HIP-HOP: A dança que movimenta a cidadania
Aos sábados e domingos das 9 ao meio-dia, talentoso B Boy Lasier ministra oficinas em escola na Zona Norte
A ideia teve acolhida da diretora Rosselane Alves de Souza, e a Escola Estadual de Ensino Fundamental Franklin Olivé Leite na Cohab Lindóia, passou a oferecer opções em dança de rua. O projeto, iniciativa do B Boy (dançarino) Lasier, teve início há três anos. Com encontros aos sábados e domingos pela manhã na Zona Norte, diz o coordenador, cerca de cem jovens já participaram da oficina. De acordo com Lasier o estilo é o “b-boying”, uma das ramificações da dança de rua. A prática exige destreza, habilidade, criatividade e dedicação. Além do desempenho técnico, que é proporcionado a crianças e adolescentes entre seis e dezesseis anos, a atividade também movimenta princípios essenciais à cidadania. Assim, o participante recebe explanações acerca de bons valores, tolerância, respeito e boa convivência. Outro item, destaca Lasier, é que o interessado deverá comprovar que está frequentando regularmente a escola. Atualmente, informa o oficineiro, a dança de rua integra o programa “Escola Aberta” na Franklin Olivé Leite.
PERIFERIA – Em 2010, com o fim do grupo “Piratas de Rua”, que durou dez anos, Lasier passou a dedicar-se ao projeto “B Boys Soul Beat”. Ele acalentava a ideia desde os anos noventa. Como expressa a designação, trata-se da dança sob o ritmo do “soul” e a batida da black music. Diante da dificuldade de espaço para ensaios, o então aluno Pablo Gonçalves, que estudava na Escola Franklin, sugeriu que a ideia fosse levada à direção. A diretora Rosselane acatou, e o grupo conseguiu local para ensaiar. Paralelamente, no entanto, também começaram as oficinas para jovens. E Lasier ressalta que o projeto não está limitado a alunos da escola. Conforme tem observado, a chance de dançar tem atraído jovens de variados bairros. Eles pedalam até a Cohab Lindóia, e são orientados para dançar ao ritmo de Afrika Bambaataa e Kool Herc. Alguns já estão ensinando os demais. A exemplo, Pablo (Cohab Lindóia), Bruno (Fragata), Brian (Cohab Lindóia), Lucas (Loteamento Dunas), e Aline (Simões Lopes). Eles, após fase de treinamento, e a experiência como oficineiros, são os integrantes do grupo “B Boys Soul Beat”.
GRUPO, originou-se das oficinas na Escola Estadual Franklin Olivé Leite. Conforme Lasier, o “B Boys Soul Beat” tem participado de eventos no Estado. Entre as apresentações e competições, presença em Bento Gonçalves, Sapiranga, Bagé e Porto Alegre.
A experiência de Lasier orienta em relação à técnica dos movimentos, bem como na criação de coreografias. Embora treine regularmente, menciona que já não participa de apresentações competitivas.
Sem patrocínio, dependendo dos próprios recursos, o grupo supera adversidades para representar Pelotas. E Lasier acrescenta que, como meta neste ano, perspectiva de participação em evento em São Paulo. Ele solicita apoio a quem puder colaborar com a arte urbana.
TRAJETÓRIA – Lasier interessou-se pela black music aos oito anos. Ele acompanhava as músicas que a mãe escutava no rádio. Era a época de Tim Maia e Jair Rodrigues. No centro da cidade, olhava as rodas de “break” com Jair “Brown”, Mabeiker e Mister Pelé. Na Escola Dr. Augusto Simões Lopes, iniciou-se na capoeira com o professor Sinval. Também teve aprendizado com o mestre Farol e Luis. Nalgumas rodas, lembra de dicas do mestre Marquinho Brasil. Adolescente, como fonte para os movimentos da dança, a seção dedicada ao B Boys na revista Rap Brasil. E Lasier lia com atenção sobre o pioneiro Nelson Triunfo, Marcelinho Back Spin e Andrezinho. Com Jorginho, que dispunha de equipamento de som, base para primeiros treinamentos. No campo de futebol do bairro, dicas do B Boy Maicon, Mano e Vanderlei. Em 2000, integrou projeto na ESEF, que abriu espaço à cultura do Hip Hop. Nas oficinas, conheceu “Vovô” Uanderson, Carlos Bento “Jarrão”, “Baiano”, B Boy Zebra, Carlos “Gugu” Eduardo. A experiência gerou frustração pois, após algum tempo, eles souberam que poderiam ter ido dança à França. No entanto, a coordenação do projeto não se empenhou nem comunicou a possibilidade. Na sequência, Vovô que lecionava numa academia de dança, convidou Lasier, Baiano e Jarrão para teste. Eles aprovaram e criaram coreografias de “street dance”. Certa feita, porém, não receberam o valor de R$6 mil referente à premiação no Porto Alegre em Dança. Diante disso, nova frustração, saíram da academia, e fundaram o Piratas de Rua – nome sugerido pelo capoeirista Jarrão. O grupo tornou-se antológico na cidade, e participou de inúmeros eventos. Atualmente, Lasier é instrutor de defesa pessoal no Centro de Formação de Vigilantes Lameirão, ministra aulas de dança, capoeira e Hapkido.
Por Carlos Cogoy