Enchente histórica de 1941 também atingiu a Zona Sul
Passados 83 anos, a história pode se repetir. O volume de chuvas na região central e norte do Estado é superior ao registrado em 1941
Muito se tem falado da histórica enchente de 1941 que assolou Porto Alegre. No início de maio daquele ano, o nível do Guaíba atingiu a marca recorde de 4,76m no Cais Mauá, onde a cota de inundação é de três metros. O volume de chuvas e a inundação daquela época foram amplamente superados agora, em 2014. O nível do Guaíba chegou a 5,30m no mesmo ponto.
Pois em 1941, Pelotas e a Zona Sul também foram atingidas por uma enchente catastrófica. É o que conta o falecido historiador Nelson Nobre Magalhães, em seu trabalho “Pelotas Memória”. Naquele ano, Pelotas foi inundada pelas águas que vieram descendo pelo Lago Guaíba e elevaram o nível da Lagoa dos Patos, atingindo em cheio a cidade.
“Dentro da memória de Pelotas, ficaram registradas na memória de muitos pelotenses como uma das mais graves enchentes que aconteceu em nossa cidade”, relatou o historiador.
As imagens estão em um mini-documentário exibido pela TV UCPel:
SÃO LOURENÇO EMBAIXO D’ÁGUA
Em São Lourenço do Sul, naquele mesmo ano de 1941, houve também uma enchente histórica. O professor Edilberto Luiz Hammes conta como foi em seu livro “A Radiografia de Um Município, das Origens ao Ano 2000 – Vol.: 4”:
“Em 1932 e 1937, têm-se notícias de grandes enchentes que atingiram as já então numerosas casas existentes nas zonas vizinhas ao leito do mesmo arroio. Mas a que ficou mais na memória da população foi, sem dúvida, a que atingiu todas as cidades da bacia da Lagoa dos Patos: a de 1941”.
O relato de Hammes segue:
“Ao contrário das outras, que em poucas horas ou dias desaparecem, essa durou muitas semanas. O fenômeno, na realidade, não foi só local, mas atingiu a todas as cidades situadas às margens da grande Lagoa dos Patos, de Porto Alegre a Rio Grande, e junto aos canais (como o de São Gonçalo que margeia Pelotas) e cursos d’água que nela desembocam”.
As imagens daquela época impressionam. Confiram:
RIO GRANDE TAMBÉM ASSOLADA
Um trabalho apresentado em 2012 por Luiz Henrique Torres, Professor do Programa de Pós-Graduação em Gerenciamento Costeiro (FURG), relata como foi a enchente de 1941 no município de Rio Grande.
“O ano de 1941 trouxe uma provação difícil para os moradores do município do Rio Grande: a Grande Enchente, um fenômeno de dimensões até então desconhecido nos registros”. Ele apresenta dados do relatório oficial de 1941: “A zona do alto comércio, intransitável; grande parte das nossas indústrias, paralisadas; uma multidão de famílias, em sua grande maioria, formada por operários, expulsa dos seus lares e impedida de trabalhar; as comunicações intermunicipais, interrompidas; a vida do município, grandemente desorganizada; as ilhas circunvizinhas, alagadas e, uma delas, escondida pelo mar”.
“As chuvas excessivas ocorridas em grande parte do Rio Grande do Sul e escoadas pela Lagoa dos Patos até a Barra do Rio Grande é que promoverão a elevação das águas que invadiram a cidade”, concluiu o pesquisador.
Passados 83 anos, a história pode se repetir. O volume de chuvas na região central e norte do Estado é superior ao registrado em 1941.
A Defesa Civil vem emitindo alertas sobre a provável inundação das áreas da Lagoa dos Patos. A Prefeitura de Pelotas está tomando medidas de prevenção, porém, sabe-se que a cheia que atingiu Porto Alegre neste 2024 superou com muita folga àquela de 1941. É de se imaginar que o volume de águas que chegará até a Zona Sul seja também superado desde a enchente de 1941. Precisamos estar preparados para algo nunca visto.
Na mancha do mapa, a área informada pela Defesa Civil que deverá ser atingida por inundações