Energia elétrica furtada bate recordes no Brasil
Se fossem uma usina de produção de energia elétrica, os “gatos” seriam a segunda maior usina do Brasil
O volume de energia elétrica furtada no Brasil bateu recorde em 2023 e ultrapassou a geração da hidrelétrica de Belo Monte (PA) que é a segunda maior do país. Os “gatos”, como são conhecidas as “perdas não técnicas”, superaram a geração média da usina: enquanto Belo Monte produz 4.418 MW médios, a energia furtada ao longo do ano passado somou 4.655 MW médios.
Ou seja, se fossem uma usina de produção de energia elétrica, os “gatos” seriam a segunda maior do Brasil. No comparativo, essa “usina gato” também representa 60% do fornecimento da Itaipu para o mercado brasileiro.
O levantamento foi feito pela Abradee (Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica) a partir de dados da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
O furto de energia acontece quando é feita uma ligação clandestina para desviar a energia elétrica sem que seja preciso pagar as concessionárias pelo serviço. Essa prática ilegal sobrecarrega as redes elétricas, encarece a conta de luz e pode causar curtos-circuitos ou incêndios.
“Os consumidores mais pobres são mais impactados pelo aumento da conta de luz, que tem, entre outros fatores, o peso dos altos índices de furto de energia registrados sobretudo em alguns estados do país”, diz a Associação, em nota.
O cenário tem impacto direto nas contas de luz dos consumidores, uma vez que esse tipo de crime resulta numa tarifa mais alta. O impacto financeiro só com os custos de compra de energia é de R$ 10,1 bilhões. O cálculo é feito a partir do custo médio de aquisição de energia pelas distribuidoras em 2023, de R$ 249 bilhões, com a multiplicação do valor pelo montante de energia perdida.
Segundo a Abradee, a situação extrapolou o controle das distribuidoras de energia: técnicos não conseguem entrar em áreas em que falta a presença de policiais, como os dominados pelo tráfico e por milícias. Tornou-se um problema de segurança pública. O furto de energia é crime previsto no artigo 155 do Código Penal. A pena é de 1 a 4 anos de reclusão. A entidade que representa as distribuidoras afirma que, além de aumentar a conta de luz, a prática “provoca risco de acidentes e incêndios e compromete investimentos e sustentabilidade de empresas do setor”.
TOTAL DE ENERGIA ELÉTRICA FURTADA POR ESTADO (EM %)
Em relação à energia cobrada na conta de luz
Estado – Total furtado
AC – 9,20
AL – 17,2
AM – 117,80
AP – 67,4
BA – 14,20
CE – 15,60
DF – 11,3
ES – 14,10
GO – 6
MA – 11,9
MG – 7
MS – 8,8
MT – 14
PA – 33,5
PB – 7,4
PE – 22,20
PI – 11
PR – 5,60
RJ – 62
RN – 3
RO – 28,70
RR – 11,5
RS – 8,9
SC – 7,7
SE – 4,4
SP – 10,9
TO – 2,7
‘Gatos’ no Amazonas são maiores do que a energia faturada na conta de luz, mas Rio de Janeiro e São Paulo têm as maiores perdas em volume.