Em torno do riso
Marcus Vinícius Martins Antunes
Os antigos diziam: Ridendo castigat mores. Daí as comédias de costumes e os grandes autores, como Molière e Voltaire, ou Bocage e Gregório de Matos, no Brasil; os humoristas, como o Barão de Itararé; daí as fantasias dos blocos de carnaval e as imitações. Daí, a censura, como método que denota medo, como no período da ditadura militar, entre nós.
O primeiro grande filósofo da Igreja, santo Agostinho, escreveu que o riso era um desses “atos ínfimos dos homens”. Para ele, chorar era “um dever”. Tempo depois, Em O Nome da Rosa, Umberto Eco revela a probição do riso que vigorava num mosteiro beneditino da Igreja Católica, no século XIV. Isso, apesar de que o admitisse Aristóteles, para Tomás de Aquino “O Filósofo”, e afirmasse que o homem é o único animal que ri.
Já outro filósofo, Descartes, quase três séculos depois (O Discurso do Método: Das Paixões em Geral), tem uma curiosa e interessante definição fisiológica para o riso: “O riso consiste em que o sangue que procede da cavidade direita do coração pela veia arteriosa, inflando de súbito e repetidas vezes os pulmões, faz com que o ar neles contido seja obrigado a sair pelo gasnete, onde forma uma voz inarticulada e estrepitosa: e tanto os pulmões, ao se inflarem, quanto este ar, ao sair, impelem todos os músculos do diafragma, do peito e da garganta, mediante o que movem os do rosto que têm com eles qualquer conexão: e não é mais que essa ação do rosto, com essa voz inarticulada e estrepitosa, que chamamos riso”.
Simples e fácil, não? Mas verdadeira … Para ele, uma das principais causas do riso é a surpresa da admiração. E não é? O tombo, sem consequências, por exemplo, uma trapalhada súbita…
Ilustro, a final, com comentário que vi publicado, do qual fiz discreta adaptação. O breve relato mostra como o riso pode conviver com o trágico. E castigar o a providência inapropriada e autoritária.
“Quando eu tinha 10 anos, meu pai obrigou-me a ir a um velório de um amigo dele, que eu não conhecia.
Quando chegamos lá, fiquei num canto à espera da hora de sair. Aí, um homem aproximou-se de mim e falou: “Aproveite a vida menino, seja feliz porque eu não aproveitei”. Passou a mão na minha cabeça e se foi.
Meu pai, antes de irmos embora, obrigou-me a despedir da pessoa morta. Quando olhei para o caixão, assustei-me: era o homem que conversava comigo no tempo em que fiquei no canto. Passei a não conseguir dormir, a ter pavor de ficar sozinho, a ir ao psicólogo, a não apagar a luz de noite…
Anos depois descobri algo incrível, que mudou a minha vida: aquele morto miserável tinha um irmão gêmeo. ”….
Advogado