Festa com música eletrônica causa reclamações na Zona Rural de Pelotas

Moradores da Cascata, 5º distrito de Pelotas, localizada a cerca de 20 quilômetros do Centro experimentaram no último fim de semana um dos problemas urbanos mais modernos
A zona rural de Pelotas não é mais a mesma. Um local conhecido por trazer uma conexão com a natureza, um refúgio de tranquilidade e paz, agora também é palco para festas “rave”, aquelas onde a música eletrônica atinge níveis inimagináveis de euforia, agitação e decibéis.
O evento que iniciou no sábado (21), às 23h e só terminou depois das 18h de domingo, atraiu milhares de pessoas ao Parque Stone Land. Foi um sucesso, para os organizadores e para o público que prestigiou a “rave”.
Mas também causou muito desconforto aos moradores fixos da Cascata. As reclamações de som altíssimo, algazarras, trânsito desordenado e queima de fogos de artifício, não foram ouvidas pelas autoridades.
Os administradores do Parque Stone Land limitaram-se às repostas nas redes sociais, informando que a festa tinha autorização, alvará e que estava tudo dentro dos limites de decibéis.
O relato dos vizinhos, porém, foi diferente. “Era possível ouvir o som à quilômetros de distância, e não era baixinho. Ninguém dormiu no sábado e durante todo o domingo foi um inferno”, relata uma das moradoras que procurou a reportagem do DM.
Além do som alto, houve queima de fogos de artifício para completar o cenário de perturbação, segundo moradores
A Prefeitura de Pelotas mantém uma página na internet onde salienta e comemora as belezas da Cascata, “um lugar de fé, natureza, descanso…”. Bem diferente do que experimentaram os moradores que escolheram aquela região justamente para escapar dos transtornos da zona urbana.
Outro morador, R.T., enviou um desabafo, que publicamos na íntegra:
“A zona rural já vem sofrendo agressões nas suas características, com desmembramentos irregulares de terras e a criação de loteamentos e condomínios. Fazer uma festa de música eletrônica à beira dos quintais de moradores que já estão aqui há muito tempo é um desrespeito com a própria terra. Em seu perfil, o parque fez pouco caso das reclamações dos moradores, e inclusive a algumas delas respondeu de forma hostil.
O sentido de um parque rural deveria ser o de proporcionar às pessoas a experiência do lugar: apreciar a paisagem, os sons e a cultura local, ajudar a promover uma cultura de respeito ao lugar, à natureza e ao modo de vida da região. E não o contrário: trazer para a zona rural os sons urbanos que agridem a tranquilidade local e o sossego dos moradores é um absurdo. Mas é sempre o apelo da “aventura”. Na verdade, isso não é uma experiência rural e de contato com a cultura local. Pelo contrário. E eles argumentam que defendem a diversidade. Ora, trazer festas rave para localidades rurais, perto de sítios de moradores, não é defender a diversidade. É, pelo contrário, ofender uma comunidade e seu modo de vida e seu lugar, e também a natureza. O turismo rural não pode ser uma exploração.”