Entenda mais sobre o fair play financeiro no futebol
Especialistas comentam o caso do Manchester City e como o modelo poderá funcionar no Brasil
Quando o clube inglês Manchester City foi punido por descumprimento às regras do fair play financeiro, a UEFA aplicou uma pena duríssima de banimento por dois anos da Liga dos Campeões da Europa. Além disso, a entidade que rege o futebol europeu estipulou multa de 30 milhões de euros (cerca de 193 milhões de reais). A decisão surpreendeu o mundo do futebol.
A acusação baseava-se em aportes ilegais feitos pelos donos do time, disfarçados de receitas. O cube sempre negou que tivesse cometido tais ilegalidades. Através de recurso, o City conseguiu reverter a punição junto a Corte Arbitral do Esporte (CAS). O clube foi condenado apenas por não ajudar nas investigações e não por irregularidades contábeis. Também conseguiu baixar a multa de 30 milhões de euros, que ficou estipulada em 10 milhões.
Alheio a polêmica e considerando o episódio superado, o Manchester City já prepara seu elenco para a próxima Champions League e pensa em reforços.
Teria sido um golpe no chamado “fair play financeiro”? Mas afinal, o que é esse mecanismo?
O fair play financeiro (FFP, na sigla em inglês) foi aprovado em 2010 e entrou em funcionamento no ano seguinte. Desde então, os clubes que participam das competições da UEFA têm de provar que não tem dívidas em atraso em relação a outros clubes, jogadores, segurança social e autoridades fiscais.
A partir de 2013 os clubes passaram a ter de respeitar uma gestão equilibrada em “break-even”, que por princípio significa que não gastam mais do que ganham, restringindo a acumulação de dívidas.
Especialistas no tema avaliam que a decisão que absolveu o clube inglês não prejudica o FFP. “O Fair Play Financeiro não foi criado para punir ninguém, nem criar sanções. Ele visa apenas o desenvolvimento sustentável, sem lavagem de dinheiro”, explica Pedro Daniel, diretor-executivo da Ernst & Young: “Os donos têm permissão para fazer aportes de até 30% da receita do clube. Se não passar disso, não há porque punir”.
Para o advogado Maurício Corrêa, presidente da Comissão de Direito Esportivo do Instituto de Advogados Brasileiros, “o fair play financeiro é uma forma de você fazer com que os clubes adequem as suas finanças, ou seja, tenham receitas superiores aos seus gastos, portanto o clube não vai poder gastar mais do que ele recebe”, avalia.
O fato é que o modelo, mesmo já implantado e reconhecido por toda a Europa, ainda traz muitas dúvidas e confusões. No blog da Betway, casa de apostas online, você encontra um vídeo com depoimentos dos principais técnicos da Premier League, contrários e favoráveis à decisão do CAS.
Aqui no Brasil, o Fair Play Financeiro ainda está em fase de planejamento. “A previsão é que seja implementado de maneira definitiva ainda esse ano”, afirma o otimista Maurício Corrêa.
“O Fair Play Financeiro não é um movimento socialista, que busca o equilíbrio financeiro entre os clubes. Se você tem mais dinheiro, você vai gastar mais”, completa Pedro Daniel. “A partir do momento que você tem uma gestão eficaz, com a visão de que as despesas não podem superar as receitas, cresce a possibilidade de atrair os investidores”, diz Maurício Corrêa.