necessidade de, primeiro ser judeu, para depois tornar-se cristão. Já Paulo defendia que bastava o batismo, abrindo-se para acolher os pagãos. Já em 1.054, disse o padre Rômulo, Concílio de Niceia separou o catolicismo do ocidente e o ortodoxo do Oriente. No século 20, surgimento das igrejas cristãs pentecostais. “O catolicismo não é monolítico. Há ecumenismo na fé dos cristãos, com variantes como os monges beneditinos, igrejas católicas orientais e renovação carismática. Mas Deus é único na igreja e revela a pessoa. Não é fechado, mas trindade na qual cada um se relaciona. Como dogma, a ressurreição de Cristo. Deus ama profundamente, ama cada indivíduo. Creio na ressurreição da carne como identidade única, sendo amado e criado por Deus. Então, avaliando nossa realidade, notamos que estamos pagando preço pela falta de sentido mais profundo ao ser humano. É difícil educar as crianças, omitindo-se a verdade religiosa. O ser humano absolutiza o consumo, drogas e violência, pois é o que ele tem”, abordou o representante católico.

ESPIRITISMO – A professora Rosane Nunes, representando a Liga Espírita Pelotense (LEP), destacou-se pela fluência. Didática, explanou acerca de alguns dos princípios da doutrina codificada por Allan Kardec. E mencionou as cinco obras básicas: Livro dos Espíritos; Livro dos Médiuns; Evangelho segundo o Espiritismo; Céu e inferno; Gênese. Ela comentou sobre os problemas que afligem crianças e jovens. E citou as drogas, intolerância e violência. “Muitos jovens estão abandonados a própria sorte. Também há crianças gerenciando vidas, mandando nos pais”, criticou. E ressaltou: “Deus, nosso pai, é infinitamente justo e bom. Tudo advém dele, e somos filhos do mesmo pai. Ele é o ser supremo, criador, e somos as criaturas cuja fé deve ser inabalável em nosso pai. Ele nos concede a vida, quantas forem necessárias. O corpo físico é veste para nosso aperfeiçoamento. Como consciência de ser imortal, temos de melhorar sempre, discernindo entre o que é bom ou ruim. Assim, dispomos de infinita possibilidade de progresso, erramos e devemos reparar. Mas Deus é misericordioso e justo. Diariamente somos chamados para sermos bons, justos e caridosos. E como o mestre Jesus aconselhou, não devemos fazer aos outros aquilo que não gostaríamos de receber”.

APRENDIZAGEM – No espiritismo é determinante o livre-arbítrio. E para cada causa há uma reação. Trata-se de aprendizagem. E a palestrante acrescentou: “Somos viajantes no tempo e espíritos amigos nos orientam. Devemos aprender com as nossas faltas. E a justiça de Deus não usa a violência mas o tempo para educar o espírito, tantas vezes forem necessárias. São ciclos, e o físico pouco significa. Ao término da vida, quando desencarnamos, o nome e o corpo ficaram apenas como vestes carnais. No outro plano, a verdadeira essência é o espírito eterno”.

FAMÍLIA é laboratório para acertar pendências. Conforme Rosane: “A família tem função educadora e regenerativa. É a grande célula social para o exercício do amor e perdão. Não é fácil, e todos os dias temos de vivenciar virtudes. Às crianças é importante o exercício da fé desde cedo, pois não é o celular que irá resolver os problemas. Então sejamos bons naquilo que fazemos, sendo professores, umbandistas, católicos. O que importa é fazer a diferença na nossa sociedade, transformando a realidade vertical e massificadora numa relação horizontal  tendo Jesus como modelo. Na questão 625 do Livro dos Espíritos, Kardec pergunta qual o modelo, e a resposta é Jesus. Ele é o guia e mestre. Na mensagem ‘Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vai ao pai sem mim’, temos o educador, educando, método, conteúdo e a finalidade, isto é, a bondade de Deus”.

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