Em defesa da democracia: sessão didática de julgamento do TRE-RS inaugura o ano letivo do curso de Direito da UFPel

Na sessão didática conduzida na UFPel, foram julgados os recursos de ações originárias de Pelotas, Santa Vitória do Palmar, São José do Norte e Três Passos sobre propaganda irregular, referente às eleições municipais de 2024
O contexto de disputa armada pelo poder há mais de 100 anos, no Rio Grande do Sul, desencadeou o primeiro movimento voltado à criação de uma justiça especializada para zelar pela democracia; para a garantia de que, hoje, todas e todos os cidadãos possam escolher livremente as suas representações políticas. A memória daquele momento histórico, marcado pela guerra civil de 1923, e os desafios contemporâneos para a manutenção dos valores conquistados, simbolizaram a ação em conjunto entre o Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul (TRE-RS) e a Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) para a realização de sessão didática de julgamento, sobre processos reais, nos espaços da Instituição. Como resultado, a atividade no Salão de Atos na Unidade Acadêmica, na noite de terça-feira (1º), marcou o início do ano letivo do curso de Direito da UFPel.
O TRE-RS é um dos órgão da Justiça Eleitoral, entre os tribunais distribuídos nas capitais de todo o País, dedicados à organização do processo eleitoral, com sede em Porto Alegre e competência sobre o Estado do Rio Grande do Sul. Entre as suas responsabilidades, conforme a Constituição Federal (a norma fundamental, que organiza o Estado brasileiro), está o julgamento dos recursos contrários às decisões em primeiro grau dessa justiça especializada (onde os processos iniciam, nas diferentes zonas eleitorais do RS, e são produzidas as provas). Na sessão didática conduzida na UFPel, foram julgados os recursos de ações originárias de Pelotas, Santa Vitória do Palmar, São José do Norte e Três Passos sobre propaganda irregular, referente às eleições municipais de 2024.
A reitora da UFPel, Ursula da Silva, em sua fala de abertura da sessão de julgamento, considerou como “momento único” a oportunidade acadêmica de “presenciar uma aula digna de iniciar o ano letivo”. Defendeu os valores democráticos, ao sugerir aos e às estudantes compreenderem a participação na sessão didática como um momento de vivência da democracia. “O processo eleitoral nos oportuniza a questão mais importante da vivência de um cidadão e de uma cidadã que é a sua possibilidade de escolha eleitoral, de escolher os seus representantes”, definiu.
Pela Faculdade de Direito, a diretora em exercício, Anelize Corrêa, lembrou da atuação de estudantes, servidoras e servidores da Unidade Acadêmica pela defesa da democracia ao longo de 112 anos do curso de Direito. No espaço em que o respeito à Constituição, à democracia e aos Direitos Humanos são a base para a formação jurídica, o acolhimento ao Tribunal Regional Eleitoral, em sua avaliação, mostra-se simbólico para a sensibilização das e dos estudantes e a preservação da democracia. “Esta casa (…) não só testemunhou momentos importantes da história do nosso país, como teve, entre seus membros, protagonistas dessa história (..); sobreviveu a tempos não democráticos, especialmente pela coragem e empenho de muitos integrantes de seu corpo docente e de seu corpo discente. Essas pessoas fizeram ecoar as suas vozes em defesa da democracia”, disse ao lembrar ao público de estudantes a responsabilidade pelo futuro da democracia no País.
Justiça Eleitoral, a Justiça da Democracia
A iniciativa de realização da sessão de julgamento no interior do Estado é uma das ações do TRE-RS voltadas à ampliação do conhecimento sobre a Justiça Eleitoral, de sua missão em defesa da democracia. O presidente do Tribunal, Voltaire Moraes, explicou que há o compromisso, em todo o País, de assegurar a igualdade de tratamento entre partidos políticos, candidatas e candidatos durante as eleições, para que todas e todos cidadãos possam exercer o direito ao voto, sem interferências, com base apenas nas suas convicções.
Ao final da sessão de julgamento, o presidente classificou o encontro com estudantes da UFPel como “muito significativo”. Ressaltou que a sessão didática é “uma pequena contribuição” à formação de profissionais do Direito, para que sejam capazes de “fazer prevalecer” o Estado Democrático de Direito (quando o poder do Estado é limitado pelo direito das e dos cidadãos, como a dignidade da pessoa humana, a soberania popular, entre outros fundamentos), em suas diversas áreas de atuação. “Por isso nós estamos aqui fazendo uma aposta em todos vocês. […] Nosso País certamente amanhã será melhor do que hoje, porque nós acreditamos em vocês”, projetou.
Propaganda Eleitoral em Análise
A sessão de julgamento do TRE-RS na Faculdade de Direito, também transmitida pelo Youtube, tratou de cinco casos sobre propaganda eleitoral irregular. De forma didática, trouxe processos sobre: propaganda eleitoral em redes sociais por pessoa jurídica, originário de Pelotas; impressão de adesivos com indicação incorreta do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) e fixação de materiais visuais de campanha, ambos de São José do Norte; afirmação falsa em rede social sobre autoria de obra municipal, em Santa Vitória do Palmar; e a realização de campanha eleitoral em templo religioso, em Três Passos.
Na oportunidade, o público pôde acompanhar as explicações a cada rito, decisão e procedimento, por parte da e dos desembargadores e do representante do Ministério Público Eleitoral. Houve casos de votação unânime, por maioria e, em um dos processos, sustentação oral (quando a ou o advogado apresenta as suas alegações antes do julgamento).