Especialista alerta como se prevenir de contaminações após enchentes
Infectologista do HE-UFPel explica quais as medidas necessárias para preservar a saúde
A população gaúcha ainda sofre com as consequências do último evento climático extremo ocorrido no final de abril no Rio Grande do Sul (RS). Diante desse cenário, é fundamental que a população receba informações sobre medidas preventivas para, se possível, amenizar as perdas e evitar uma diversidade de doenças causadas por contaminação, sobretudo da água.
O médico infectologista Hilton Luís Alves Filho, do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel), orienta para a adoção de diversas medidas preventivas ressaltando que “a prevenção é a melhor forma de proteção. Mantenha-se informado sobre as orientações das autoridades de saúde e da Defesa Civil. Seja prudente, proteja-se e proteja os outros”. Considerando que cada indivíduo se encontra em condições diferentes de saneamento e acesso à saúde neste momento de catástrofe, o especialista dá algumas recomendações importantes a serem seguidas dentro das possibilidades. Confira:
Segurança:
- Procure um abrigo se precisar evacuar sua casa.
- Tente manter o uso das suas medicações de uso contínuo.
- Em caso de sintomas como febre, dor no corpo e no abdômen, náuseas, vômitos e diarreia, procure assistência médica imediatamente.
- Mantenha-se seguro e siga as orientações das autoridades locais. Diversos voluntários estão sendo orientados pela Defesa Civil, Bombeiros e outros órgãos de proteção para atuarem nessa emergência.
Prevenção de doenças
- Água: O ideal é ferver a água por, pelo menos, um minuto ou utilizar pastilhas de purificação antes do consumo. Filtros comuns não são suficientes. Não utilize água de enchentes ou mesmo água de poços, cisternas e reservatórios atingidos pelas enchentes.
- Alimentos: Descarte alimentos que tiveram contato com água de enchente, mesmo que fechados em embalagens. É extremamente importante contar com o apoio dos voluntários e buscar consumir apenas alimentos selados e devidamente higienizados.
- Animais: A água e a comida dos animais também precisam ser seguras e limpas. Mutirões estão sendo realizados em todo o Brasil para o envio de rações, porque toda vida importa.
Sobre doenças infecciosas
- Leptospirose: Evite contato direto com água que possa estar contaminada por urina de roedores.
- Cólera e Hepatite A: Práticas de higiene são essenciais. Lave as mãos frequentemente com água e sabão.
- Diarreias e Gastroenterites: Não beba água ou coma alimentos afetados pelas águas das enchentes e mantenha, sempre que possível, a higiene pessoal adequada.
- Tétano: A vacinação é a única forma de proteção contra o tétano. É importante manter o esquema vacinal atualizado, com três doses e reforços a cada 10 anos. Se há acidente com perfurocortante deve-se fazer uma dose extra profilática, se o último reforço tiver sido há menos de 5 anos. Procure ajuda dos profissionais de saúde.
Cuidado com ferimentos
- Limpe imediatamente qualquer ferida, primeiramente com água limpa e sabão, em seguida aplique algum antisséptico disponível (álcool 70%, por exemplo). Em caso de ferimentos profundos ou contaminados, procure assistência médica para avaliação da necessidade de reforço vacinal.
Prevenção de acidentes com animais peçonhentos
- Vestuário apropriado: Nem sempre é possível, mas o recomendado é usar calçados fechados e luvas ao realizar atividades ao ar livre ou em áreas com vegetação densa ou inundadas.
- Atenção ao ambiente: Evite colocar as mãos em buracos, fendas, troncos e outros locais onde animais peçonhentos possam se esconder, fugindo das cheias.
- Manutenção dos ambientes: Seja antes ou depois da subida das águas, tente manter o ambiente o mais limpo possível. Evite entulhos, e examine roupas e calçados antes de usá-los.
- Primeiros Socorros: Em caso de acidente, mantenha a calma, imobilize a área afetada e procure atendimento médico imediatamente. Não faça torniquetes ou cortes no local da picada.
Limpeza pós alagamentos:
- Produtos recomendados: Utilize água sanitária diluída para desinfecção de superfícies. A solução de uma parte de água sanitária para nove partes de água é eficaz.
- Móveis e roupas: Após a limpeza com água e sabão, aplique a solução desinfetante e deixe agir por 30 minutos antes de enxaguar. Infelizmente, é preciso descartar colchões, móveis estofados e outros não passíveis de limpeza adequada, se atingidos pelas enchentes.
- Limpeza de caixa d’água: Assim que possível, esvazie e limpe sua caixa d’água com água sanitária, seguindo as instruções do fabricante para proporção e tempo de contato.
- Desinfecção de ambientes: Limpe pisos e paredes com solução desinfetante e mantenha o ambiente ventilado.
Equipamentos de Proteção Individual (EPI):
- É muito importante a utilização de EPI ao limpar áreas afetadas pela enchente ou alagamento, para evitar contato com água contaminada.
- São recomendados: Luvas de borracha, botas de borracha, máscaras (preferencialmente PFF2 ou N95) e óculos de proteção, mas proteja-se como for possível.
Acondicionamento do lixo
- O ideal é usar sacos de lixo reforçados para evitar rompimentos.
- Separe o lixo orgânico do reciclável para facilitar o processo de coleta e reciclagem.
- Feche bem os sacos de lixo para evitar o vazamento de resíduos e a atração de vetores de doenças, como ratos e insetos.
- Deposite o lixo em pontos de coleta autorizados. Evite deixar lixo nas ruas, pois pode obstruir bueiros e contribuir para enchentes.
- Se possível, participe de programas de coleta seletiva para reduzir o volume de lixo e promover a reciclagem.
Precauções para o manuseio do lixo
- Lave as mãos com água e sabão após o contato com o lixo.
- Fique atento a sintomas de doenças após o contato com água ou lixo contaminado e procure assistência médica se necessário.
- É essencial manter a responsabilidade ambiental, mesmo em emergências. O correto acondicionamento e destino do lixo doméstico são fundamentais para a saúde pública e para a prevenção de novas enchentes e doenças relacionadas.
Foto Gustavo Vara